Ground control to major Nóvoa: é preciso povo na campanha. O próprio candidato o admite, lamentando a imagem que lhe tentam colar de pessoa fria, distante e pouco comunicativa. “Eu sou uma pessoa que sempre, toda a vida, conviveu nos meios populares. Mas como fui reitor…”

Querem povo? É povo que vão ter. Ao segundo dia, a campanha SNAP preenche a agenda com dois territórios que o candidato conhece bem (sedes de campanha e visita a um campus de biotecnologia) e acrescenta-lhe um em que ainda não o tínhamos visto: a rua.

E a primeira rua do dia não era uma qualquer, era a feira de Espinho. Sampaio da Nóvoa não tem a experiência e a destreza na arte da fuga do Paulinho das Feiras, mas não pode queixar-se desta incursão ao mundo da venda de frutas, legumes, latoaria, tapetes e afins. Em Espinho, o candidato distribuiu sorrisos, beijinhos, abraços e apertos de mão e, embora alguns admitissem que não sabiam quem ele era, outros tantos deram-lhe palavras de incentivo. “Então não sabemos quem é? É o Sampaio da Nóvoa!”, dizia, no típico estilo nortenho, uma das muitas vendedoras de hortaliça que o candidato cumprimentou.

A passagem do ex-reitor pela feira não parece ter passado despercebida a ninguém. Uns comentavam, alto e bom som, que os políticos “são todos iguais”, outros comparavam Nóvoa a Pinto da Costa (“sempre a ganhar!”) e outros ainda abordavam a caravana para expor problemas concretos e queixar-se de que os portugueses vivem “na miséria maior do mundo”. Sempre a sorrir, Nóvoa disse a todos para terem esperança, que está aí “um tempo novo” e que as coisas vão mudar. Se a intenção era alongar o discurso, a chuva logo veio arrepiar o passeio.

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Paragem seguinte: Oliveira de Azeméis, numa circunstância tirada a papel químico do primeiro dia de campanha, que foi preenchido com inaugurações de sedes de candidatura. Além de Oliveira de Azeméis, o candidato ainda haveria de cortar a fita a mais uma sede (a de Coimbra) e de dar uma bênção a outra (a de Cantanhede).

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Foi ali, à saída do reduzido espaço onde as tropas da terra se vão concentrar nos próximos dias, que Nóvoa declarou guerra à abstenção. E a Marcelo, pois claro. O ex-comentador foi para o frente a frente da semana passada criticar o facto de o ex-reitor querer passar diretamente de soldado raso a general. Sampaio da Nóvoa respondeu esta segunda-feira, já em Coimbra: “Somos todos iguais perante a lei. Qualquer soldado raso pode chegar a general.”

Alheias a tricas políticas, as crianças da creche da Santa Casa da Misericórdia local lá falaram com um senhor barbudo e de cabelos brancos que desabafou a dada altura que tinha “saudades de bebés” e que não se intimidou perante a gritaria dos mais pequenos. “Como te chamas? Vasco? Força, força, companheiro Vasco”, brincou, enquanto agarrava um incrédulo menino ao colo.

Num dia em que os discursos ficaram em segundo plano face às conversas com os eleitores na rua, Nóvoa foi camaleónico ao ponto de estar na Capela de São Gonçalinho, em Aveiro, a atirar cavacas aos apoiantes e, logo a seguir, estar num campus de biotecnologia em Cantanhede a quase vestir de novo a pele de professor universitário.

Por falar em camaleões, no dia em que o maior deles morreu, o jantar-comício em Coimbra começou e acabou ao som de David Bowie. “Changes” foi a banda-sonora escolhida para a entrada de Sampaio da Nóvoa e, já depois dos discursos, foi “Let’s dance” a animar as hostes. Ground control to major Nóvoa: faltam 13 dias para a dança acabar.