A NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) intercetava as comunicações de telemóveis pessoais dos passageiros de aviões e monitorizava as relações diplomáticas de Israel, Jordânia e da Palestina para recolher informações no Médio Oriente. Até a delegação da Palestina em Portugal estava sob vigilância da agência. As revelações são feitas esta quarta-feira pelo diário francês Le Monde, que fez uma investigação exclusiva à totalidade do arquivo divulgado por Edward Snowden enquanto era funcionário da NSA — e que atualmente vive em Moscovo sob asilo político.
Segundo a investigação do Le Monde, França — e os aviões da Air France em particular — era um dos principais alvos da espionagem da NSA nos céus. Bastava que um passageiro levasse o telemóvel ligado num voo para que a NSA e o GCHQ (serviço de espionagem britânico) conseguissem detetar o sinal (através de antenas instaladas no solo) e cruzar a informação com a lista de passageiros. O GCHQ conseguia até desligar remotamente os telemóveis, para que fosse necessário tornar a ligar e a introduzir os códigos. Num comunicado da NSA divulgado internamente em 2009, também parte do arquivo obtido por Snowden, lia-se: “O céu pode pertencer à NSA”.
Num outro documento analisado pelo Le Monde, e que está assinado pelo número dois da agência, lê-se que o programa de vigilância nos aviões foi criado para evitar “um novo 11 de setembro”. Por isso, foram escolhidas companhias aéreas como a Air France e a Air Mexico, que a CIA considerava “potenciais alvos para terroristas”. O que os documentos também provam é que a interceção de comunicações era extensível a todos os passageiros dos aviões, e não apenas a suspeitos de terrorismo. “O que há em comum entre o presidente do Paquistão, um traficante de tabaco ou de armas, um grupo terrorista ou um membro de uma rede de produção de armas nucleares? Todos usam o telemóvel quando estão dentro de um avião”, esclarece o documento interno.
Outro alvo da vigilância digital da NSA eram as relações diplomáticas de Israel, com quem, oficialmente, os serviços de inteligência americanos e britânicos mantêm uma relação de cooperação estreita. No entanto, a agência norte-americana mantinha sob vigilância apertada as comunicações dos primeiros-ministros Benjamin Netanyahu e Ehud Olmert, de altos oficiais do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e diversos funcionários de empresas privadas da área da segurança e das armas. É o “lado negro” da cooperação entre EUA e Israel, escreve o jornal francês.
Também na Jordânia e na Palestina os EUA e o Reino Unido têm fortes relações a nível dos serviços de inteligência. Mas também nestes casos, as próprias autoridades jordanas e palestinianas têm sido alvo de espionagem por parte da NSA. Apesar de reconhecer, num documento interno, que os serviços de espionagem da Jordânia asseguravam muitas das operações de segurança necessárias aos EUA, a agência norte-americana mantinha vários altos funcionários da corte do país sob escutas, além da própria embaixada da Jordânia em Washington. Já na Autoridade Palestiniana estavam sob vigilância americana vários oficiais da Organização para a Libertação da Palestina e uma série de delegações palestinianas em vários países, incluindo Portugal, França, Bélgica, Paquistão, África do Sul e Malásia.