As bolsas internacionais estão a ter um arranque de semana positivo, com alguns comentários das autoridades chinesas sobre o valor do renminbi a inspirarem alguma confiança entre os investidores. Num contexto global de maior apetite por ativos vistos como tendo maior risco, a dívida portuguesa está a ver os juros implícitos aliviarem – mantendo a tendência iniciada na tarde de sexta-feira, após os últimos comentários da agência de rating DBRS.

A agência de rating canadiana disse-se “confortável” – “neste momento” – com a nota que atribui a Portugal – a única notação acima de lixo com que Portugal conta. Mas indicou que fará depender qualquer decisão futura da reavaliação que Bruxelas fizer do Orçamento, especificamente em maio. Esta declaração aliviou os receios de que a agência poderia cortar o rating da dívida portuguesa já na próxima revisão, que está pré-agendada para 29 de abril.

Os juros da dívida de Portugal estão a baixar em todos os principais prazos, com a taxa a 10 anos a cair 15 pontos-base para 3,58%. Já na sexta-feira, os juros tinham baixado 37 pontos, depois de chegarem aos 4,44% (máximo de sessão). Em Espanha e Itália, as taxas também estão a cair – entre três e cinco pontos base nos principais prazos.

Ratings de lixo levaram a maior pressão sobre Portugal

GSPT10YR Index (PORTUGUESE GOVER 2016-02-15 09-35-19

Os juros de Portugal estão a aliviar depois de terem subido mais do que Espanha e Itália, devido aos “ratings” de “lixo” e à incerteza em torno do Orçamento para 2016 (gráfico em base 100 nos últimos três meses. Linha amarela, Espanha; linha verde, Itália; linha branca, Portugal).

Em nota distribuída esta manhã pelos clientes, o Commerzbank diz que quer ver “mais alguns dias positivos para confirmar que estamos numa tendência” de alívio duradoura. Ainda assim, o banco diz que “os comentários da DBRS de que está confortável com o rating de Portugal, para já, devem proporcionar algum alívio adicional” dos juros no mercado.

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Por outro lado, o banco receia que “se as condições de mercado continuarem adversas, Portugal possa ser alvo de cortes de rating por parte de [outras] agências que decidam antecipar as suas datas pré-agendadas de atualização dos ratings“. É por isso que o Commerzbank diz que a descida dos juros na sexta-feira e esta segunda-feira é um “alívio frágil“.

As outras agências já consideram a dívida de Portugal um investimento de alto risco, mas, a confirmarem-se cortes de rating para níveis de lixo ainda mais desfavoráveis, isso poderá aumentar a pressão sobre a DBRS – cuja notação permite ao Estado português beneficiar das compras de dívida por parte do BCE no mercado.

Além do anúncio previsto para 29 de abril pela DBRS, as datas que estão agendadas para Portugal são 4 de março na Fitch, 18 de março na S&P e 6 de maio na Moody’s. Mas as agências têm liberdade para tomar decisões fora do calendário previsto, desde que justifiquem porque o fazem.

Morgan Stanley diz que Portugal está sob “stress grave”

Outro banco de investimento influente, o Morgan Stanley, partilha a cautela manifestada pelo Commerzbank. Uma equipa de analistas liderada por Daniele Antonucci enviou uma nota aos clientes, citada pela Bloomberg, em que diz que o mercado português está sob “stress grave”, mais do que os outros países da chamada periferia.

O banco continua “cauteloso” em relação à dívida portuguesa, tendo em conta a volatilidade elevada dos títulos e a falta de liquidez no mercado. O Morgan Stanley diz que a economia está a crescer a um ritmo limitado e que, apesar de as reformas aplicadas terem tido algum efeito, o problema da dívida elevada e do baixo crescimento potencial continuam.

Quanto ao Orçamento do Estado, o Morgan Stanley diz que este cumpre os limites europeus, mas existem um “risco de derrapagens“. Associado a isso está a incerteza sobre “até quando o apoio da extrema esquerda ao governo minoritário irá durar” e o risco de cortes de ratingO Morgan Stanley viu, também, com preocupação a decisão “pouco ortodoxa” de impor perdas aos detentores de dívida senior do Novo Banco.