O esquema era sempre o mesmo: marcar um almoço de trabalho num hotel, chamar a mulher ao quarto, aparecer apenas com um robe vestido e pedir uma massagem em troca da carreira pela qual uma jovem atriz, assistente ou modelo tanto ansiava.
Harvey Weinstein, produtor de filmes como “Shakespeare in Love”, “O Discurso do Rei” ou “O Paciente Inglês” e vencedor de um Óscar, está a ser acusado de três décadas de assédio e chantagem sexual. O New York Times, que revelou toda a história, conta que o cineasta chegou a acordos com oito mulheres ao longo dos anos, para que estas não tornassem o caso público. Weinstein respondeu ao artigo e não negou a maioria das acusações.
Entendo que a maneira como me comportei com colegas no passado causou muita dor, e peço sinceras desculpas por isso. Ainda que esteja a tentar fazer melhor, sei que tenho um longo caminho a percorrer”, escreveu Weinstein no comunicado enviado ao Times.
Ainda assim, afirma que muitas das acusações são falsas e que vai processar todas as pessoas que se aproveitaram do caso. A atriz Ashley Judd foi uma das entrevistadas pelo New York Times. Há 20 anos, o produtor convidou-a para um pequeno almoço no hotel Peninsula Beverly Hills. Quando chegou, dirigiu-se à receção, onde lhe disseram que Harvey Weinstein estava à sua espera no quarto. Quando a porta se abriu, Weinstein estava de robe e perguntou-lhe se preferia dar-lhe uma massagem ou vê-lo tomar banho. Judd confessou ao jornal que pensou “como é que eu saio deste quarto o mais rápido possível sem rejeitar Harvey Weinstein?”
Em 2014, uma estagiária já contara publicamente que o produtor a chamou a um quarto de hotel e prometeu lançar a sua carreira caso esta aceitasse ter relações sexuais com ele. Um ano depois, surgiu outro caso: desta vez, uma assistente revelava que Weinstein apareceu nu e lhe pediu uma massagem. Este incidente deu origem a uma carta escrita em 2015 por uma colaboradora da empresa de Harvey Weinstein, a Weinstein Company.
“Existe um ambiente tóxico para as mulheres nesta empresa”, afirmava o documento enviado à administração da produtora. Mais tarde, veio a saber-se que a autora da carta, Lauren O’Connor, é uma das oito mulheres que assinou um acordo com Weinstein. Esse acordo, posterior ao envio do documento, envolvia a retirada da queixa e a saída de O’Connor da empresa.
Ashley Judd já tinha contado várias vezes a história do hotel a meios de comunicação social, mas nunca tinha referido o nome de Harvey Weinstein. Quando questionada sobre o porquê de falar agora, diz que “as mulheres deste meio falam do Harvey há já muito tempo, e acho que está mais do que na hora de falar sobre ele publicamente”.
Harvey Weinstein está a ser acusado por dezenas de mulheres de crimes de assédio sexual durante três décadas. Em muito desse tempo, foi casado – primeiro com Eve Chilton, depois com Georgina Chapman. Tem cinco filhos. Realizador e produtor, foi co-fundador da Miramax para depois fundar a sua própria produtora, a Weinstein Company.