Já começou a evacuação de Alepo, na Síria, confirmou o Crescente Vermelho, que tem mais de uma centena de voluntários no local, e que confirmou que já foram retirados pelo menos 200 cidadãos feridos da zona leste da cidade. A retirada dos civis e dos rebeldes está a ser orientada por várias organizações humanitárias, e começou cerca de cinco horas depois do previsto, por terem ocorrido ataques à primeira caravana.

Pelo menos uma pessoa terá morrido e quatro terão ficado feridas esta manhã, na sequência de um ataque à caravana em que seguiam os primeiros civis. A informação foi avançada à CNN por um responsável pelo processo de evacuação, Hamzah al-Khateab. Entre os feridos, estará o líder da Defesa Civil Síria (conhecida como ‘capacetes brancos’), Bebars Meshaal. Segundo informações dos grupos ativistas na Síria, terá havido um ataque das forças do regime à caravana de ambulâncias que transportava os primeiros feridos retirados de Alepo.

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De acordo com o portal ativista Aleppo Media Center, as autoridades russas já ameaçaram responder a estes ataques contra civis e rebeldes. A ameaça inclui as forças do regime e as milícias apoiadas pelo Irão, avança o AMC.

A evacuação da cidade acontece durante a segunda tentativa de implementar um cessar-fogo em Aleppo. As forças governamentais e da oposição na Síria chegaram esta madrugada a um novo acordo para a retirada de civis e combatentes rebeldes do leste de Alepo, a última zona da cidade controlada pelos insurgentes, disseram fontes das duas partes. “Foi conseguido um acordo para a saída dos rebeldes, que está a ser preparada agora”, disse um responsável militar das forças governamentais à agência de notícias AFP.

As fontes dos serviços secretos disseram à agência turca Anadolu que o acordo foi conseguido após conversações entre a Turquia e a Rússia, países que apoiam as forças da oposição e do regime sírio, respetivamente. O cessar-fogo entrou em vigor às 2h30 locais (00h30 em Lisboa).

As primeiras informações que chegaram do país esta manhã eram contraditórias. Uma fonte do governo sírio afirmou à agência Reuters que a operação já tinha começado, e as forças russas, que apoiam o regime de Bashar al-Assad, confirmaram que 20 autocarros e 10 ambulâncias destinados à retirada dos rebeldes já tinham recebido autorização para entrar na cidade. No entanto, os cerca de 100 voluntários da Cruz Vermelha que estão no local dizem que a operação ainda não tinha sido iniciada.

O primeiro cessar-fogo, acordado na terça-feira, não durou uma hora: chegou a notícia da esperança e logo depois a de que os bombardeamentos tinham regressado a Alepo, onde ainda se encontra um pequeno grupo de opositores ao Presidente sírio, Bashar al-Assad, e contra os quais o regime tem investido com particular força nos últimos dias a fim de recuperar uma das cidades mais importantes do país. O cessar-fogo foi quebrado por milícias apoiadas pelo Irão, e que estão do lado de Bashar al-Assad, que se recusaram a permitir a saída dos rebeldes e dos civis de Alepo.

Mas a esperança regressou, na quarta-feira à noite, quando Ahmed Karali, porta-voz do grupo rebelde Ahrar Sham, disse que o acordo tinha sido “salvo” e que “o primeiro grupo de feridos civis poderia começar a sair da cidade esta quinta-feira de manhã”, uma informação confirmada, também, pelos porta-vozes dos outros dois grupos.

É uma nesga de território aquela que os rebeldes ainda detêm, no Leste de Alepo, mas ainda lá estão 100 mil pessoas “presas num território de cinco quilómetros quadrados”, disse à agência de notícias France Press o presidente dos Médicos do Mundo, Françoise Sivignon, pedindo a retirada dos civis daquele “inferno”.

A Turquia, o Irão e a Rússia deverão reunir-se em Moscovo dia 27 de dezembro para acordar “um cessar-fogo para toda a Síria” e “encontrar uma solução política para o conflito”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlut Cavusoglu, ao canal de televisão turco TGRT. A Turquia está do lado dos rebeldes, enquanto os russos e os iranianos apoiam Bashar al-Assad.

“As pessoas estão a perder toda a esperança”, disse Teresa Sancristoval, diretora do programa de emergência dos Médicos Sem Fronteiras, citada pela agência Associated Press. E faz um último apelo: “os médicos que estão em Alepo estão aterrorizados pela possibilidade de retaliação das forças pró-governo e, mais do que tudo, querem ser retirados”.

Alepo era a maior cidade síria antes do início do conflito, em março de 2011, com 2.3 milhões de habitantes. Quando o conflito alastrou, a cidade ficou dividida entre as forças leais ao regime e as forças revoltosas e assim permaneceu quatro anos, sendo que a zona rebelde teve sempre apenas um acesso intermitente a ajuda humanitária.