Mais de metade dos líderes das grandes empresas está preocupado ou muito preocupado com o perigo do aumento do protecionismo no comércio mundial, um efeito esperado da eleição de Donald Trump. O inquérito promovido pela consultora Pricewaterhousecoopers, o PwC CEO Global 2017, revela que este tema preocupa 59% dos presidentes de empresas de todo o mundo.

O relatório foi feito a partir de respostas de 1.400 presidentes executivos (CEO) e de entrevistas mais aprofundadas com 20 gestores, uma lista que inclui o português Ângelo Paupério, administrador-executivo da Sonae SGPS e presidente executivo da Sonaecom. Os contactos foram realizados entre setembro e dezembro do ano passado, período marcado pela vitória de Donald Trump nas presidenciais americanas.

Já esta segunda-feira, o presidente eleito anunciou em entrevista a intenção dos Estados Unidos de impor uma taxa de 35% aos automóveis que o fabricante alemão BMW vai produzir na nova fábrica no México e que pretende exportar para o mercado norte-americano. O anúncio de Trump, que também mostrou desconforto com a força de outra marca alemã — a Mercedes — provocou reações políticas ao mais alto nível na Alemanha.

O número de gestores preocupados com o regresso das barreiras aos comércio salta para 64% quando olhamos para as respostas dos líderes empresariais dos Estados Unidos e do México, revela o relatório que foi divulgado esta segunda-feira no Fórum Económico Mundial que se realiza em Davos na Suíça.

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O presidente da associação industrial BDI avisa que o protecionismo não vai ajudar a fortalecer a indústria americana. “As guerras comerciais só criam perdedores”, disse Dieter Kempf, citado pelo jornal Politico.

Entre os gestores ouvidos neste inquérito, 58% avisam que é cada vez mais difícil assegurar um equilíbrio na globalização, admitindo que a liberdade de comércio, de capitais, de serviços e pessoas pode ter contribuído para o descontentamento político dos eleitores. E mais de 40% — 44% — reconhecem que a globalização não ajudou de forma alguma a reduzir as desigualdades entre ricos e pobres. Este resultado contrasta com as conclusões do primeiro inquérito do género, realizado em 1998, que manifestava uma posição muito mais otimista sobre os efeitos da globalização.

Muitos dos entrevistados estão preocupados com o cenário de uma crescente hostilidade face à globalização que motive os governos a fechar as portas — 58% acredita que hoje já é mais difícil concorrer no mercado mundial, em resultado de políticas nacionais mais fechadas.

Trump não é a única dor de cabeça para as grandes empresas mundiais. O protecionismo na Europa também deverá ganhar força com o Brexit. Philip Hammond, ministro das Finanças britânico, apontou na direção da indústria automóvel alemã quando defendeu um novo acordo com uma base recíproca e ameaçou com barreiras alfandegárias após a saída da União Europeia. Hammond lembrou que a Mercedes, a BMW e a Volkswagen vendem os seus carros no Reino Unido sem pagar quaisquer tarifas.