Pedro Santana Lopes confirma de viva voz que é candidato à liderança do PSD, onde vai defrontar (pelo menos) Rui Rio. “Hoje é um dia de boas notícias: Portugal ganhou e eu sou candidato à liderança do PPD-PSD”, anunciou na SIC Notícias, no espaço de comentário que partilha às terças-feiras com António Vitorino. Santana Lopes adianta que disse a Passos Coelho que “preferia” que as eleições diretas fossem em janeiro, e não no início de dezembro, para ter tempo de “correr o país” como quer correr e “ir ter com os militantes todos”. Faz o discurso da renovação, falando ao ouvido dos mais jovens do partido, e diz que se candidata para “ganhar as eleições a António Costa”. Sem medo de “fazer pactos de regime”. O que o move? O “dever de avançar”, pelo país.

Estão cumpridos os “deveres institucionais”, que esta manhã Santana Lopes tinha dito que ainda lhe faltavam cumprir: falou com o presidente do partido, Pedro Passos Coelho, com o primeiro-ministro, António Costa, com o ministro da Segurança Social, e com os trabalhadores da Santa Casa, a quem enviou esta noite uma carta de despedida. “Quis ser leal com eles e não quis que soubessem depois do público em geral”, disse, sublinhando que prima pela “correção nos procedimentos”. “Agora sinto-me livre para confirmar e fazer o anúncio da candidatura”, disse.

A apresentação oficial, contudo, só a fará para a semana que vem. “Este é o anúncio, não vou fazer a apresentação oficial amanhã ou depois”, disse. E, garante, “os jornalistas vão poder fazer as perguntas que entenderem”, numa indireta a Rui Rio, que fará amanhã a sua apresentação em Aveiro, numa declaração à imprensa mas sem direito a perguntas.

Pedro Santana Lopes repete que não pediu “licença a ninguém”, mas com uma retificação: pediu licença aos filhos, que o “encorajaram”, ao contrário do que fizeram noutras ocasiões. O facto de o Conselho Nacional do PSD da última noite de segunda feira ter aprovado por “esmagadora maioria” a data das diretas para 13 de janeiro, e não 9 de dezembro, foi desde logo visto como um sinal de que era para Santana Lopes ganhar tempo. Tese confirmada agora pelo próprio Santana Lopes, que admite ter pedido à direção do partido para lhe dar mais tempo de “correr o país”.

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O que o move? Pedro Santana Lopes diz que “não é conversa de político”, e que o que o move é mesmo “o dever de avançar”. “Quando não fazemos o que nos motiva é uma verdadeira maçada”, diz. O objetivo: ganhar o partido, primeiro, e ganhar as eleições em 2019 depois. “Candidato-me para levar o PPD/PSD a disputar as eleições de 2019 e para as ganhar, não para ser segundo mas para ser primeiro”, disse.

Diz que não tem “nenhumas contas a ajustar com o passado”, mas explica porque não avançou noutras alturas para os cargos a que estava a ser apontado. “Não avancei em Lisboa porque deixar a Santa Casa para me candidatar à câmara não fazia sentido, mas aqui o que está em causa é o país. Ao candidatar-me à liderança quero fazer no meu partido o que ainda não pude fazer”, diz, sublinhando que foi mais fácil aceitar o convite de Durão Barroso para o substituir como primeiro-ministro do que será “ter de lutar pelo partido e depois pelo país”. Mas está “cheio de ganas”, diz.

Santana Lopes rejeita que vá ser um líder de transição — “isso fui da outra vez” — e diz que é a lutar para ganhar a António Costa, numa altura em que o líder socialista aspira à maioria absoluta, que se sente melhor.

Santana fala às gerações mais novas do PSD. “Gosto de estar com a malta nova, é com quem aprendemos mais”

Tem 61 anos, mas diz que isso não é um problema. Até foi olhar para as idades dos líderes europeus: Rajoy tem 62 anos, Merkel 62, o primeiro-ministro de Itália 61. Numa altura em que há um espaço vazio no partido para as gerações mais novas, com aspirações de renovação e modernização, é a eles, os chamados órfãos de candidatos como Luís Montenegro ou Pedro Duarte, que Santana Lopes fala. “Quero levar as gerações mais novas comigo, e tenho presidentes de câmara, malta dos 30 e 40 anos a virem ter comigo”, diz, sublinhando que gosta “de estar com a malta nova”. “Não sou um 60 anos a pender para os 90, gosto de estar com a gente nova, é onde aprendemos mais”, continua.

Mas é preciso equilibrar a balança. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Ao mesmo tempo que apela à renovação do partido, Santana reforça que vai “respeitar a herança e o passado”, apontando aqui o dedo a Rui Rio, que esteve de fora a criticar a atuação de Pedro Passos Coelho “numa altura difícil de quase salvação nacional”. Mas, nota, “não me vão ouvir dizer mal de Rui Rio, tenho consideração por ele, e vou respeitar o tempo de apresentação dele”. Rio foi vice-presidente de Santana, e ambos foram vices de Durão Barroso. “Sempre nos demos genericamente bem, se ele quiser encontrar-se para termos uma boa conversa, tudo bem”.

A conversa de eventuais entendimentos de bloco central deixa-a para Rui Rio, mas Santana Lopes pisca o olho ao centro. Diz que “não tem problemas em fazer pactos de regime” nem “complexos em fazer acordos com a esquerda”, sobretudo sobre as obras públicas — desafio lançado por António Costa ao PSD para um ciclo pós-autárquicas. “O acordo sobre as grandes obras públicas deve ser feito com naturalidade”, diz agora Santana Lopes.

Sobre questões orçamentais, outra bicada ao centro: o PSD, com Santana, irá apresentar propostas quando estiver na oposição. “Não é só o BE e o PCP que têm de apresentar propostas em matéria de política económica”, disse, num comentário na SIC onde o parceiro de debate, António Vitorino, pouco espaço teve para falar.