Está aí a “PàF autárquica”: PSD e CDS vão fazer um acordo autárquico para as eleições locais de 2017, similar ao de há quatro anos quando estavam juntos no governo. Já está a ser esboçado um documento e, segundo apurou o Observador, já houve a primeira reunião do grupo responsável por fechar o “acordo-quadro”. Na última terça-feira, 15, houve o primeiro encontro entre PSD e CDS para discutirem o assunto com os dois coordenadores autárquicos (Carlos Carreiras, pelo PSD; Domingos Doutel, pelo CDS) a reunirem-se na sede social-democrata, na São Caetano à Lapa, numa reunião o onde também estiveram os dois secretários-gerais: José Matos Rosa (PSD) e Pedro Morais Soares (CDS).
Embora ainda não estejam fechados, os acordos PSD/CDS deverão ultrapassar largamente a meia centena de autarquias (em 2013, quando fecharam o acordo eram 69 e acabaram por ser 89 câmaras ) e, explicou fonte social-democrata ao Observador, “as coligações, tal como há quatro anos, permitirão que se juntem outros partidos mais pequenos como o Partido Popular Monárquico ou o Movimento do Partido da Terra”. De acordo com a mesma fonte “o documento está a ser trabalhado, mas tem por base o de há quatro anos e deverá ser muito parecido”.
Também em 2009 houve um acordo nos mesmos moldes, que envolvia menos câmaras, mas é com base no último (o de 2013) que o atual documento está a ser trabalhado. Trata-se de um acordo de princípio, com as regras que servem de base às coligações, nomeadamente no que diz respeito aos modelos de financiamento, sendo que cada acordo concreto em cada município precisa do aval das respetivas distritais e os vários acordos têm de ser aprovados em Conselho Nacional. Segundo fonte centrista, a data em que o acordo-quadro vai ser formalmente assinado será comunicada em breve. Certo é que PSD e CDS, juntos, são atualmente poder em 20 câmaras — e nessas a coligação vai manter-se. “Vai haver uma renovação natural nas câmaras onde somos poder, mas o acordo vai naturalmente para além dessas”, diz fonte do CDS ao Observador.
O documento não incide, pelo menos nesta fase embrionária, sobre casos específicos, mas o renovar deste acordo pode levar a uma aproximação em situações que se afiguram complicadas para o PSD, como Lisboa. As estruturas locais (o PSD/Lisboa à cabeça) têm insistido na necessidade de um candidato próprio, mas um acordo transversal a todo o território nacional pode facilitar que se chegue a um ponto em comum na capital. Isto não significa que o PSD pondere, para já, apoiar Assunção Cristas, mas facilita um entendimento futuro.
Entretanto, várias estruturas locais, que nem sempre estão alinhadas com o pensamento da direção do partido, já utilizaram a autonomia de que dispõem para irem fechando acordos de princípio. Foi o que aconteceu há um mês no Porto. A 26 de outubro, os presidentes das distritais dos dois partidos fecharam mesmo um “Acordo de princípio para o estabelecimento de coligações eleitorais autárquicas no distrito do Porto”. O presidente da distrital do PSD, Bragança Fernandes, admitiu até que pretendia que aquela fosse uma base para uma candidatura vencedora à câmara: “Está nos meus horizontes, futuramente, a concelhia do Porto celebrar um acordo com a concelhia do CDS-PP do Porto”.
O presidente do CDS/Porto, Álvaro Castello-Branco, não deu então como garantido o apoio a Rui Moreira, como aconteceu há quatro anos e limitou-se a dizer que “neste momento o CDS procurará o caminho que entende que é o sentir da cidade do Porto. Nós há quatro anos tivemos a capacidade, como tivemos há 12 anos juntamente com o PSD, de sentirmos a cidade e de sentirmos o que é que a cidade queria. Espero que não vamos perder esse dom. Quando tivermos esse sentimento, vamos tomar a nossa decisão”. A posição oficial do CDS em relação à câmara do Porto é, no entanto, outra. No último congresso, em março, Assunção Cristas deixou claro que o CDS apoiou desde a primeira hora a candidatura independente de Rui Moreira, tendo conseguido eleger o número dois, pelo que a ideia é “renovar o apoio”. No mesmo congresso, Cristas antecipou que o CDS teria uma candidatura “forte” a Lisboa, e assim foi: meses depois a própria líder deu a cara pela capital.
Timings diferentes. CDS não fica à espera e PSD faz apelo aos generais
Certo é que os timings do PSD e do CDS são diferentes, uma vez que os centristas, por terem menor implementação autárquica, precisam de mais tempo para fazer campanha e para se afirmarem. “Se entendermos que, para derrubar o PS ou uma coligação de esquerda numa determinada câmara, é preciso haver coligação de direita, então faz sentido que haja, mas temos todo o interesse em termos listas próprias”, afirma fonte democrata-cristã, sublinhando que o PSD definiu um prazo de seis meses antes das autárquicas para definir os candidatos (ou seja, tem até março para anunciar os nomes) mas o CDS não pode esperar tanto. “Nós temos de nos antecipar”, diz. “Se temos capacidade de apresentar listas próprias avançamos, não ficamos à espera deles, temos de ser mais ágeis e ir para o terreno mais cedo”, reforça a mesma fonte.
Num leque total de 308 concelhos, ainda há dúvidas em vários sobre qual é a via mais vantajosa. É o caso de Évora, em que PSD e CDS têm historial de concorrer coligados, mas em que este ano o CDS tem dúvidas sobre se não conseguirá um melhor resultado em terreno comunista se avançar sozinho. A estrutura centrista de Évora considera que pode eventualmente eleger um vereador se concorrer sozinho, por isso deverá avançar. Também em Murça, Vila Real, o PSD preferia uma lista conjunta, mas o CDS deverá optar por listas separadas, e em Alcácer do Sal, se forem juntos, a coligação deverá ser encabeçada pelos centristas. Em Amarante, distrito do Porto, os centristas não estão confortáveis com o anterior acordo de coligação, que punha o vereador do CDS em posição não elegível, e querem melhorar o acordo.
Entretanto, seja nos bastidores, nas reuniões concelhias ou mesmo em sondagens vão sendo apontados nomes para as principais cidades. Fonte próxima do processo autárquico no PSD admite que há uma espécie de “apelo aos generais”. É por isso que, no Porto, são falados os nomes do vice-presidente Marco António Costa e do líder parlamentar Luís Montenegro. Bem como outros menos mediáticos, como os dos ex-secretários de Estado Luís Campos Ferreira e Castro Almeida, o deputado Paulo Rios ou o presidente do conselho estratégico do PSD/Porto, Álvaro Santos. Há ainda um independente, apontado esta semana num artigo do Expresso, que terá sido também equacionado: o economista e ex-ministro socialista Daniel Bessa.
Para Coimbra, o nome mais falado continua a ser o presidente dos Autarcas Sociais Democratas e presidente da câmara municipal da Guarda, Álvaro Amaro, que até já terá sido testado em sondagens. Fonte social-democrata explica, no entanto, que “o partido tem medo de perder uma câmara que está segura, a Guarda, e não conseguir conquistar Coimbra, daí a dúvida sobre se o Álvaro deve dar o salto”.
Um pouco mais abaixo, em Leiria, o antigo secretário de Estado Feliciano Barreiras Duarte até já foi apontado como candidato pelo ex-líder Luís Marques Mendes, mas o Observador apurou que — além de Feliciano — o nome de Teresa Morais também está em cima da mesa e a ser testado em sondagens. Entretanto, outras concelhias mais pequenas, a Norte e a Sul, vão ponderando nomes. Em Odivelas, o vice-presidente da bancada social-democrata António Leitão Amaro é falado para candidato e, em Matosinhos, também há quem veja o antigo presidente da distrital do Porto, Virgílio Macedo, a avançar.