Os melhores
“L’Arabe du futur, vol. III”, Riad Sattouf (Allary Éditions)
A melhor introdução à vida no Médio Oriente, e não me estou a esquecer de nenhum dos outros livros que conheço sobre essa região. Mas acima de tudo, um olhar minucioso e hilariante sobre o que é crescer numa família e num país igualmente disfuncionais. O pai de Riad é um dos grandes retratos alguma vez elaborados em qualquer forma de ficção. O volume II foi um dos meus livros do ano passado, o volume III é um dos meus livros deste ano, e surpreender-me-ia se o volume IV não fosse um dos meus livros do ano que vem.
“The Vegetarian”, Han Kang, traduzido do coreano por Deborah Smith (Portobello Books)
Uma mulher que o marido descreve como absolutamente banal e sem qualquer graça decide ser vegetariana. É assim o começo deste romance da Coreia do Sul. Como se poderá desde logo deduzir, isto não é um romance sobre vegetarianismo, mas sobre o que é ser humano sob o olhar de outros humanos. Agarra-se e fica-nos na cabeça como uma visão incómoda.
“Alentejo Prometido”, Henrique Raposo (Fundação Francisco Manuel dos Santos)
Um livro como não é hábito escrever em Portugal. Um regresso ao Alentejo, através de pesquisa histórica, reportagem e memória. Uma grande fogueira dos tabus e lugares-comuns acumulados pelas literaturas oficiais sobre a região. Mas também a prova de que é possível fazer uma declaração de amor sem contemplações nem ilusões. Muitos não perceberam este livro, mas todos sentiram a sua força.
“Caminhar por Lisboa”, Anísio Franco (Porto Editora)
Um grande roteiro para descobrir Lisboa a pé, através da sua história e dos seus ambientes. Erudito, conciso e bem humorado. A cidade em que vivemos é sempre aquela que menos visitamos. Com este guia, não temos desculpa para não a visitar.
“How to read water”, Tristam Gooley (Sceptre)
Um daqueles livros que lemos sem nenhuma razão para o ler. Mas quem viveu ao pé do mar, sabe que há sempre um momento em que sentimos que há alguma coisa para perceber na água, nas suas mudanças de cor, na sua agitação, no seu som, nas suas subidas e descidas de nível, nas suas correntes. Deve ter sido esse, aliás, o ponto de partida de Stanislaw Lem para imaginar o oceano vivo e inteligente de Solaris. Depois deste livro, nunca mais olhará para a água da mesma maneira.
O pior
“The Euro and its threat to the future of Europe”, Joseph E. Stiglitz (Allen Lane)
A tentativa desesperada de um dos antigos funcionários do que agora chama ordem “neo-liberal” para se reciclar em profeta do radicalismo. Complacente, contraditório e iludido. Stiglitz foi Prémio Nobel da Economia em 2007. Mas quem ler este livro não conseguirá deixar de pensar: nesse ano, bem que podiam ter dado o Nobel da Economia a Bob Dylan.
[as escolhas de Rui Ramos:]