O artista plástico Julião Sarmento rejeita identificar-se como colecionador, assume-se como “alguém que junta coisas”, e revela que quase todas as obras da coleção privada foram trocadas ou oferecidas.

“Afinidades Eletivas. Julião Sarmento colecionador” é o título da exposição, com curadoria de Delfim Sardo, que será repartida pelo Museu da Eletricidade, a partir de hoje, às 18:30, até 03 de janeiro de 2016, e a Fundação Carmona e Costa, também em Lisboa, do próximo domingo, ao primeiro fim de semana do próximo ano.

Fruto de uma parceria entre a Fundação EDP e a Fundação Carmona e Costa, a exposição mostra 300 obras de uma centena de artistas da coleção particular de Julião Sarmento, menos de metade da coleção total, segundo declarações do curador aos jornalistas, durante uma visita guiada à exposição patente ao público a partir de sexta-feira.

“Eu não sou um colecionador. Sou um artista que junta coisas. Comecei no liceu, com um desenho que troquei com o João Maria Mendes, o meu maior amigo naquele tempo, e que desenhava muito bem”, disse Julião Sarmento.

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Delfim Sardo definiu Julião Sarmento como “um recoletor ou respigador de imagens de livros, de filmes e de obras de outros artistas”.

A exposição é, sobretudo, de “afinidades eletivas”, e começa com um desenho criado pelo pai do artista, Julião José Sena Sarmento, a única exigência do autor para abrir a mostra: “O meu pai não era artista, mas desenhava muito bem, e este é o único desenho que me ficou dele”.

São obras em pintura, objetos, instalações, vídeos e esculturas de artistas portugueses e estrangeiros, que Julião Sarmento conheceu, fez amizade ou com quem conviveu nalgum momento da vida e trocou por peças da sua autoria, ou foram oferecidas.

Só cinco por cento das obras foram compradas, “em suaves prestações”, segundo o artista, que disse ainda nunca ter vendido nenhuma e gostar de todas, sem preferências: “Não gosto mais ou menos de nenhuma. Quando gosto é sempre da mesma forma. Tal como gosto de todos os meus filhos”.

Criada ao longo de mais três décadas, a coleção inclui obras de Joaquim Rodrigo, de quem Sarmento foi assistente, um retrato do artista feito por Miguel Barceló, que possui também o próprio retrato, criado pelo autor português.

Outros portugueses cruzaram a vida de Sarmento: De Álvaro Lapa, pode ver-se “Que horas são que horas (Os deuses antigos)”, de 1974; de Eduardo Batarda, “Thumbnails e Modelos”, de 2013; de Jorge Molder, “Mão tem de me dizer seja o que for”, de 2011; de Rui Chafes, “Vertigem V”, de 1988-1989; de Rui Sanches, “Julisa”, de 1996; de Fernando Calhau, seis peças em placas de aço quinado, de 1991.

Artistas estrangeiros também estão incluídos, como “Committee” (2000), de Andy Warhol, uma peça ‘sem título’, de Cindy Sherman (1990-1991), “Jimmy Paulette on David´s bike” (1991), de Nan Goldin, “Monocromo Japonês” (2000), da brasileira Adriana Varejão, ou “Dragon Head 6” (1989), de Marina Abramovic.

Questionado pela agência Lusa sobre se as obras estão habitualmente guardadas, Julião Sarmento disse que há várias cedidas a museus, como o da Gulbenkian, em Lisboa, e Serralves, no Porto, e recebe muitos pedidos para exposições em todo o mundo.

Para o artista, “é uma sensação muito boa partilhar com o público” este testemunho de uma rede de contactos e de colaborações artísticas, de amizades e de afinidades criadas, sobretudo entre 1960 e 2010.

Na galeria da Fundação Carmona e Costa vai ser apresentado um núcleo composto por trabalhos de desenho e gravura, de Pierre Bonnard a Marcel Duchamp.