Dave McClure cofundou uma das principais incubadoras de Silicon Valley, a 500 startups, em 2010, e tornou-se num dos nomes de referência na comunidade tecnológica norte-americana. Foi acusado de assédio sexual numa investigação publicada pelo The New York Times na sexta-feira.
As acusações de assédio levaram McClure a demitir-se dias depois, depois de várias mulheres o terem acusado de comportamentos inapropriados. Para pedir desculpa, o investidor de Silicon Valley, na Califórnia, publicou uma mensagem no seu blog, assumindo o seu comportamento “inapropriado”.
in best interest of @500Startups & at request co-founder @christine_tsai, i am resigning effective immediately. pls support christine/500 ❤️
— Dave McClure (@davemcclure) 3 de julho de 2017
A demissão de McClure da 500 Startups foi anunciado pela cofundadora Christine Tsai num e-mail enviado pela empresa, na segunda-feira. Nele, podia ler-se que a incubadora tinha recebido várias denúncias sexuais contra McClure, que foram investigadas e consideradas “inaceitáveis”.
Uma das mulheres que se chegou à frente foi a empresária Sarah Kunst, que foi uma das duas dezenas de mulheres que falaram ao New York Times sobre os crimes sexuais em Silicon Valley. A empreendedora alega que McClure lhe enviou uma mensagem sexual bastante sugestiva no Facebook, enquanto estavam a discutir um possível contrato com a 500 Startups.
Eu não sei se te deva contratar ou bater-te”, disse McClure numa mensagem.
It's time for @davemcclure to resign from @500Startups. pic.twitter.com/v47RT7NKNO
— sarah kunst (@sarahkunst) 3 de julho de 2017
Um dia depois do artigo ter sido publicado, o investidor escreveu um post no blog a pedir desculpa pelas suas ações. O título da mensagem era “Eu sou um estranho. Eu peço desculpa”.
I’m a Creep. I’m Sorry. https://t.co/ptO1mgubFZ by @davemcclure cc @500Startups
— Dave McClure (@davemcclure) 1 de julho de 2017
Dirigi-me a várias mulheres em situações relacionadas com o trabalho, que foram incrivelmente inapropriadas. Meti as pessoas em situações comprometedoras e inapropriadas, tirei proveito dessas situações. O meu comportamento foi indeculpavel e errado”, escreveu.
Há três anos na Malásia, com Cheryl Sew Hoy
Quando Cheryl Sew Hoy viu que McClure estava a ser aplaudido por ter sido honesto e corajoso ao escrever aquela mensagem no seu blog, decidiu intervir na situação e contar a sua versão da história.
As pessoas estão a dizer que o ‘Dave estava a ser o Dave’. Percebi que tinha o poder de mudar esta narrativa, não apenas por mim própria, mas por uma causa maior: outras mulheres”, disse Hoy ao The Guardian.
Hoy era dona da startup ReclipIt, que foi apoiada pela 500 Startups. Conta que McClure voou para a Malásia para conhecer outros investidores da startup e, segundo o que contou, McClure e outros colegas foram ao seu apartamento para uma reunião. Aquilo que “começou por ser uma noite inocente, em que estávamos todos a conviver na minha casa, acabou por tornar-se no meu maior pesadelo, que me persegue há três anos”.
Shedding Light on the “Black Box of Inappropriateness” https://t.co/tLc1VP5onX pic.twitter.com/qkVjO6Wa4m
— Cheryl Y. Sew Hoy (@cherylyeoh) 3 de julho de 2017
Hoy conta que McClure continuou a servir-lhe bebida durante a noite toda, e que todos acabaram por ir embora à exceção dele. Ter-lhe-á perguntado diversas vezes se ele não queria ir embora, mas McClure ter-lhe-á dito sempre que não, até ao ponto em que Hoy teve de convidá-lo para passar a noite no quarto de hóspedes.
Fui para o meu quarto, mas Dave seguiu-me até lá e foi aí que se ofereceu para dormir comigo. Disse que não. Relembrei-o que ele tinha conhecido o meu namorado e que já tínhamos falado dele durante aquela noite”, escreveu.
Quando ela o levou à porta, para que se fosse embora, Hoy conta que “ele se encostou a ela de tal forma” que ficou encurralada num canto. Conta que McClure tentou beijá-la e lhe disse algo do género “é só esta noite, por favor, só uma vez”. “Depois, disse que que gostava de uma mulher bonita e inteligente como eu. Fiquei enojada e disse mais uma vez que não e empurrei-o para fora da porta”, conta.
Um ano depois, McClure pediu-lhe desculpa numa mensagem de Facebook. Hoy disse que estava “desapontada com as palavras que ele tinha usado”. A empresária espera agora que a sua história leve à criação de políticas que previnam assédios sexuais e discriminação pela parte de altos empresários.
Thank you for sharing, Cheryl. This is super brave and offers such great ideas for how to move forward and protect more women.
— Cali Pitchel (@calipitchel) 3 de julho de 2017
A companhia 500 Startups, a pedido do The Guardian, respondeu à publicação de Hoy. “Nós apreciamos a coragem de Cheryl em falar e percebemos o quão doloroso é para ela toda esta experiência. Nós só podemos esperar que os esforços da 500 Startups possam ajudar a criar uma plataforma eficaz e segura que proteja as empreendedoras femininas de todo o mundo”.