Domingo pode ser mais uma noite das “facas longas” no PSD, que os opositores de Pedro Passos Coelho andam a afiar desde que o líder do partido saiu da chefia do Governo. O líder do PSD vai defendendo que não há leituras nacionais diretas (“a liderança não está em jogo nestas eleições”, disse esta segunda-feira à Renascença), mas todos os críticos já marcaram debate na arena política para depois das autárquicas. Tudo depende do calendário. Se as coisas correrem mal — o Congresso será, pelos estatutos, em abril de 2018 –, tudo se pode precipitar: os conselheiros nacionais do PSD começaram esta segunda-feira a ser convocados para uma reunião do órgão máximo entre congressos já na próxima terça-feira 3 de outubro.

Ao contrário da Comissão Permanente — onde Passos tem toda a equipa de direção do seu lado — ou mesmo da Comissão Política alargada, no Conselho Nacional há vários conselheiros críticos da atuação do líder. Logo no dia seguinte às eleições é suposto começarem as movimentações para o pós-Passos: quer dos passistas para defender a continuidade do líder, quer dos críticos para começar a preparar terreno para a sucessão. A ordem de trabalhos tem dois pontos: “Informações” e “análise da situação política”, ponto onde cabe tudo. Rui Rio, segundo sociais-democratas que estão próximos do ex-autarca do Porto, deve anunciar a candidatura pouco tempo depois do dia das eleições, só resta saber se será logo na primeira semana.

Esta pressa em convocar o Conselho Nacional pode ter várias leituras. A convocatória é feita pelo presidente da mesa (Fernando Ruas), mas a data é sempre (a título informal) concertada com o presidente do PSD. Um dos cenários é o líder do partido ter pressa em legitimar-se e antecipar a convocação de diretas. Por outro lado, Passos Coelho pode alegar que está a cumprir, estritamente, o calendário. Se marcar diretas para janeiro, Passos pode sempre alegar que o partido já o fez em 2014. Isto apesar de em 2016, 2012, 2010 e nos anos anteriores (embora por diferentes razões) tenha sido sempre após o início de março. Certo é que os tempos estão a ser encurtados dentro do que é o calendário estatutário.

A realização do próprio Conselho Nacional dia 3 não se trata de nenhuma convocatória extraordinária, já que seria natural (até seguindo o calendário dos estatutos) que o Conselho Nacional reunisse após as autárquicas. Não teria era que ser, necessariamente, dois dias após o escrutínio. Passos retira igualmente tempo à oposição para se organizar a tempo de fazer um ataque organizado já no próximo Conselho Nacional. Assim ganha tempo até ao próximo: que será só em no final de novembro.

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Passos anuncia que vai a votos

Em entrevista esta segunda-feira à Rádio Renascença, Passos Coelho afirma que o PSD “tem previsto realizar as suas eleições diretas e congresso no início do próximo ano.” E até concretiza que as eleições internas “ocorrerão por finais de janeiro, princípios de fevereiro”. Sugere ainda que a discussão da liderança (marcação de diretas) se faça no próximo conselho nacional e não neste de dia 3: “Há-de haver um conselho nacional que vai marcar isso, em princípio até finais de novembro, e o congresso seguir-se- á. Encaramos isso com absoluta normalidade.”

Passos Coelho disse ainda que as eleições internas são “uma coisa que não tem relação com a campanha eleitoral” e que “a liderança não está em jogo”, mas admite: “Se o PSD tiver mau resultado autárquico, isso é mau para a liderança do PSD. Se o
resultado autárquico for muito bom, isso é bom para a liderança do PSD.”

O líder do PSD também garante à Renascença que “as eleições autárquicas não servirão” nem para se “pôr ao fresco” nem para “fazer provas de vida dentro do PSD.” E acrescenta: “Eu sou presidente do PSD, quando existirem eleições internas a seu tempo me apresentarei a essas eleições.”