A uma semana das eleições, é o tudo por tudo da coligação no apelo ao voto dos eleitores descontentes com os últimos quatro anos de austeridade. Numa altura em que António Costa vira à esquerda para captar votos naquela área, Passos e Portas aproveitam a deixa e apostam tudo no centro. Pensionistas, funcionários públicos, desempregados e a classe média mais castigada vão passar a ser o centro das atenções. “Vamos passar a dar exemplos mais práticos do tipo de medidas que queremos tomar”, diz fonte da campanha. A nova meta é só uma: o combate à abstenção, que é “o adversário que falta vencer”, como descreveu, esta tarde em Guimarães, o deputado Telmo Correia.

Falando num almoço “repleto de simbologia” em Guimarães, por ser precisamente no local onde PSD e CDS assinaram, em maio, o acordo formal de coligação pré-eleitoral, Passos Coelho começou por admitir que sabe que “nem todos se reconciliaram” com o Governo e que muitos “ainda estão a refletir e a ponderar sobre se vale ou não a pena ir votar”. E por isso falou inteiramente para esses, tentando fazer as pazes.

“Já lhes disse que o que fazemos não são promessas vagas, porque nós já estamos mesmo a fazer diferente no país. O país já está a recuperar desde 2013”, disse, apelando ao argumento das provas dadas.

Depois, falou ao ouvido de cada um. Primeiro dos aposentados, “que pagaram uma grande fatia dessas dificuldades”, mas que sabem que “já não estamos na fase de emergência financeira” e que, por isso, vão ser dos primeiros a ser beneficiados. Depois, aos jovens que estão a tentar formar o seu “direito a ter uma pensão” mas que “têm dificuldades em acreditar” que no futuro vão conseguir receber aquilo que lhes será devido. E por fim, aos funcionários públicos, “que pagaram um preço elevado pelo desequilíbrio das contas do Estado”.”Ainda nem tínhamos chegado ao Governo e já os salários tinham sido reduzidos. É essa medida [os cortes salariais] que nós já estamos a remover agora em 2015, e que vamos continuar durante a próxima legislatura de modo a poder restaurar os rendimentos de todos os funcionários públicos”, garantiu.

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Depois de uma primeira semana de campanha, a centrar o ataque no programa do PS, numa estratégia que culminou na sexta-feira com Passos a materializar o discurso do medo da instabilidade governativa que virá caso não saia das eleições uma maioria “positiva” no Parlamento, agora a coligação entra numa nova fase de promessa de melhores condições de vida no futuro. O combate às “desigualdades sociais” e a aposta nas políticas familiares e de incentivo à natalidade passam a ser o foco do discurso.

Para já, em Guimarães, fica o reforço de uma primeira promessa já anunciada: a remoção da sobretaxa de IRS que, não podendo ser devolvida na totalidade, será respeitado o “compromisso fiscal”, isto é, será tanto maior quanto maior for a receita fiscal proveniente do IVA e do IRS no próximo ano. “Tudo o que vier a mais [para o Estado] será devolvido aos contribuintes”, prometeu.

Também Paulo Portas, a alinhar na estratégia pensada, dirigiu a sua intervenção em Guimarães aos “eleitores do centro” e aos que “se estão a inclinar para dar um voto de confiança à coligação”, fazendo-lhes uma pergunta direta: “Estará Portugal em altura de correr riscos ou de se meter em aventuras? Ou este é o momento para consolidar, dar confiança e recuperar para termos quatro anos bem melhores?”

Alerta: “As sondagens não votam”

Apesar de (ou precisamente por isso) as sondagens apontarem para a vitória da coligação, Passos sabe que “não são as sondagens que votam”, e por isso teme que o feitiço se vire contra o feiticeiro. Mas tudo parece estar a correr como planeado na campanha da coligação, que tem bem definidas as metas diárias ou semanais de mensagem a passar.

Os números das intenções de voto, para já, dão impulso no contacto com as populações que Passos e Portas têm mantido diariamente nas várias paragens da caravana. Esta manhã, primeiro em Vizela, depois no centro histórico de Guimarães, a mobilização de bandeiras azuis e laranja foi visível e Passos agradeceu, do alto de um degrau, falando ao microfone.

Se fosse pelas sondagens, aparentemente Passos e Portas já estavam na frente, de “alma cheia” e com o “rei na barriga”. Mas não. É preciso lembrar que “as sondagens não votam”, quem vota são as pessoas, no dia 4, e por isso o que importa agora é convencê-las a fazê-lo. “Nós não comentamos as sondagens, olhamos para elas com muita atenção, mas não são as sondagens que votam. Quem vota são os portugueses. E daqui até às eleições nós andamos com a alma cheia com o apoio que sentimos no país mas não andamos com o rei na barriga. Porque sabemos que as eleições se ganham em Portugal no dia 4 de outubro e é para esse dia que estamos a trabalhar”, disse Passos perante uma audiência vasta de apoiantes nas ruas de Guimarães.

As eleições são uma “escolha” e o objetivo, disse-o claramente, é conseguir “uma maioria grande e boa”. A palavra “absoluta”, contudo, não se ouviu, mas estava lá.