Foi pouca sorte, ter o clima tão virado do avesso. Este sábado o ponto mais alto do Parque da Bela Vista, onde fica o Palco Vodafone, foi fustigado por tempo de chuva e vento frio, que apesar de não ter ajudado à festa, também não desarmou os fãs das três bandas do cartaz, duas portuguesas e uma de renome internacional – por sinal, a mais fustigada.
Quando os Mighty Sands entraram em palco, as poucas pessoas que esperavam sentadas levantaram-se e chegaram-se à frente para os receber. A banda anteriormente conhecida como Los Black Jews tocou temas dos EPs Big Pink Vol. 1 e 2, como já se previa. Ouviram-se canções como a conhecida “DK”, depois em “Mozambique” subiu ao palco Salvador, um dos Capitão Fausto, que usou a conga para marcar o ritmo. Foi a partir daí, já quase no final do espetáculo, que se ouviram os primeiros rasgos psicadélicos de surf rock – tecnicamente competente. Algum público perdeu o balanço, mas quem se aguentou até ao fim foi brindado com os melhores momentos. “Love Son”, a fechar, foi um deles.
Seguiram-se os Capitão Fausto, seguramente uma das bandas do momento no panorama musical português. Sobre eles e sobre o último LP Capitão Fausto Têm os Dias Contados já se disse o melhor, havia por isso muita gente à espera na plateia para os receber. São Pedro ajudou a manter o público firme e a banda aprumada, arrancaram sem grande dinamismo (físico) mas foram ganhando a confiança que o público lhes quis passar desde o primeiro acorde.
Com a pose e a graça de um miúdo rebelde, a voz e o rosto da banda (Tomás Wallenstein) lá foi soltando a língua para além das maravilhosas letras que compõem Capitão Fausto Têm os Dias Contados e outras pérolas mais antigas e menos maduras. Terminaram a hora de espetáculo completamente soltos, com mais energia, bem-dispostos, com vivas aos amigos e a Chelas. Prontos para começar, portanto.
Olhando do alto para o estilo indie rock “fofinho” (roubando descaradamente a expressão ao Pedro Moreira Dias, da Vodafone FM – nesta entrevista), os Real Estate são um caso de sucesso à escala global. Têm uma marca rítmica muito própria, são exímios a fazer correr o som das guitarras durante longos minutos e, no espetáculo que trouxeram ao Rock in Rio, ainda mostraram outra virtude: são de uma simpatia enternecedora, quase condescendente. Isto porque, quase espantados, agradeceram muitas vezes a coragem da meia casa que aguentou a chuva e o vento fortes, azar o nosso e o deles, que mereciam muito, mas muito mais gente ali para os descobrir.
A organização ainda distribuiu algumas dezenas de capas impermeáveis, houve quem resistisse e não parasse de dançar, ao som dos êxitos dos três álbuns que já editaram e ainda de alguns temas novos. Pelo que nos foi dado a ouvir, está a caminho um novo disco que, tal como os anteriores, tem tudo para ser um sucesso. Despediram-se prometendo voltar. Ficamos à espera, merecemos todos. Assim o tempo ajude.