Isto ainda não acabou. Da última vez que eles estiveram em Paris, ficaram coisas por dizer. O concerto, já o sabemos, foi abruptamente interrompido pelo terror, mas os Eagles of Death Metal disseram logo que não se iam deixar amedrontar e que iam mesmo voltar à capital francesa para terminar o espectáculo. Aconteceu esta terça-feira à noite, na sala de concertos Olympia.
Além de uma multidão de fãs da banda, acorreram à sala muitos sobreviventes do ataque de 13 de novembro e amigos e familiares daqueles que morreram no Bataclan. O mítico clube parisiense só volta a abrir as portas em dezembro mas a banda da Califórnia quis já lembrar a mensagem que deixou aos franceses no dia seguinte aos atentados: “Vive la musique, vive la liberté, vive la France, and vive Eagles of Death Metal“.
Gros pogO à l'Olympia. #EaglesOfDeathMetal en fusion. Public déjanté, puissant. Franchement ça fait plaisir ! pic.twitter.com/w7REF0Owh2
— ???????????????????????????????????? ???????????????? (@GuillaumeAuda) February 16, 2016
A banda foi recebida em êxtase pelas cerca de duas mil pessoas presentes no recinto, rodeado de um grande dispositivo de segurança. Para chegarem ao Olympia, os fãs tiveram de passar por pelo menos três controlos policiais. À entrada, contudo, um mimo. Uma rapariga sorridente com um cartaz oferecia “abraços grátis” a quem quisesse, descreve o Libération. Logo ali, o mesmo jornal encontrou dois sobreviventes do ataque de novembro. “Nós estávamos no Bataclan. Viemos para acabar o concerto.”
Muitos dos que foram ao Olympia ver o fim do concerto levavam muletas ou iam de cadeiras de rodas. Sinais de que as marcas do terror não se apagam facilmente, mas que a música, a vida, se sobrepõe a isso tudo. “Este é o primeiro concerto do resto da minha vida”, conta uma jovem ao Le Monde. Também ela estava no Bataclan com três amigas. Sobreviveram todas, mas a necessidade de recomeçar parece uma constante entre quem veio.
“Bonsoir Paris, estamos prontos!”, gritou Jesse Hughes, o vocalista da banda, ao entrar em palco. Passado um minuto de silêncio e reflexão, os californianos atiraram-se às cordas da guitarra e trouxeram para a Cidade das Luzes os ritmos meio-punk, meio-surf, meio-blues que os caracterizam. No meio da multidão, dezenas de psicólogos estavam de prevenção caso fosse necessário prestar algum tipo de apoio. Os próprios membros da banda choraram diversas vezes.
Olympia… The end #EODM pic.twitter.com/HNj8Cu4cT7
— Ariane Chemin (@ArianeChemin) February 16, 2016
“Já chorámos muito, precisávamos de algo mais”, diz uma rapariga ao Libération. E o mais foi aquilo a que o The Guardian chama uma “catarse de rock’n’roll“, duas horas de música e de celebração. Embrulhado num cachecol com as cores da bandeira francesa, Jesse Hughes fez uma declaração de amor a Paris e, para deixar bem claro que não foi ao Olympia para chorar, acaba o concerto com a orelhuda Brow Sugar, dos Rolling Stones. “Vocês não fazem ideia de como eu vos amo”, gritou Hughes à multidão, antes de ir abraçar os sobreviventes do Bataclan.
Finalmente, três meses depois dos atentados, parece que Paris s’eveille (acorda), como cantava Jacques Dutronc na canção que abriu o concerto do Olympia. Os Eagles of Death Metal atuam em Lisboa no próximo dia 5 de março.