A freira irlandesa de 33 anos, Clare Crockett, está entre as vítimas do sismo no Equador. Morreu enquanto tentava ajudar outras pessoas a escapar da escola onde trabalhava, em Playa Prieta, na província de Manabi.

O corpo da irmã Clare Crockett foi encontrado sob os escombros na segunda-feira, cerca de 36 horas depois de o terramoto de magnitude 7,8 ter atingido a região da costa oeste do país. Outros cinco membros da ordem religiosa Irmãs Servas do Lar da Mãe, todas equatorianas, também estão entre os mortos no maior terramoto desde 1979 a atingir o Equador. Cinco outras foram resgatadas com vida.

“Ela era uma ‘superstar’. Todas as pessoas a adoravam”, disse Emmet Doyle, primo de Clare Crockett, citada pelo Independent. “Ela foi a última irmã a ser encontrada. Ela estava a tentar descer as escadas e a escada colapsou”, continuou. “Morreu como viveu, a ajudar os outros.”

Clare Crockett, viveu em Derry, na Irlanda do Norte, numa altura em que a tensão e a violência entre católicos e protestantes não deixava espaço para acreditar em Deus, refere a Catholic News Agency. “Os católicos que queriam uma Irlanda unida matavam os protestantes e os protestantes que não queriam uma Irlanda unida matavam os católicos. Isso era o que significava para mim ser católica”, disse citada pelo jornal The Irish News. “Deus não tinha qualquer papel na minha vida. Numa sociedade onde prevalecia o ódio, não havia espaço para Deus.”

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Tornar-se freira ou missionária estava certamente longe dos planos durante a adolescência. Queria ser atriz e com 18 anos já tinha tinha tido uma boa dose de diversão e excessos. “Gostava muito de festas. Os meus fins de semana, desde que tinha 16 ou 17 anos, baseavam-se em embebedar-me com amigos. Gastei todo o meu dinheiro em álcool e cigarros”, disse a jovem, citada pelo jornal The Irish News.

Um tributo à irmã Clare disponibilizado na página da ordem religiosa.

Quando uma amiga a convidou para uma viagem a Espanha não hesitou. Contava com mais uma oportunidade para se divertir, mas afinal a viagem era uma peregrinação de 10 dias com pessoas acima dos 40 anos. “Tentei escapar-me, mas o meu nome já estava no bilhete e por isso tive de ir”, escreveu a irmã Clare Crockett num testemunho sobre como encontrou a sua vocação. “Agora vejo que foi a forma de Nossa Senhora me trazer para casa, de volta a ela e ao seu filho.”

A jovem entrou na ordem religiosa em 2001, quando tinha 18 anos, e 10 anos depois fez os votos perpétuos. “Sabia que tinha de deixar tudo para segui-lo. Sabia, com grande clareza, que Ele me estava a pedir que confiasse nele, que pusesse a minha vida nas suas mãos e que tivesse fé”, escreveu a freira. “Nunca deixa de me fascinar a forma como o Senhor funciona nas almas, como Ele pode transformar totalmente as nossas vidas e captura o nosso coração.”

“Agradeço a Deus pela paciência que teve comigo e que ainda tem. Não lhe pergunto porque é que Ele me escolheu, aceito apenas. Dependo totalmente dele e de Nossa Senhora e peço-lhe que me deem a graça de tudo o que queiram que eu seja”, disse Clare Crockett num testemunho, citada pelo jornal Belfast Telegraph.

A ordem religiosa descreve Clare Crocket como: “Uma freira generosa com um dom especial para chegar às crianças e jovens”. No Equador trabalhava como missionária numa escola com 400 crianças onde lhes ensinava música. “Ela escreveu muitas músicas e via isso como uma forma de trazer os outros até Deus, para os ajudar a encontrar o Senhor”, disse a irmã Cristin Camero da mesma ordem religiosa, citada pelo jornal Belfast Telegraph. “Vou lembrar-me das suas piadas, ela era muito engraçada. Conseguia pôr uma sala inteira a rir.”

Um dos familiares disse ao Derry Journal que a situação era inacreditável. “Ela era missionária há 15 anos e correu o mundo a fazer o seu trabalho. Ela era realmente dedicada e estamos muito orgulhosos dela. Estamos devastados com a perda, ela sempre foi o diamante da família.”

Artigo corrigido às 16 horas.