Tutankhamon é um dos faraós egípcios mais famosos da história. Se existem ainda muitas dúvidas sobre a sua vida, sobre a sua morte não serão menos. O historiador José-R. Pérez-Accino do Departamento de História Antiga da Faculdade de Geografia e História da Universidade Complutense de Madrid, escreve no El País algumas teorias sobre a morte do faraó.

O historiador conta que a morte deste faraó talvez não suscitasse tanta curiosidade se ele não tivesse perdido a vida tão novo, aos 18 anos, e se em 1922 o arqueólogo inglês Howard Carter não tivesse encontrado a sepultura de Tutankamon, localizada numa pirâmide em Vale dos Reis, intacta. Mas não foi apenas o sarcófago onde estava a múmia do faraó que surpreendeu, diz o historiador, já que ao seu lado foram encontrados muitos tesouros, que foram fotografados, devidamente inventariados e colocados mais tarde no Museu Egípcio, no Cairo.

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O arqueólogo Howard Carter junto ao sarcófago de Tutankhamon, em 1924.

Embora a localização da múmia de Tutankhamon não fosse de fácil acesso, ela foi analisada e alvo de inúmeras observações, a primeira de todas imediatamente no ano da sua descoberta. José-R. Pérez-Accino esclarece que o objetivo era descobrir as causas prováveis da morte do faraó egípcio. Apesar da sua morte precoce, o jovem faraó não consegue até hoje aproveitar o eterno descanso. Mas afinal Tutankhamon morreu de quê? O historiador espanhol tenta esclarecer.

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A família de Tutankhamon tinha um nível elevado de consanguinidade, o que pode ter contribuído para as causas da sua morte.

“Os pais do faraó eram irmãos e este facto aumenta a possibilidade de Tutankhamon sofrer as consequências da endogamia (que resulta do enlace entre indivíduos da mesma família). A verdade é que a herança incestuosa do faraó egípcio poderá ter afetado o seu desenvolvimento, as suas características físicas e provocar malformações no corpo do jovem faraó (…) O rei sofria da doença de Kohler, uma doença óssea, que neste caso afetava o osso do pé e que impedia um fornecimento suficiente de sangue, provocando dor, inchaço e diminuindo a capacidade de mobilidade (…)Para além disso, o faraó sofria ainda de um curvatura na coluna vertebral que provavelmente tinha a sua origem nas malformações”, esclarece o historiador.

Embora esta doença afetasse o rei, não seria suficiente para estar na origem da sua morte.  Mas esse não era o seu único problema de saúde.

Tutankhamon sofreu de malária crónica e foi repetidamente infetado pelos mosquitos, os portadores da doença. A malária pode desencadear problemas circulatórios graves, ser fatal e que sobretudo no caso do faraó, terá reduzido o seu sistema imunológico, conta José-R. Pérez-Accino

“As especulações sobre a morte do faraó são bastantes e, não poderia faltar uma tese de assassinato, que inevitavelmente coloca uma carga dramática na história”, revela o historiador.

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A máscara de ouro do famoso faraó pode ser visto no Museu do Cairo.

Quando Howard Carter abriu o sarcófago, percebeu que algumas lesões identificadas na múmia aconteceram já depois da sua morte. O crânio tinha uma fratura, consistente com uma pancada, que levantava os rumores de homícidio ou que simplesmente poderia ter sido provocada por algum arqueólogo menos cuidadoso,

“Para além de todos os problemas do faraó já descobertos, eis que em 2005 uma análise revelou que Tutankhamon terá partido uma perna antes da sua morte, um problema que se terá complicado e provocado uma grave infeção que enfraqueceu o corpo de um rei já debilitado com a malária crónica”, diz o historiador.

Já em 2013 surge uma nova versão, que conclui que Tutankhamon terá tido um acidente de carro, sofrendo lesões em toda a sua parte parte lateral direita, sendo que depois disso surgiram novas análises que consideram que essas lesões aconteceram já depois da morte do faraó.

De que morreu Tutankhamon? É difícil responder à pergunta, já que as possibilidades são infinitas e parecem não se esgotar. O historiador  José-R. Pérez-Accino  explica que apenas sabemos que Tutankhamon foi um jovem com pouca sorte e que teve realmente poucos anos de vida. Nasceu, à partida, condicionado pela carga genética, mas a era em que viveu também não ajudou. O historiador acrescenta que no antigo Egito, as condições de higiene podiam ser escassas ou mesmo inexistentes, de tal maneira que uma qualquer infeção bacteriana ou viral, considerada hoje razoavelmente normal, pode ter provocado sérias complicações graves que poderão ter ditado o fim trágico do famoso faraó.