Depois de dias de especulação e já depois de ter originado uma crise interna no Partido Trabalhista, o líder do Labour tomou a decisão de não impor disciplina de voto na votação em que será decidido se o Reino Unido deve ou não bombardear o autoproclamado Estado Islâmico.
Segundo o The Guardian, a decisão vai ser anunciada aos militantes do Partido Trabalhista às 18h00 de segunda-feira, para surpresa de alguns. Ainda na véspera Jeremy Corbyn deixou entender que podia vir a impor a disciplina de voto, depois de ter dito numa entrevista à BBC que “é o líder que decide”.
A discórdia em relação a este tema tornou-se num tema sensível dentro das esferas mais altas dos trabalhistas.
De um lado está Jeremy Corbyn, que no seu historial de deputado desde 1983 tem o hábito de se opor a intervenções militares, com especial ênfase à guerra no Iraque de 2003. Agora, depois de o primeiro-ministro David Cameron ter feito um discurso a apelar à entrada do Reino Unido na coligação contra o EI, Corbyn disse não acreditar que “a proposta do primeiro ministro para bombardear a Síria protegerá a nossa segurança e consequentemente não consigo apoiá-la”.
Do outro estão pelo menos dois ministros-sombra do Partido Trabalhista, incluindo Hilary Benn, o responsável pela pasta dos negócios estrangeiros daquela que é a maior força da oposição dentro do parlamento britânico. “Temos ouvido argumentos persuasivos tanto por causa da ameaça ao Reino Unido como a favor de aproveitarmos a ação que temos no Iraque para apoiarmos o governo iraquiano a evitar uma invasão por parte do EI“, disse Benn.
Também a ministra-sombra do Emprego, Emily Thornberry, admitiu que a discussão dentro do governo-sombra tem sido “brutalmente honesta” e chegou a apelar a que os deputados trabalhistas desrespeitassem a disciplina de voto caso esta fosse imposta: “A guerra é um assunto sobre o qual as pessoas têm de pensar profundamente. Geralmente agimos de forma coletiva, mas acho que em assuntos como este há situações em que as pessoas não podem respeitar a disciplina de voto quando ela é imposta“.
Esse já não será um problema que Corbyn terá de enfrentar — embora a eliminação da disciplina de voto neste assunto não apague o facto de várias figuras dos trabalhistas estarem prontos a votar a favor de Cameron e contra o seu próprio partido.
O líder do trabalhista já tinha sido alvo de críticas quando, poucos dias depois dos atentados de Paris, ocorridos a 13 de novembro, ter criticado a maneira como a polícia lidou com os terroristas: “Não me agrada esta prática geral de atirar para matar. Penso que é muito perigosa e muitas vezes pode ser contra-produtiva”.
Já nessa altura, Hilary Benn foi chamado a comentar as declarações de Corbyn, dizendo que “não [podia] falar pelo Jeremy” mas, ao mesmo tempo, deixando uma opinião contrária à do líder do seu partido: “Para mim é claro que há uma ameaça à vida… E os procedimentos dizem que é perfeitamente razoável que nessas circunstâncias, para prevenir a perda de vidas, que se use a força de forma letal“.