A líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, começou a ser julgada por incitamento ao ódio, afirmando à chegada ao tribunal que não cometeu “nenhuma infração” quando comparou as orações de rua à ocupação nazi de França.
“Não cometi nenhuma infração”, disse Le Pen, líder da Frente Nacional (FN), ao chegar ao tribunal para a primeira audiência do julgamento, no qual, se for considerada culpada, pode ser condenada a uma pena de prisão de até um ano e a uma multa de 45.000 euros. Em declarações à imprensa à chegada ao tribunal de Lyon (oeste), a dirigente partidária afirmou que o julgamento é “político” e visa prejudicá-la eleitoralmente.
“Não vos parece estranho este calendário? Estamos a um mês de uma eleição regional e este caso tem cinco anos!”, disse, referindo-se às eleições de dezembro, para as quais é dada como favorita na região do norte em que encabeça a lista da FN. As declarações pelas quais está a ser julgada remontam a 2010, quando fazia campanha para suceder ao pai, Jean-Marie Le Pen, líder histórico da extrema-direita francesa, entretanto afastado do partido pela filha.
Numa reunião pública com militantes em Lyon, a então candidata a líder da FN comparou as “orações de rua” dos muçulmanos em França à ocupação do país pelo regime nazi entre 1940 e 1944. “Lamento, mas aqueles que gostam muito de falar da II Guerra Mundial, se vamos falar de ocupação, podemos falar disso, porque isto [as orações muçulmanas na rua] é uma ocupação do território”, disse.
“É uma ocupação de zonas, de bairros onde a lei islâmica é aplicada. É verdade que não há blindados nem soldados, mas é uma ocupação na mesma e ela pesa sobre os habitantes”, acrescentou.
Hoje, depois de se dizer convicta da sua inocência, reiterou o que disse em 2010: “As orações de rua são uma ilegalidade. São uma forma de se apropriar (…) de um território para aí impor uma lei religiosa. Como responsável política, tenho o direito de evocar uma questão fundamental. É mesmo um dever”.
Marine Le Pen, que já foi alvo de processos por difamação mas nunca antes por incitamento ao ódio, afirmou que, se for condenada, isso provocará “indignação no povo francês”.