António Costa só joga (em público, pelo menos) no tabuleiro do cenário de vitória e na cabeça já tem o plano que quer pôr em prática a seguir: “Formar governo” e aprovar o Orçamento até ao final do ano. Sim, mas como? Se vencer sem maioria absoluta, a fórmula de Governo passa por negociações à esquerda e à direita com “acordos pontuais”, diz ao Observador. E não por uma solução permanente: “Coligação não se coloca”.
Apesar de continuar a pedir a maioria absoluta, as sondagens dizem-lhe que essa é uma miragem e que, na melhor das hipóteses, ganhará por maioria relativa. Mesmo que nos bastidores se conjecture sobre uma derrota eleitoral, Costa nem quer ouvir falar dela. Oficialmente, e independentemente do que digam as sondagens, o partido prepara o terreno para uma maioria relativa e aposta fichas nas provas dadas pelo candidato de como governar sem ter a maioria dos deputados e fazendo o contraponto com a direita que, acredita, se esgota nos dois partidos da coligação. Unir-se aos partidos da coligação está posto de parte pelo próprio, resta-lhe a possibilidade de acordos no Parlamento para fazer passar medidas negociando quer à esquerda, quer à direita.
“António Costa terá um governo e um orçamento viabilizado porque vai negociar”, diz fonte próxima de Costa. Ou seja, no dia a seguir, o socialista não procurará acordos permanentes, mas projetar no país o que fez em Lisboa, onde, por exemplo, negociou a reforma fiscal e a reforma administrativa com o PSD e conseguiu acordos com os bloquistas (o primeiro acordo com José Sá Fernandes ainda foi como vereador eleito pelo BE). Tem sido o próprio António Costa a dizer que quer Governar como autarca, mas agora “numa autarquia um bocadinho maior”. Acresce ainda que no passado, o socialista traz no bolso as negociações dos governos de Guterres. Opção de Costa: um governo de geometria variável que na hora de negociar, tanto pode virar-se à esquerda como à direita: negociará umas medidas com uns, outra com outros. “Costa não tem bloqueios”, acrescenta a mesma fonte.
Se vencer, a primeira negociação é talvez a mais difícil: o Orçamento do Estado. E no PS a intenção é aprová-lo até ao final do ano. Para isso, João Tiago Silveira tem reunido com algumas associações e parceiros sociais para preparar não só o Orçamento, como noticiou o Económico, como os primeiros 180 dias de Governo, acrescentou fonte do PS ao Observador, que conta ainda que durante esta semana já houve mais encontros.
Dois cenários: acordo com o BE e ganhar ao… PSD
A vida de Costa está mais dificultada ou mais facilitada consoante os resultados eleitorais. O Livre já desafiou o PS para formar um bloco à esquerda, mas nem é certo que o partido de Rui Tavares eleja ou sequer que eleja em número suficiente para fazer diferença. Nesta equação à esquerda, contam sobretudo o PCP e o BE, que teve uma subida nas sondagens muito devido à prestação de Catarina Martins nos debates. E será possível que Costa tente um acordo (mesmo que só parlamentar) com o Bloco, se isso chegar para superar os deputados da direita? Na caravana socialista há quem admita que sim. Oficialmente, nem palavra sobre o tabu que nasceu com o Expresso da última semana.
No PS, há quem lembre a “disponibilidade” da líder do BE para falar com António Costa. Mas também há quem lembre as “condições” impostas para início de conversa: o PS abdicar da descida da TSU, abdicar do mecanismo conciliatório e abdicar do congelamento das pensões (que a deputada insistiu em chamar corte). Além, claro da renegociação da dívida, explícita no programa bloquista mas de fora do desafio feito por Catarina Martins no debate entre os dois.
De resto, todos os cenários estão em aberto sobre o que pode sair da noite eleitoral. Esta sexta-feira, o dirigente do PS Pedro Bacelar Vasconcelos defendeu a tese polémica de Vital Moreira: que o Presidente da República deve chamar para formar Governo o partido que conseguir mais deputados – e que isso é entre PS e PSD e não entre PS e coligação. “Por lei, a coligação é pré-eleitoral e dissolve-se no dia a seguir às eleições”, afirmou ao Observador Bacelar Vasconcelos, que é também constitucionalista.
Quem perde sai? Não é seguro
Mas no caos da campanha e na incerteza absoluta de resultados, há quem fale até da possibilidade de uma negociação com o CDS. “O que vai fazer Paulo Portas no dia a seguir?”, pergunta um socialista em conversa com o Observador. Na prática, para este socialista do núcleo duro de Costa, no dia a seguir às eleições haverá uma dissolução da coligação e não é líquido que num cenário de vitória do PS, Costa não consiga negociar com o partido de Paulo Portas. A mesma ideia foi aliás transmitida por Pedro Adão e Silva, comentador e ex-dirigente do PS, num programa na SIC-Notícias.
Perder é um cenário que nem quer ouvir falar, mas isso não impede que nas suas costas se trabalhem em sucessões. Para Costa “o cenário é o de vitória. Não se equaciona essa questão de sair ou não”, dando a entender, na conversa com o Observador, que não sai se tiver uma derrota por poucochinho. Também na SIC-Notícias, esta terça-feira, António Vitorino falou do cenário. Para dizer-se “contra” a ideia de que “um líder que perde tem que sair”. Vitorino, que dias antes tinha estado num comício do PS, admitiu que as circunstâncias serão mais difíceis para Costa (porque as expectativas eram altas), mas não quis fechar cenários. “Não quero com isto tirar conclusões”.