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Urban Beach. O 'modus operandi' dos seguranças agressores

Este artigo tem mais de 5 anos

O cruzamento de mais de uma dezena de relatos de testemunhas e vítimas ajuda a perceber como se comportam os seguranças do Urban em situações de agressão. O que fazem, como e a quem.

O vídeo divulgado na quarta-feira mostra vários seguranças a agredir violentamente um jovem no exterior da discoteca
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O vídeo divulgado na quarta-feira mostra vários seguranças a agredir violentamente um jovem no exterior da discoteca

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O vídeo divulgado na quarta-feira mostra vários seguranças a agredir violentamente um jovem no exterior da discoteca

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Só este ano, já é a terceira vez que vêm a público imagens e notícias de agressões violentas por parte dos seguranças da discoteca Urban Beach, em Lisboa. E os relatos sucedem-se na imprensa e em plataformas como o TripAdvisor ou o Google Reviews, com centenas de utilizadores a denunciarem atitudes racistas, agressões e insultos.

Em todos os relatos há um padrão, um conjunto de comportamentos que se repetem e permitem traçar um perfil daquilo que são os repetidos episódios de violência naquela discoteca lisboeta. Tudo começa habitualmente à porta, com o impedimento de entrar com base em critérios. Quando surge a violência, ela acontece quase sempre no exterior do edifício, e há três momentos que se repetem: serão comuns os murros e pontapés na cabeça e os estrangulamentos, as ameaças aos amigos que tentam proteger as vítimas e o roubo dos telemóveis para evitar que os vídeos venham a público. As reações por parte da gerência da discoteca também parecem seguir um padrão: negar os episódios de violência e atribuir as culpas aos clientes. Só esta semana, pela primeira vez, a discoteca admitiu e condenou as agressões.

O início: clientes barrados e acusações de racismo

Muitos dos relatos de violência no Urban começam com os clientes barrados à porta. É o caso de Connor McCreesh, um turista britânico que publicou um forte testemunho sobre as agressões que ele e o seu grupo de amigos terão sofrido este verão na discoteca. “Sou o primeiro na fila para entrar no clube e sou cumprimentado por um membro da segurança que me pergunta:
— Quantos são?
— Cerca de 10.
— Peço desculpa, é uma festa privada, têm de ir embora.”

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“Ignorando o facto de não nos terem pedido o nome para a lista da ‘festa privada’, e o quão estranho é o facto de o número de pessoas do grupo determinar se podemos ou não entrar, decidi não dizer mais nada e ir embora”, escreveu McCreesh. E foi aí que começou a cena de pancadaria.

Esta é a forma mais direta de barrar alguém. Mas há outras maneiras. Por exemplo, a exigência de uma quantia exagerada de dinheiro à porta. Foi o que aconteceu com a turista brasileira Rafa Berchembrock, que em dezembro do ano passado partilhou no Facebook a sua experiência na discoteca. Quando lá chegou, com duas amigas, contava ir a uma festa que tinha sido anunciada como gratuita para mulheres até às 2h da manhã. À porta, o segurança ter-lhe-á pedido 250 euros para entrar. “Essas cá já não entram, se quiserem entrar vai ser 250 euros”, ter-lhes-á dito o segurança, segundos depois de deixar entrar gratuitamente um grupo de mulheres italianas. Uma das amigas da brasileira ainda tentou argumentar com o segurança e terá sido arrastada para fora da fila. Rafa Berchembrock também terá sido agarrada pelo pescoço e arrastada dessa forma para longe da fila.

Pontapés na cabeça e jovens ensanguentados. Sete casos de agressão na discoteca Urban Beach

Se os critérios às vezes parecem aleatórios, outras vezes houve acusações de racismo. Foi o caso de Ruben, um jovem afro-americano que denunciou ao Observador as agressões que sofreu na discoteca com a irmã mais nova a ver. Ruben dirigiu-se ao Urban Beach com um grupo de amigos e o segurança terá deixado todo o grupo entrar gratuitamente exceto Ruben, a quem terá pedido 250 euros. O grupo acusou o porteiro de racismo e a situação terminou em violência.

Muitas avaliações da discoteca na Internet também falam em racismo. “Racismo puro e duro todas as noites”, escreveu um utilizador do TripAdvisor. “Os seguranças são bárbaros e racistas; tratam as pessoas como se fossem gado, empurrando por todos os lados e, se for necessário, recorrem à violência”, denunciou outro. “Seguranças na porta extremamente mal educados e racistas“, acrescentou ainda uma outra utilizadora da plataforma, onde a discoteca é avaliada com 2,5 pontos em 5.

Primeiro ataque: pontapés na cabeça e estrangulamentos

Quando os conflitos passam à violência física, os relatos apontam para técnicas de combate violentas usadas pelos seguranças. Murros e pontapés na cabeça são o mais frequentemente relatado, a par de estrangulamentos. Um dos casos mais chocantes é o último, que veio a público na quarta-feira. No vídeo, que correu as redes sociais, é possível ver os seguranças a pontapear repetidamente a cabeça de um jovem e, a dada altura, um deles salta com os dois pés para cima da cabeça da vítima.

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Também no caso de Ruben, em agosto deste ano, a técnica terá sido utilizada. “Deram-me murros e pontapés no rosto e nas costelas”, recordou o jovem ao Observador. E o britânico Connor McCreesh relatou precisamente o mesmo: “O Kib [um amigo do britânico] leva um grande pontapé no rosto, parece que foi atingido por uma bomba. Vou ter com ele e, quando ainda estava a perceber o que estava a passar, leva outro soco no queixo”. “Não são dez seguranças, são dez cães raivosos sóbrios, coordenados, claramente treinados para lutar com aqueles pontapés na cabeça.”

Além dos pontapés na cabeça, há relatos de os seguranças recorrerem a técnicas de imobilização como o estrangulamento, chegando muitas vezes a deixar as vítimas estendidas no chão sem sentidos. “Quando eu vi isso [as agressões à amiga] gritei na mesma hora para ele soltar ela, e então veio outro segurança e me pegou pelo pescoço (isso mesmo!!) e me arrastou me enforcando para fora da festa”, escreveu a brasileira Rafa Berchembrock, em dezembro do ano passado.

Também um grupo de jovens portugueses contou o mesmo em agosto deste ano, ao Observador. O grupo, que se encontrava naquela discoteca a comemorar uma despedida de solteiro, terminou a noite num episódio de pancadaria que deixou a maioria dos elementos do grupo, incluindo o noivo, com lesões graves. “De repente, um segurança chega por trás, sufoca-o e leva-o ao chão. Nem tentou acalmar os ânimos nem nada, e o empregado ainda bateu no meu irmão”, relatou uma das vítimas ao Observador.

As críticas e denúncias na primeira pessoa, em plataformas na Internet, vão ao encontro disto mesmo. “O segurança puxou-me de um mata leão [técnica de combate que passa por apertar o pescoço com o braço] sem eu ter feito nada!”, escreveu um utilizador do Google Reviews. “Os seguranças bateram nos meus amigos enquanto estavam à porta. Nenhum deles tinha tocado nos seguranças. Um dos meus amigos não só levou um pontapé na cabeça e perdeu os sentidos, como depois foi estrangulado“, contou uma utilizadora da mesma plataforma, em inglês. Um terceiro visitante afirmou: “Podemos vê-los a agredir as pessoas até elas saírem da discoteca e a pontapeá-las na cabeça”.

Segundo ataque: as agressões aos amigos

Por norma, a vítima é apenas uma, mas, segundo os relatos, o conflito termina quase sempre com mais agredidos. Foi assim no caso que agora veio a público com este vídeo, foi assim no caso contado pelo britânico Connor McCreesh, foi assim na situação relatada pela brasileira Rafa Berchembrock e continua a ser assim em muitos casos denunciados por diversos clientes. Isto porque, minutos depois das primeiras agressões, os seguranças farão o mesmo também aos amigos das vítimas, que as tentam socorrer.

No vídeo divulgado na quarta-feira, é visível o momento em que um amigo da vítima, que sai em sua defesa, é também agredido pelos seguranças. O mesmo relatou Rafa Berchembrock no seu Facebook, ao lembrar que, quando gritou para o segurança largar a sua amiga, terá sido ela própria agredida, pegada pelo pescoço e arrastada para longe da entrada da discoteca.

O britânico Connor McCreesh contou uma situação semelhante. Segundo ele, depois de o seu amigo Kib ter sido agredido pelos seguranças, o grupo de amigos juntou-se em torno do jovem para o proteger. Os seguranças, que entretanto se tinham afastado, ter-se-ão aproximado do grupo e começado a pontapear os vários amigos, enquanto gritavam “Tirem-no já daqui! Não podemos deixar ninguém entrar, tirem-no daqui já!“.

Também a situação ocorrida durante a despedida de solteiro denunciada por um grupo de jovens portugueses ao Observador foi semelhante. Tudo terá começado quando o noivo, de 29 anos, que estava a dançar numa zona reservada da discoteca, foi advertido por um barman para o facto de não poder estar ali, sendo ameaçado de expulsão. O noivo ainda respondeu ao funcionário, que de imediato o terá agarrado pelo pescoço. De seguida, terá chegado um segurança, que o colocou no chão. Em poucos minutos, o grupo de amigos, que tentava defender o noivo, já tinha sido agredido por “cerca de dez seguranças”, contou uma das vítimas ao Observador.

Na Internet, sucedem-se denúncias semelhantes. “Os seguranças agrediram o nosso amigo na cara e quando nós chegámos para ajudar eles organizaram-se de uma forma militar e começaram a bater-nos a todos da mesma maneira”, escreveu um utilizador do Google Reviews, destacando que o amigo “estava no chão com convulsões enquanto os seguranças ainda lhe estavam a bater”.

No fim: os telemóveis atirados ao rio

Durante as agressões, que acabam habitualmente com as vítimas gravemente feridas e estendidas no chão, os seguranças por vezes retiram os telemóveis às vítimas, contam vítimas e testemunhas. O objectivo será garantir que não há vídeos a serem colocados na Internet e os seguranças pegam nos telemóveis e atiram-nos ao rio, ali bem perto. A atitude é relatada por diversas pessoas.

No seu testemunho, Connor McCreesh afirma que isso aconteceu a uma das raparigas que faziam parte do seu grupo e que tinha filmado toda a cena com o telemóvel. “Ele agarra no telemóvel dela, bate-lhe e atira o telemóvel para a água antes de regressar para a discoteca”, escreveu o britânico.

Um utilizador do Google Review recordou uma situação semelhante: “Quando uma amiga minha tentou filmar o incidente, eles agrediram-na na boca e atiraram o telemóvel dela ao oceano”.

Eles sufocaram um amigo meu até ele perder a consciência, tivemos de o levar ao hospital. E causaram uma lesão grave no olho a outro amigo. Depois, agrediram uma amiga nossa, pegaram no telemóvel dela e atiraram-no ao rio”, acrescentou outro utilizador da mesma plataforma.

Um outro detalhe comum a todos os relatos é o facto de as agressões acontecerem quase sempre no exterior do estabelecimento. Mesmo quando começam dentro da discoteca, terminam sempre à porta, como sucedeu no caso da despedida de solteiro relatada no Observador. Será, aliás, este facto que permite à administração do Urban Beach justificar as agressões como “problemas de segurança na via pública”, demarcando-se dos repetidos atos de violência levados a cabo pelos seguranças, como aconteceu esta semana.

Há agressões que começam no interior da discoteca, mas os seguranças arrastam os clientes para o exterior do estabelecimento

As reações: “problema de segurança na via pública” ou a culpa é do cliente

As múltiplas agressões que têm ocorrido ao longo dos últimos anos na discoteca — só em 2017 já foram feitas 38 queixas à PSP — não têm suscitado grandes declarações públicas por parte da administração do Urban Beach. E, quando há reação, esta passa quase sempre por negar as agressões, por colocar a culpa do lado da vítima ou por classificar as agressões como incidentes na via pública.

Foi isso que aconteceu em 2014, quando um estudante de 23 anos ficou ferido depois de o barman da discoteca o ter alegadamente espancado. “Não houve qualquer agressão”, disse a administração da discoteca ao Correio da Manhã. Em 2016, quando duas jovens de 26 anos foram alegadamente agredidas por um segurança da discoteca, a administração do Urban Beach negou ao Notícias ao Minuto, que avançou a notícia, a existência de agressões e sublinhou que foram as jovens que foram convidadas a sair por “comportamento impróprio“.

Já este ano, depois do episódio de pancadaria durante uma despedida de solteiro na discoteca, o presidente do Conselho de Administração do grupo que gere o Urban Beach, Paulo Dâmaso, disse ao Observador que a agressão partiu de um dos jovens, que estaria a ter um comportamento “excessivo e que não é adequado”, e que por isso a atitude dos seguranças “foi um ato de defesa para repor a normalidade”.

Esta semana, com um vídeo das agressões a tornar-se viral na Internet, a reação da discoteca foi diferente. Paulo Dâmaso repudiou as agressões, mostrou-se disponível para colaborar com a investigação e defendeu que o crime “tem cara e é visível para todos os que visualizaram o vídeo”. Contudo, Dâmaso tornou a demarcar-se do incidente, classificando-o como “um problema estritamente de segurança na via pública”.

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