Depois de se ter encontrado com o secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, o Presidente do Governo espanhol em funções e líder do Partido Popular, Mariano Rajoy, voltou a insistir que é ele e o seu partido quem deve liderar o próximo governo espanhol. Algo que Sánchez não está disposto a permitir: “Eu digo desde 20 de dezembro que não vamos fazer parte de nenhum governo com o PP”.
Fica, assim, mais do que confirmado o bloqueio para um pacto entre o PP e o PSOE — Sánchez não está disposto a permiti-lo, por mais que Rajoy o peça.
“O mais sensato neste momento para Espanha é haver um Governo presidido pelo PP, nem que seja pela razão de ter tido mais votos do que os outros partidos”, disse Rajoy na conferência de imprensa que se seguiu à reunião de apenas 25 minutos. Este governo, porém, terá sempre de contar com um apoio amplo dentro do Congresso dos Deputados, para qual necessitará de outros partidos. Quanto a isto, nada de novo no discurso de Rajoy, que voltou a insistir na mesma fórmula que tem vindo a defender desde o impasse provocado pelas eleições de 20 de dezembro de 2015: “Um pacto PP, PSOE e Ciudadanos é o melhor para Espanha”.
Falando em “pactos”, é precisamente por eles que passa o documento que Mariano Rajoy apresentou ontem ao líder do Ciudadanos, Albert Rivera, em mãos durante uma reunião entre os dois (a segunda desde as eleições) e que também fez chegar a Pedro Sánchez. O documento contém cinco pactos, incluindo assuntos que vão desde a economia ao Estado social. Segundo Rajoy, Sánchez não se pronunciou de forma conclusiva sobre esse programa: “Não fez nenhum juízo de valor sobre o documento que lhe enviei ontem”.
Rajoy alerta para risco de perder “esforço dos últimos anos”
Rajoy alertou ainda para um cenário em que Espanha pode “ficar mal”, aludindo ao “grande esforço nos últimos dois anos”:
Fizemos um grande esforço nos últimos dois anos. A economia tem um crescimento claro e criámos emprego (…). Já não estamos ameaçados por um resgate (…). Mas quero dizer que, como tantas coisas na vida, quando as decisões que tomamos não são as acertadas, podemos deixar de estar bem e ficar mal.”
Neste momento, é Pedro Sánchez quem tem a ordem do rei Filipe VI para formar governo. Quanto a essa possibilidade, para a qual Sánchez também precisaria do apoio do Partido Popular (a não ser que se vire à esquerda e pactue com o Podemos), Rajoy disse que não foi feito nenhum pedido: “Nem me pediu o meu apoio, nem me pediu que o ajudasse com nada”.
“Em Portugal as forças da mudança entenderam-se”
“Queremos um governo progressista e reformista”, insistiu Pedro Sánchez, repetindo uma expressão frequente no seu discurso desde 20 de dezembro. E falou de Portugal, onde esteve de visita a 7 de janeiro: “Em Portugal as forças da mudança entenderam-se (…). A pergunta que se deve fazer é se é possível fazer essa mudança em Espanha ou não (…). Creio que depois desta semana longa de negociações, há a possibilidade de formar esse governo progressista”.
De resto, Sánchez disse que espera chegar a uma solução para breve: “No final do mês, espero ter um acordo que me permite formar o governo que os espanhóis precisam”. Leia-se, antes de 13 de março, a data limite para haver um governo antes de serem convocadas novas eleições.
Para chegar a esse “governo progressista”, por oposição a uma solução que incluísse o PP, Sánchez teria de chegar a acordo com o Podemos. Quanto a isso, é sabido que o partido de Pablo Iglesias se prepara para fazer chegar aos socialistas um conjunto de propostas. E Sánchez está disposto a lê-las: “Estou à espera da proposta do senhor Iglesias e depois espero que possamos falar na mesa de negociações que oferecemos desde o primeiro minuto”. Mas também o Ciudadanos se pode sentar nessa mesma mesa. “Aquilo que se decide não é se vamos com o Ciudadanos ou com o Podemos. O que se decide é se há mudança política ou não”, disse Sánchez.
Sánchez pede “uma liderança nova no PP”
O líder socialista chegou a falar do PP como tendo destino na oposição (“esperamos que tenham o mesmo nível de lealdade na oposição que o PSOE teve nos últimos quatro anos”) e referiu que o partido liderado por Mariano Rajoy deve mudar de direção.
“Creio que é muito importante haver um PP forte e renovado. E penso que a renovação do nosso país também passa por uma liderança nova no PP“, disse Sánchez.
O azedume entre os dois maiores partidos de Espanha — e até há pouco tempo os protagonistas do bipartidarismo que marcou a vida política do país depois da morte do ditador Francisco Franco — faz notar-se de forma evidente. Ainda antes da reunião, o El País escrevia que ambos os líderes estavam “convencidos que de a sua reunião será inútil”.
#Spain – Rajoy and Sánchez met an hour ago, and Rajoy refused to shake hands. (h/t @elmundoes) pic.twitter.com/EEo1cFBxcX
— Vincenzo Scarpetta (@LondonerVince) February 12, 2016
E mesmo antes de a reunião começar, na habitual ronda para fotografias, Rajoy acabou por concretizar a animosidade entre as duas partes quando não cumprimentou Sánchez quando este lhe estendeu a mão. No final da conferência de imprensa, desvalorizou o ocorrido e disse “não tenho inconveniente nenhum em dar-lhe a mão agora à saída”. Sánchez também não quis dar importância ao assunto: “Em privado, Mariano Rajoy apertou-me a mão. Naquele momento provavelmente não viu que eu lhe estendi a mão porque estava a olhar para uma câmera”.
Se por um lado Sánchez procurou não desenvolver mais o tema do aperto de mão (ou a falta dele), a conta oficial do Twitter do PSOE foi na direção contrária. Pouco tempo depois do momento, o PSOE publicava uma fotografia daquele instante e com uma legenda acusatória: “Sabíamos que não era um político decente. Agora sabemos que também não é educado”.
Sabíamos que no era un político decente. Ahora sabemos que tampoco es educado #MarianoEscondeHastaLaMano pic.twitter.com/VFb4oA3t2S
— PSOE (@PSOE) February 12, 2016