O resultado das eleições do passado domingo deu a vitória ao PP, mas tal como aconteceu na ida às urnas do ano passado, os eleitores não deram a maioria absoluta ao partido no poder, que agora se vê obrigado a encetar negociações com as outras forças políticas para formar governo. Rajoy quer um entendimento mínimo com o PSOE para governar. Os socialistas repetem o que já disseram antes: que o “tempo é do PP” e que cabe aos populares a iniciativa de formar governo, mas avisam que não apoiam nem se abstêm sobre a investidura de Mariano Rajoy.

O impasse entre os dois líderes já vem de longe e as conversas entre ambos têm sido marcadas pela animosidade mútua e pela troca de palavras inflamada e no limite do insulto. A altercação mais violenta aconteceu a meados de dezembro de 2015, num debate durante a campanha para as eleições legislativas, com os dois líderes frente a frente.

Estávamos a quatro dias das eleições (de 2015), o líder do PP seguia relativamente confortável nas sondagens e cabia ao líder do PSOE desafiá-lo. Sánchez foi direto à jugular e quando a discussão chegou aos casos de corrupção em que o PP estava envolvido, virou-se para Mariano Rajoy e disse-lhe que ele “não era uma pessoa decente”.

Rajoy respondeu à letra e retorquiu que Sánchez era “ruim, mesquinho e miserável”. Uma troca de acusações agressiva, que motivou piadas no Twitter face à possibilidade de um eventual acordo entre os dois partidos proposto esta segunda-feira por Rajoy.

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Os resultados eleitorais do ano passado não deram maioria absoluta a nenhum partido, mas o PP ganhou, tal como aconteceu este domingo. Em meados de janeiro, quando a possibilidade de Mariano Rajoy recusar a investidura chegou a estar em cima da mesa, Sánchez não queria sequer ouvir falar nessa hipótese: “Digo-lhe uma coisa, Sr. Rajoy, se não for ao Congresso apresentar a sua investidura é melhor ir para casa.”

Um mês depois, em fevereiro, as relações entre os dois líderes estavam gélidas, contava o ABC. Na altura, Rajoy afirmou que Sánchez “não fez qualquer juízo de valor” sobre a sua proposta, mas o líder socialista voltou a frisar que não queria entender-se com os populares e mesmo num tom mais glacial, não deixou de frisar que “o PP tem de ser regenerado, tem de ser limpo. A sua renovação e também a da liderança devem fazer-se enquanto estiverem na oposição.”

Mariano Rajoy não se ficou e retorquiu: “Senhor Sánchez, vamos votar ‘não’ à sua investidura.” A nega aconteceu na segunda votação consecutiva na mesma semana em que o Parlamento rejeitou um governo liderado pelos socialistas, e na qual Rajoy acusou Sánchez e o PSOE de “sectarismo”.

O segundo dia de votações foi palco para nova troca acesa de acusações, com ironia e muito sarcasmo à mistura. Rajoy acusou Sánchez de “fazer bluff” e de não ter “o menor sentido do ridículo” por ter apresentado um acordo com o Ciudadanos “sem relevância“. Para o líder do PP, o acordo estabelecido pelo socialista não passava de uma “comédia fictícia, irreal” e não hesitou a chamar-lhe “irresponsável“.

E relembrou a visita que Pedro Sánchez havia feito a 7 de janeiro a Lisboa, com o objetivo de se inspirar a formar uma grande coligação de esquerda, viagem que descreveu como “uma jornada para aprender como se contorce um resultado eleitoral em seu próprio benefício“.

Face ao fracasso das negociações em conseguir obter uma maioria governativa, o líder socialista amenizou o que havia dito no debate de dezembro, sem chegar a retratar-se: “Errei ao chamar indecente a Rajoy na forma, mas não no conteúdo“, afirmou no final de janeiro.

O socialista chegou mesmo a afirmar que o líder do PP era um problema para Espanha: “Acho que está claro que Espanha tem um problema com Mariano Rajoy, que não se resolve com outro problema, Pablo Iglesias“, disse em entrevista ao jornal 20minutos.

O socialista explicou no Twitter qual a natureza do problema com o líder do PP: “Rajoy é um problema para a democracia. Em defesa dos nossos direitos e liberdades peço-vos que votem na mudança.”

Em entrevista de antecipação da ida às urnas de domingo passado, Sánchez admitiu ao jornal La Vanguardia que o líder do PP não se qualificava para ser primeiro-ministro. Com base nas sondagens que apontavam para um resultado sem maioria absoluta, o PP “terá de ter de conviver com outras formações. Isso desqualifica Rajoy para ser primeiro-ministro, porque ninguém quer chegar a acordo com ele.”