Primeiro Nice, agora Berlim. Pela segunda vez, foi usado um camião para levar a cabo um atentado o mais mortífero possível que foi reivindicado pelo Estado Islâmico. Quando aconteceu pela primeira vez, em julho deste ano, o mundo interrogou-se sobre como foi possível um camião descontrolado conseguir irromper pelo meio de uma multidão, especialmente num local com forte presença das autoridades, matando 84 pessoas.
Agora repetiu-se, e tudo indica que não são apenas ações isoladas, uma vez que o Estado Islâmico (também conhecido como ISIS) está mesmo a apelar à utilização deste tipo de armas. A última edição da Rumiyah, a revista oficial da organização terrorista, publicada no mês passado, inclui um guia completo sobre como usar veículos como armas, apelando à sua utilização por parte dos combatentes infiltrados em países ocidentais.
O artigo começa por citar o Corão para pedir aos militantes que usem um conjunto de “armas e técnicas que possam ser usadas a qualquer momento para infligir miséria e destruição sobre os inimigos de Alá”. Depois, lê-se que a arma a utilizar deve ser escolhida com base no objetivo do ataque. “Apesar de ser uma parte essencial da vida moderna, muito poucos compreendem o poder mortífero e destrutivo dos veículos, e a sua capacidade de causar muitas mortes se usados de forma premeditada. Isto foi demonstrado de forma soberba no ataque lançado pelo irmão Mohamed Lahouaiej-Bouhlel”, destaca o texto.
O artigo segue depois para um conjunto de instruções sobre como perpetrar um ataque com um veículo, começando pela escolha do meio de transporte ideal. “Observando ataques anteriores, vemos que veículos mais pequenos são incapazes de garantir o nível de carnificina que se procura”, lê-se no texto, que aconselha os jihadistas a usarem camiões de carga. Devem ser “grandes em termos de tamanho, mas sem esquecer a capacidade de controlo”, e “razoavelmente rápidos em termos de capacidade de aceleração”.
A publicação alerta até os jihadistas para o facto de alguns países europeus limitarem a velocidade dos veículos. Além disso, o camião deve ser “pesado, para assegurar a destruição de tudo aquilo em que embate”, e ter rodas duplas, “para dar às vítimas menos hipóteses de fugirem ao esmagamento pelos pneus do camião”.
Também há uma série de conselhos sobre quais os veículos a evitar. Os jihadistas não devem usar carros mais pequenos, veículos que não excedam a velocidade de 90 quilómetros por hora, camiões com o compartimento de carga sem estar fixado à cabine ou demasiado comprido, “que podem causar problemas ao condutor enquanto se tenta manobrar”.
E como obter o veículo? Se o jihadista tiver dinheiro, “comprar seria a opção mais fácil”. Em alternativa, “pode ser alugado, ou pedido emprestado”. Em último caso, o veículo pode ser roubado, mas o Estado Islâmico alerta: “esta opção só é recomendada para quem tenha o conhecimento ou experiência anterior neste domínio”.
Entre a lista de possíveis alvos para um ataque deste tipo, a publicação oficial do Estado Islâmico inclui: “convenções ou celebrações de grande dimensão no exterior, ruas congestionadas de peões, mercados no exterior, festivais, paradas e comícios políticos”. No fundo, “qualquer atração no exterior que atraia grandes multidões”, devendo ser “numa estrada que ofereça a possibilidade de acelerar até uma velocidade alta, que permite infligir o maior dano possível naqueles que estiverem no caminho do veículo”. O artigo está ilustrado com a fotografia de uma rua cheia de gente durante um desfile, acompanhada pela legenda: “Um alvo excelente”.
A última parte explica aos jihadistas como devem proceder durante a preparação do ataque. O primeiro passo é a avaliação das capacidades do veículo, e o abastecimento do mesmo com combustível suficiente. A revista sugere depois aos militantes que desenhem um mapa para o ataque, tendo em conta os obstáculos que podem ser encontrados no caminho, e que levem uma arma secundária, para “maximizar o número de mortes e aumentar o nível de terror resultante do ataque”.
No momento do ataque, os jihadistas devem anunciar-se como membros do Estado Islâmico, nomeadamente “escrevendo em dezenas de folhas de papel ‘O Estado Islâmico vai prevalecer’ ou ‘Sou um soldado do Estado Islâmico’, atirando-as da janela do veículo durante o ataque”, lê-se no texto.