A probabilidade de Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia – não deve preocupar em demasia os investidores de longo prazo que têm carteiras diversificadas de títulos. Quem investe maioritariamente através de fundos de investimento, como saber se o seu património está devidamente diversificado?
A uma semana do referendo que decidirá se o Reino Unido permanecerá ou se abandonará a União Europeia, o Observador analisou a carteira de todos os fundos de ações registados em Portugal para detetar os que têm as maiores proporções de títulos cotados em Londres.
14,2%
Os 622 milhões de euros que os fundos portugueses tinham aplicados no Reino Unido em abril passado representam 14,2% das aplicações totais.
Fonte: CMVM.
“Como o principal impacto negativo no caso de uma saída recairá sobre os ativos ingleses e denominados na sua moeda, o conhecimento onde está investido o nosso dinheiro é essencial para adequarmos a nossa posição aos riscos tal como os vemos”, explica José Veiga Sarmento, o presidente da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios.
A análise do Observador debruçou-se sobre as carteiras válidas no passado dia 31 de março, a mais recente informação oficial. Desde então, os gestores dos fundos podem ter alterado significativamente as exposições ao Reino Unido.
IMGA Eurofinanceiras
Comercialização: ActivoBank, Millennium bcp
Exposição à bolsa de Londres: 28,71%
Maiores investimentos em Londres: HSBC Holdings, Lloyds Banking Group, Prudential
No final de março passado, o IMGA Eurofinanceiras, que investe nos setores da banca e dos seguros a nível europeu, era o fundo mais exposto ao Reino Unido. Tinha 28,71% do património aplicado na bolsa de Londres. Desde então, o fundo, que é distribuído pelo ActivoBank e pelo Millennium bcp, aumentou a proporção de títulos britânicos para cerca de 30%, de acordo com a página da sociedade gestora dedicada a este produto.
BPI Europa
Comercialização: ActivoBank, Banco Best, Banco BPI, Banco Invest, BIG
Exposição à bolsa de Londres: 27,04%
Maiores investimentos em Londres: HSBC Holdings, Petrofac, Associated British Foods
José Manuel Badalo era o gestor de fundos de ações não setoriais que mais apostava no Reino Unido no final de março. Cerca de 27% do BPI Europa, que tinha um património de 48 milhões de euros, estava investido em ações da bolsa de Londres. Os títulos do HSBC Holdings, o maior banco europeu, ocupavam o primeiro lugar entre as 94 ações que compunham o fundo.
No início de junho, a composição da carteira do BPI Europa estava ligeiramente diferente, segundo o relatório mensal do produto, mas o HSBC Holdings continuava a ser a maior aposta de José Manuel Badalo.
Montepio Euro Financial Services
Comercialização: Montepio
Exposição à bolsa de Londres: 21,10%
Maiores investimentos em Londres: HSBC Holdings, Prudential, Barclays
Tal como o IMGA Eurofinanceiras, o Montepio Euro Financial Services investe exclusivamente em sociedades financeiras da Europa. O HSBC Holdings também era a maior aposta dos gestores na bolsa de Londres, seguido da seguradora Prudential e do banco Barclays.
Até ao início de junho, os gestores da Montepio Gestão de Activos mantiveram os títulos britânicos, segundo o relatório mensal do fundo.
Montepio Euro Utilites
Comercialização: Montepio
Exposição à bolsa de Londres: 20,61%
Maiores investimentos em Londres: National Grid, SSE, Centrica
Um quinto do património do Montepio Euro Utilities estava aplicado no Reino Unido no final de março passado. Desde então, os gestores do fundo de ações europeias especializado em empresas de serviços básicos (como fornecimento de eletricidade e correios) mexeram marginalmente na carteira britânica (compraram algumas ações da Severn Trent e venderam alguns títulos da United Utilities), mostra a mais recente carteira mensal publicada pelo Montepio.
Montepio Euro Healthcare
Comercialização: Montepio
Exposição à bolsa de Londres: 19,61%
Maiores investimentos em Londres: GlaxoSmithKline, AstraZeneca, Hikma Pharmaceuticals
Os gestores do Montepio Euro Healthcare estão limitados pelo regulamento de gestão a expor um máximo de 25% da carteira à libra esterlina. No final de março, cerca de um quinto do património estava denominado nessa divisa. Como se trata de um fundo de ações europeias do setor da saúde, as ações da GlaxoSmithKline e da AstraZeneca estão entre os títulos mais importantes na carteira. As posições na bolsa londrina não mudaram até ao início de junho, revela a sociedade gestora.
Mais fundos expostos ao Brexit
A lista de fundos de ações com muitos ativos no Reino Unido não se esgota nos cinco indicados em cima. Montepio Euro Energy, IMGA Eurocarteira, NB Acções Europa, CA Acções Europa e Montepio Euro Telcos tinham mais de um oitavo da carteira aplicado na bolsa de Londres.
Mesmo fora do universo das ações, há fundos fortemente expostos ao Reino Unido. As obrigações de taxa variável da Vodafone que se vencem em fevereiro de 2019 eram as maiores apostas dos fundos portugueses entre os emissores britânicos, embora sejam títulos cotados em euros cuja taxa de juro está indexada à Euribor a três meses. Estes papéis estão espalhados por 14 fundos. O BPI Reforma Segura PPR era o que mais tinha estes títulos da Vodafone, apesar da exposição total ao Reino Unido ser de cerca de 4%.
Entre os fundos que investem noutros fundos também se podem detetar posições significativas no Reino Unido. Nesta área, o Optimize Selecção Agressiva destacava-se em março passado: tinha 18,17% no fundo Fidelity United Kingdom, a sua maior aposta.