Quase metade de água tratada para uso humano acaba por ser utilizada para outros fins como a rega de jardins, a lavagens de ruas ou até de viaturas. Estas são algumas das conclusões a retirar dos dados da Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR) referentes já ao ano de 2016, segundo os quais a água total consumida corresponde a cerca de 201 litros por habitante a cada dia. Mas a quantidade de água consumida per capita e faturada para uso doméstico pelas entidades gestoras representa 124 litros por dia. O resto da água tratada (quase 40%) é faturada a outras entidades que não famílias ou particulares, como empresas de indústria e serviços ou os próprios serviços autárquicos, e inclui os recursos usados para rega de jardins e lavagens de ruas ou viaturas, explicou ao Observador fonte oficial da ERSAR.

Para o presidente da entidade reguladora, Orlando Borges, a quantidade de água para o consumo das pessoas até é adequado, mas Orlando Borges considera, em entrevista à Antena 1, que a quantidade de água tratada que se usa para outros fins é um problema. Ou seja, estamos a “usar água, que é tratada e que tem um custo, para regar ou para a lavagem de veículos. Uma coisa é o consumo de água pelas pessoas que tem valores adequados, outra coisa é o consumo de água supletivo que quase duplica este. Quando estamos a lavar as ruas e a regar jardins estamos a usar água para um fim que não é nobre e que não carece de tanto investimento como se fosse para uso humano”, sublinhou o presidente do regulador.

As declarações de Orlando Borges surgem no contexto da seca, em que várias entidades, entre Governo e autarquias, estão a promover ações e campanhas para poupança de água, sobretudo junto dos consumidores domésticos. Mas o que estes números mostram é que quase metade (cerca de 40%) da água tratada e que está disponível na rede acaba por ter outros destinos que poderiam ser servidos com o recurso, por exemplo, a água reciclada. Outro dos problemas identificados na gestão da água é o elevado nível de perdas na rede que a nível nacional ainda ronda os 30% e que resultam sobretudo de ruturas que, por sua vez, são muitas vezes o resultado da falta de investimento na renovação das infraestruturas de abastecimento.

Lisboa lança plano para a seca, mas não controla freguesias

A Câmara de Lisboa foi uma das entidades que anunciou um plano de contingência com para responder à seca. Mas as medidas referidas — suspensão do funcionamento de fontes públicas, suspensão de rega nas áreas em redor das grandes vias rodoviárias e a redução da regra de zonas verdes geridas pela autarquia — mereceram já as críticas. Para o CDS, são insuficientes e não resolvem o “desperdício” deste recurso em tempo de seca.

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CDS acusa câmara de Lisboa de desperdiçar água em tempo de seca

Por outro lado, e em resposta dada ao Observador no final de outubro, fonte oficial da autarquia reconhecia que não conhecia, nem controlava as práticas seguidas pelas juntas de freguesia em atividades que usam água potável como a lavagem de ruas. O Observador questionou a Câmara de Lisboa sobre o uso de água da rede para lavar ruas por parte de freguesias do centro histórico de Lisboa, mas a referida fonte afirmou desconhecer a prática de todas as freguesias da cidade — são 24.

No que diz respeito à limpeza das ruas que está a cargo das Juntas de Freguesia não temos conhecimento de todas as práticas. Temos conhecimento de várias juntas, como a das Avenidas Novas, que, atendendo ao período de seca, não têm vindo a fazer a lavagem dos passeios desde finais de junho e julho”.

A própria Câmara não usa água potável para lavagens na cidade, recorrendo a águas residuais tratadas com origem nas estações de tratamento (ETAR) de Alcântara e Chelas. A autarquia de Lisboa dizia ainda, na resposta datada de 31 de outubro, que as medidas de permanentes já adotadas para reduzir o consumo e o uso mais eficiente da água e dos sistemas de rega permitiram diminuir em 17% o consumo do recurso nos últimos 10 anos, apesar do aumento dos espaços verdes.