Ainda faltam dez minutos para a hora marcada, as 16h. Uma voz off anuncia a chegada de Pedro Santana Lopes. Quase 400 lugares sentados, um ecrã gigante retangular entre dois ecrãs redondos, e três espaços para os debates temáticos com cerca de 80 lugares cada um. Aparato. Foi na sala de congressos onde recentemente se reuniu o PS Europeu e no espaço renovado onde o PPD, antes de ser PSD, fez o primeiro congresso em 1974. A Convenção Nacional da candidatura de Pedro Santana Lopes, que consistiu numa série de painéis temáticos com debates no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, arrancou… mas sem Pedro Santana Lopes. A voz off do speaker estava apenas a fazer um ensaio antes de as portas abrirem. Nos cinco debates rápidos realizados com participantes como Jorge Braga de Macedo, Nuno Ribeiro da Silva, Jorge Bravo ou Barreto Xavier decorreram sem a presença do candidato à liderança do PSD. Que os ouviu através das redes sociais, diria mais tarde.

Quando chegou, não entrou. Pedro Santana Lopes foi para uma sala assistir por um circuito de televisão interno ao que se estava a passar na nave principal do pavilhão. Militantes, jotas e dirigentes começaram então a alinhar-se junto à passadeira que dava acesso ao palco — já depois de fechados os debates. À espera do candidato.

Antes de entrar no pavilhão, Pedro Santana Lopes ficou a ouvir a intervenção de Rita Marques Guedes pelo circuito interno de televisão. Fotografia: João Porfírio/Observador

Quando Santana chegou, às 19h46, era o que se esperava. A entrada apoteótica, e quase todos os presentes com bandeiras no ar. Quando subiu ao palco, disse que tinha estado a seguir a convenção pelas redes sociais.

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Três horas antes, ainda se aprontavam dezenas de cartazes e bandeiras com os nomes das distritais, que seriam agitadas pelos presentes mais tarde, quando o momento fosse mais de festa que de reflexão. Pedro Santana Lopes tinha hora de chegada marcada para as 18h30, para uma entrada triunfal seguida de uma sessão de perguntas e respostas com os militantes ou com quem quisesse aparecer. As portas estavam abertas a militantes, como “a todos os cidadãos interessados no futuro de Portugal”.

Esta área estava reservada aos debates setoriais. Foram usados apenas dois destes três espaços

O futuro seria debatido nos painéis, em sessões rápidas. Nenhuma levou mais de meia hora. Cada orador tinha cerca de seis minutos e quase não havia tempo para perguntas. O debate sobre a competitividade e a economia — em que participou Jorge Braga de Macedo, ex-ministro das Finanças — animou quando Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal, disse que há um “ambiente e um discurso anti empresas” por parte do Governo e dos partidos que o apoiam no Parlamento. Ribeiro da Silva chegou a afirmar que os empresários portugueses “estão a investir mais no estrangeiro que no país o pouco capital que existe em Portugal”. O gestor criticou o “ambiente hostil” às empresas de pasta de papel, “que vão investir noutros sítios porque em Portugal são mal vindas se fizerem recuperação de floresta e terrenos, por causa de um fetiche de algumas forças políticas”. Era um recado para o Bloco de Esquerda e para Os Verdes.

Para Nuno Ribeiro da Silva, há uma sensação de “insegurança” por mudanças do Governo que “põe em causa investimentos que estavam previstos.” O presidente da Endesa alegou que se o ambiente para os negócios fosse outro, a economia, o crescimento seria mais acentuado:

Estávamos a crescer muito mais se não houvesse um discurso agressivo com o privado. Esse anacronismo, esse discurso ideológico”.

A sustentabilidade da Segurança Social foi posta em dúvida no painel sobre políticas sociais, pelo académico Jorge Bravo — onde também participaram os deputados Miguel Santos e Teresa Morais e o médico social-democrata Jorge Martins Nunes. O cenário negro traçado por Jorge Bravo, que no anterior Governo pertenceu à Comissão Interministerial de Reforma do Sistema de Segurança Social”, considerava que nem com a economia a ajudar com um crescimento de três ou quatro por cento ao ano, seria possível garantir a sustentabilidade do sistema, “sem um equilíbrio demográfico entre os que contribuem e beneficiam”. Entre outras ideias, o académico sugeriu mais um “aumento da idade da reforma”. Uma medida que devia ser acompanhada por políticas ao nível da saúde: “É preciso que os trabalhadores sejam saudáveis para trabalhar até aos 67 ou 69 anos”. E acrescentou: “Também é preciso manter os trabalhadores motivados. Temos de criar condições para que se sintam bem no local de trabalho”.

O último painel da tarde estava reservado para o tema da “Celeridade da Justiça” e também aí houve propostas mais ou menos arrojadas. O advogado Alfredo Castanheira Neves, por exemplo, sugeriu que se acabasse com as férias judiciais, na mesma medida em que “os hospitais também não fecham durante três meses e não é por isso que os médicos não tiram férias”. O deputado Carlos Abreu Amorim, que também foi um dos oradores deste painel, defendeu que o “tempo da justiça” não pode ser comparado ao “tempo da política” mas tem de ser “comparável e adaptável ao tempo da sociedade e do mundo em que vivemos”, defendeu, sugerindo que o pacto da justiça ontem assinado, com cerca de “80 medidas”, não muda a filosofia do sistema judicial existente — e é isso que é preciso mudar.

Já o deputado Fernando Negrão defendeu sobretudo a “independência dos juízes e a autonomia do Ministério Público”, sublinhando que é essa a perspetiva defendida por Pedro Santana Lopes. A referência ao candidato levaria o moderador a lembrar que também ele, Santana Lopes, é jurista e advogado, pelo que “também terá certamente um bom contributo” para a discussão.

Só que Santana Lopes não estava nem no palco nem na plateia.