“Vou continuar a trabalhar para fechar a prisão de Guantánamo. É cara, desnecessária e serve apenas como um ponto de recrutamento para os nossos inimigos.” Barack Obama não podia ter sido mais claro, na passada semana, quando, pela última vez, ficou de pé enquanto os restantes presentes permaneciam sentados, a ouvi-lo. O presidente dos EUA, a contar o tempo para deixar o cargo (será em novembro), ia discursar pela última vez num debate do Estado da Nação, em Washington, e quis frisar o empenho em fechar a prisão que, há 14 anos, o país abriu em Cuba. Algo que tenta fazer desde 2008. Aquelas palavras, portanto, deveriam ser música para os ouvidos dos prisioneiros.

Quando Obama falou, contavam-se 103 homens enclausurados em Guantánamo, na prisão que os EUA construíram no interior da base militar que, em 1903, passaram a gerir. Hoje já só estão lá 91 reclusos e podiam ser 90, não fosse a resiliência de Muhammad Bawazir. Este homem era um dos dez cidadãos iemenitas que, a 14 de janeiro, a Casa Branca anunciou que iam ser transferidos para países do Médio Oriente. Mas, esta quarta-feira, não quis embarcar no avião que aterrou na base para o tirar dali.

A pergunta só pode ser uma: porquê? O homem, de 35 anos, ter-se-á recusado a ser acolhido no país com o qual os EUA conseguiram firmar um acordo para a transferência do iemenita. Algo que deixou o seu advogado, John Chandler, incrédulo. “Não consigo explicar a lógica da sua decisão. Está aterrorizado por ter de ir para um país onde não tem apoio garantido. É um país para onde eu iria sem duvidar por um segundo”, admitiu, citado pela BBC, sem revelar a nação em causa.

Muhammad Bawazir, que está em Guantánamo, alegadamente, desde a criação da prisão, não pretendia regressar ao Iémen pois já não terá lá qualquer familiar. Como tal, o recluso pretendia ser transferido para os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita ou a Indonésia, país com os quais a administração norte-americana não logrou firmar acordos diplomáticos. “Disse-lhe que, na minha opinião, é provável que ele esteja nesse país, num lugar bom, na altura em que a administração de Obama cessar funções. Agora, só Deus sabe o vai acontecer”, contou o advogado, ao The Guardian.

Bawazir tinha 21 anos quando chegou a Guantánamo, proveniente do Afeganistão. Já protagonizou várias greves de fome, em protesto contra o tratamento dos guardas prisionais e disparidade em relação a outros reclusos. Tariq el-Sawah, por exemplo, um egípcio cuja transferência se realizou esta quarta-feira, tinha direito a televisão, jardim privado e comida especial na cela, por ter prestado, ao longo dos anos, várias informações às autoridades, descreveu o jornal britânico. “Engordaram-no com cheeseburguers”, resumiu um dos guardas, sob anonimato.

O encerramento da prisão de Guantánamo sempre foi uma das bandeiras da presidência de Barack Obama. No total, já passaram 780 reclusos pelas instalações, de acordo com o The New York Times, que vai mantendo atualizada uma listagem dos prisioneiros. O líder norte-americano cortou o número de prisioneiros dos 241 para os atuais 91 no período que conta dos dois mandatos na Casa Branca. O objetivo de fechar a prisão sempre enfrentou grande oposição no Congresso norte-americano. Um dos principais entraves, contudo, foi sempre a dificuldades em chegar a acordo com país e até estados norte-americanos para acolherem, nas suas prisões, os reclusos de Guantánamo.

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