Filipa Abreu tem 21 anos anos e vai para a Grécia na quinta-feira. Vai trabalhar num resort turístico durante seis meses. Conta ao Observador que desde que terminou o curso profissional de turismo que trabalha na área, mas que sente que precisa de “novos desafios”. Foi isso que a levou a fazer as malas para ir para a ilha de Creta. Porquê a Grécia? Por nenhum motivo em especial, na verdade. Porque a primeira empresa a contactá-la era grega. Como? Através da Movinhand, a plataforma de recrutamento além-fronteiras que o grego Andreas Marinopoulos lançou em novembro de 2015 com o irmão Alexis.

“O meu contrato ia acabar e comecei a procurar possibilidades de trabalhar fora de Portugal, porque acho que preciso de novos desafios. Fiz o meu perfil na Movinhand e da mesma forma que eu consigo ver as ofertas, os empregadores conseguem ver quem está na plataforma e escolhem o candidato mais adequado à função. Eles enviaram-me uma mensagem e depois foi tudo muito rápido. Passados dois dias tive uma entrevista via Skype, no dia a seguir já me tinham enviado os contratos de trabalho”, conta ao Observador.

Filipa Abreu é uma das mais de 1.300 pessoas que se inscreveram na Movinhand em Portugal. Andreas Marinopoulos conta ao Observador que Portugal está no top 10 dos países com mais utilizadores e no top 5 dos que tem utilizadores mais ativos na procura de trabalho além-fronteiras. No total, entre novembro de 2015 e março de 2016, Andreas e Alexis conseguiram convencer mais de 15 mil pessoas a inscreverem-se na plataforma que lançaram na Grécia. Objetivo: ajudar as pessoas que não encontram trabalho no seu país a encontrá-lo no estrangeiro.

“Temos muitos amigos com problemas em encontrar trabalho na Grécia. Não estão felizes, não se sentem bem. E a maioria dos nossos amigos que estão empregados não estão numa função adequada às suas competências. Têm mestrados, por exemplo, e estão a receber salários muito baixos para as funções que têm”, conta o grego ao Observador, lembrando que ele e o irmão começaram a trabalhar fora da Europa.

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“Foi assim que a ideia nasceu. Porque achamos que não precisas de estar preso ao teu país de origem. E quando sais és visto um pouco como um traidor. E não é verdade. Nós não acreditamos nisso. Achamos que, sobretudo nos dias de hoje, os jovens não fazem escolhas para a vida. Mudam muito e fazem escolhas de dois em dois anos, por exemplo. Então, porque é que têm de ficar num sítio onde ninguém lhes quer dar dinheiro, onde o valor que têm no mercado está a decair?”, questiona.

A Movinhand é uma plataforma de recrutamento para pessoas que querem trabalhar fora do seu país de origem. Os candidatos introduzem um perfil, as empresas registam-se e podem ter conversas dentro da plataforma, realizar entrevistas e assinar os contratos de trabalho. Sem que seja preciso a pessoa deslocar-se até à empresa. Para quem anda à procura de emprego, a utilização da plataforma é gratuita. Já as cerca de 100 empresas empresas (de 35 países) que andam à procura de candidatos na plataforma pagam uma taxa que pode ir de 195 euros por mês a 449 euros.

“A maior parte dos sites deste género não permite que o candidato tenho um contacto direto com o empregador. Mas achámos que era necessário. Porque quando vais mudar de país tomas uma grande decisão. E é preciso que vás com algumas seguranças. Na Movinhand podes falar diretamente com a pessoa que te vai contratar e o contrato é enviado à distância. Isso dá alguma confiança às pessoas”, conta Andreas. O alojamento e os voos podem ser marcados também na plataforma.

“É uma loucura” a procura de enfermeiros

Por enquanto a Movinhand está centrada em dois setores específicos: o da hospitalidade e cuidados de saúde. E há empresas de toda a Europa, Médio Oriente, sítios mais exóticos como Maldivas ou Índia e Emirados Árabes Unidos. No manifesto que os fundadores assinam no site, lê-se que – para eles – “ter sucesso na carreira não é uma questão de intensidade, mas de equilíbrio: entre risco e segurança, trabalho e divertimento, rotina e mudanças, especialização e curiosidades”.

“Esperávamos encontrar muitas pessoas do sul a quererem ir para o norte, mas reparámos que também existiam muitas pessoas a querer ir para o Reino Unido e Alemanha ou para os Emirados Árabes Unidos. E depois começámos a ver alguns movimentos mais estranhos, como pessoas de Portugal e Espanha a quererem ir para a Grécia ou para o Chipre, no verão”, conta.

Sobre os portugueses que têm aderido à plataforma, conta que a maioria tem entre 20 e 30 e poucos anos, ainda não têm filhos e querem “explorar o mundo”. Alguns já terminaram os estudos, outros estão à procura de empregos de verão. “Também temos algumas pessoas na reta final dos 30, início final dos 40 que querem começar uma nova vida”, conta.

Quanto às competências que as empresas mais procuram, destaca a enfermagem. “É uma loucura a quantidade de empresas que anda à procura de enfermeiros”, diz. Para as empresas que atuam no setor da hospitalidade, são pedidos vários tipos de habilitações, mas o que estes empregadores procuram realmente, diz Andreas, é “talento jovem, que tenha uma ética de trabalho muito forte, e que esteja disposto a avançar com a sua vida”, diz.

Se a procura por portugueses continuar a aumentar, Andreas Marinopoulos e o irmão Alexis não descartam a possibilidade de abrir um escritório em Lisboa. “Se continuarmos a ter tanto interesse da comunidade portuguesa, podemos considerar falar com as escolas portuguesas, por exemplo”, diz.

“Não acreditamos nesta coisa da fuga de cérebros. Acreditamos que se trata de circulação de cérebros e não de fuga. De pessoas que saem para serem médicos durante dois anos ou mais na Alemanha, por exemplo, mas depois regressam ao seu país”, diz.