Se a cantora Ruth Marlene estivesse agora a escrever um novo sucesso, talvez ele pudesse ser mais ou menos assim: “Eles olham para a direita, e carne maturada. Eles olham para a esquerda, e carne maturada”. A carne de bovino envelhecida é mais tenra e saborosa, pelo que não é de estranhar que, de norte a sul do país, os restaurantes a procurem cada vez mais. É ela a estrela das IV Jornadas Gastronómicas do Boi de Trás-os-Montes, que a partir desta semana e até 11 de dezembro se encontram no restaurante Vinum, das caves Graham’s, em Vila Nova de Gaia.
Iñaki López de Viñaspre, presidente do grupo Sagardi, que detém o Vinum, e o especialista em carne bovina Imanol Jaca, ambos do Pais Basco, vestiram o avental e pediram aos jornalistas que fizessem o mesmo. “Toquem na carne”, pediram, apontando para os costeletões de boi, ou de vaca. “Velha e gorda“, dizem, com orgulho. “Não é fácil encontrar estas vacas, com idades entre 10 e 20 anos, que tenham uma alimentação natural”, acrescentou Imanol. Na Península Ibérica, as melhores estão “na Galiza e em Trás-os-Montes” e, em cada 100, só quatro ou cinco é que cumprem os requisitos.
Por se concentrarem tanto na busca da melhor carne, Iñake esclareceu logo que não gosta de processos de decomposição (a tal maturação) longos. 21 dias em média, é de quanto a carne precisa para que os músculos do animal relaxem e que as gorduras superficiais e infiltradas se envolvam com a carne, tornando-se mais macia e suculenta. O amadurecimento, conhecido por dry age, faz-se em ambiente controlado, em câmaras frias e com ventilação, entre 1 a 3 graus centígrados e com 70% de humidade.
“A partir das seis semanas a carne começa a ganhar outros sabores, com o início da putrefação”, diz. “A nós só nos interessa que a carne seja muito boa e que saiba a carne. Vimos coisas escandalosas. Há um debate atualmente porque há carnes que ultrapassam o limite da saúde alimentar. Mas no mundo da gastronomia o tempo é subjetivo, tem a ver com experiência e o gosto pessoal.”
O costeletão de Boi de Trás-os-Montes, a estrela da companhia, acompanha com pimentos de piquillo assados. Para o resto do menu que compõe o evento, disponível aos almoços e jantares, Iñake e Imanol focaram-se nos produtos da região de Trás-os-Montes, de pequenos produtores. O resultado são pratos simples, sem grandes invenções.
Mas antes da carne há as entradas — uma alheira de Mirandela com maçã, seguida de um guisado de bacalhau com amêijoas e feijão branco. Para sobremesa, os clientes têm um sortido bastante variado de queijos regionais do Norte do país e trufas de chocolate.
Para acompanhar o desfile de pratos, no menu sugerem-se os vinhos Quinta do Ataíde DOC Douro 2014 e Quinta do Ataíde Vinha do Arco Touriga Nacional DOC Douro 2014. Após as trufas, o final da refeição faz-se com um vinho Graham’s Vintage 1983. Não podia ser de outra maneira, neste restaurante decorado em madeira e com os vinhos das caves a toda a volta. A vista sobre o rio que tanto vinho já transportou nos barcos Rabelos é que não está listada. Basta olhar pela janela.
O quê? IV Jornadas Gastronómicas do Boi Velho de Trás-os-Montes
Onde? Vinum Restaurant & Wine Bar, Rua do Agro 141, 4400-281 Vila Nova de Gaia
Contacto: 22 093 0417 ou info@vinumatgrahams.com
Preço: 78€ por pessoa, com água e café incluídos. O suplemento de vinhos Symington custa 29€.