A Reserva Federal, o banco central dos EUA, sinalizou nesta sexta-feira, de forma clara, que nos próximos dias irá haver uma nova subida da taxa de juro, em mais uma decisão que confirma que a era do dinheiro barato está (mesmo) a terminar, pelo menos na maior economia do mundo.

Janet Yellen, a presidente da Reserva Federal, disse esta sexta-feira num evento em Chicago que uma subida da taxa de juro na reunião de meados de março será “provavelmente” uma decisão “adequada”. A declaração consta de comentários preparados que foram distribuídos pelo banco central às 18h de Lisboa.

Esta sinalização de uma subida da taxa de juro já na próxima reunião do banco central surge poucas semanas depois de, em dezembro, o banco central norte-americano ter aumentado o custo do financiamento em dólares na sequência da eleição de Donald Trump como Presidente dos EUA.

O novo Presidente norte-americano planeia lançar planos de estímulo económico que tornam quase inevitável que o banco central, se dúvidas tivesse, tenha de subir as taxas de juro — já que a taxa de inflação pode subir de forma rápida e, como a própria Reserva Federal reconhece, poderia levar o banco central a reagir de forma mais brusca para evitar uma subida excessivamente rápida dos preços. Além disso, Donald Trump defendeu várias vezes, durante a campanha, que os juros baixos que existiam nos EUA não se justificavam e chegou a acusar Yellen de estar a manter os juros artificialmente baixos para ajudar à reeleição de um candidato do Partido Democrata (Hillary Clinton) para suceder a Barack Obama.

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A taxa de desemprego dos EUA está abaixo de 5% e as taxas de inflação seguidas pela Reserva Federal já estão a caminhar para o objetivo do banco central, pelo que o banco central deverá subir os juros para tentar calibrar este aumento da inflação que se verificou nos últimos meses e que deverá intensificar-se.

“Com efeito, no nosso encontro mais à frente neste mês de março, o Comité de Operações no Mercado Aberto (FOMC) vai avaliar até que ponto o emprego e a inflação estão a evoluir em linha com as nossas expectativas, o que, a confirmar-se, um novo ajustamento da taxa de juro de referência será, provavelmente, a decisão mais apropriada”, disse Janet Yellen.

“A economia já atingiu, basicamente, a nossa meta para a situação do mercado de trabalho e, por outro lado, a taxa de inflação está já a aproximar-se do nosso objetivo de 2%”, afirmou Janet Yellen, numa mensagem clara a preparar o mercado para a concretização da subida da taxa de juro já este mês.

O mercado está a antecipar que a taxa de juro da Reserva Federal — o parâmetro mais importante para os mercados financeiros mundiais, com implicações para todos os tipos de ativos — suba entre duas e três vezes este ano. Na reação a esta declaração de Janet Yellen, economistas ouvidos pela Bloomberg dizem que o banco central quis antecipar já uma primeira subida para não arriscar ter de subir os juros numa altura de maior turbulência nos mercados mundiais, designadamente caso Marine Le Pen vença as eleições presidenciais em França (candidata que quer tirar França da zona euro e renegociar a participação na União Europeia). Desta forma, a Fed sobe os juros já em março e fica com maior margem de manobra para reagir, nos próximos meses, às consequências de eventos de risco como as eleições francesas e fatores de incerteza como as políticas da administração Trump.