O diretor do FBI, James Comey, está a ser ouvido esta tarde no Senado norte-americano, em Washington, sobre as suspeitas de Donald Trump de que a sua campanha esteve sob escuta e sobre as alegadas ligações russas do agora presidente norte-americano. Sobre este último ponto, o responsável pela agência governamental confirmou que as ligações da Rússia à campanha presidencial de Trump estão sob investigação.

“Temos a prática de não confirmar investigações em curso”, começou por explicar James Comey com alguma tosse à mistura, “mas em situações extraordinárias em que há interesse público, nós tornamos isso público”, avançou o diretor do FBI. “Fugas sobre informação confidencial são graves, são crimes graves”, reforçou na audiência perante os senadores, confirmando a investigação: “O FBI, no seu esforço de contra-informação, está a investigar os esforços do Governo russo para interferir na eleição presidencial de 2016”. Em termos gerais, disse Comey, “os russos estão sempre a tentar perceber quem são os próximos líderes e qual o nível de influência” que se pode exercer sobre os candidatos à Casa Branca.

Na sua intervenção inicial, o senador republicano Devin Nunes disse que “o facto de a Rússia ter pirateado as bases de dados eleitorais dos EUA não representa uma novidade para este comité”. As autoridades norte-americanas “há vários anos” que monitorizam as “agressões” russas, assumiu o senador, deixando críticas ao anterior presidente dos EUA. “A Administração Obama estava comprometida com a ideia de que, ao contrário de todas as evidências, poderíamos reiniciar as relações com Putin e de forma rotineira ignorou os nossos avisos”.

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Sobre as acusações de Donald Trump, publicadas no Twitter, de que a sua campanha — em especial a Trump Tower — estaria sob escuta pela administração de Barack Obama, James Comey foi muito claro: “Não dispomos de qualquer informação que permita confirmar esses tweets”, afirmou. O diretor do FBI diz mesmo que procuraram informação que pudesse confirmar as acusações do atual presidente norte-americano, mas que nada foi encontrado.

Comey deixou ainda claro que uma vigilância como aquela de que Trump se queixou ter sido alvo não poderia ter sido requerida por um presidente em funções. Presente na mesma audição, Mike Rogers, responsável máximo da National Secutiry Agency (NSA), deu a mesma resposta: “Não vi nada, no lado da NSA, que indique que nos envolvemos ou que alguém se tenha envolvida numa atividade desse género”.

Sem previsão sobre quando estará concluída a investigação à eventual coordenação entre elementos ligados à campanha de Trump e responsáveis russos na corrida à Casa Branca, Comey disse que, em teoria, uma investigação a fugas de informação das agências de segurança passaria por averiguar “quem são os suspeitos, quem teve contacto com a informação, começar por esse universo e usar técnicas para eliminar ou acrescentar pessoas como principais suspeitos”.

No próximo outono, o Senado terá de reautorizar o programa que permite aos serviços de informação norte-americanos escutar cidadãos em território norte-americano (como Trump sugeriu que lhe teria acontecido, sob indicações do ex-presidente Barack Obama). Essa autorização “está em perigo” se o FBI não for capaz de concluir a investigação à origem da fuga de informação.

Numa ideia, de acordo com as informações recolhidas até ao momento, o diretor FBI está convencido de que responsáveis russos se dedicaram a minar a campanha de Hillary Clinton, numa missão que foi reforçada a partir do momento em ficou mais claro que Donald Trump tinha hipóteses sérias — depois confirmadas — de vir a tornar-se presidente dos EUA.