Depois de Faro e Guimarães, enfermeiros do Hospital de Leiria denunciam também a falta de capacidade daquele serviço de urgência para fazer face à grande afluência de doentes devido ao pico da gripe.
Uma fotografia tirada por enfermeiros daquele hospital, a que o Observador teve acesso, mostra uma zona do serviço de urgências — que em condições normais é ocupada por cadeirões e que serve como zona de passagem –, repleta de macas com doentes.
Profissionais daquela unidade queixam-se da falta de enfermeiros e de auxiliares para fazer face à afluência de doentes, mas também da falta de algum material e medicação, uma situação que, dizem, já se repete há vários anos.
Os enfermeiros denunciam também que muitos dos doentes são escondidos quando membros do Governo visitam a unidade — um aspeto que tem sido repetido pela própria bastonária da Ordem dos Enfermeiros.
Hospital diz que edifícios e quadros de pessoal “não esticam”
Fonte oficial do Conselho de Administração do Hospital de Leiria explicou ao Observador que esta é “uma situação de emergência e como tal deve ser encarada e analisada”.
O problema, considera a administração daquele hospital, está “no excesso e indevido recurso às urgências, e como os edifícios e os quadros de pessoal não “esticam” à medida dos picos de procura — nem poderia ser assim –, essas medidas não foram suficientes, havendo a necessidade de ocupar o espaço disponível”.
“Não sendo a situação ideal, longe disso, não temos notícia de alguém estar a ser mal tratado ou desrespeitado nos seus direitos cívicos e de cidadania”, sublinha. “E as situações de emergência exigem medidas de emergência, que são sempre as melhores possíveis tendo em conta as circunstâncias”, acrescenta a mesma fonte.
Macas até na receção do hospital de Guimarães, denunciam enfermeiros
“É do conhecimento geral que estamos a sofrer uma epidemia gripal, o que faz aumentar exponencialmente as idas às urgências dos hospitais, muitas vezes desnecessariamente: as falsas urgências estão estimadas em 40% neste hospital e na generalidade dos hospitais do SNS. O acesso generalizado e em massa às urgências, aliás, não só “entope” as urgências, como aumenta os riscos dos utentes, que muitas vezes apanham ou agravam uma doença no ambiente hospitalar que escusavam de ter experimentado”, diz ainda o Conselho de Administração do Hospital de Leiria.
Para fazer face a esta epidemia, o Centro Hospitalar de Leiria “tomou as medidas que podia tomar, no âmbito do seu Plano de Contingência com os meios disponíveis, reescalando o pessoal médico e de enfermagem de modo a reforçar as urgências e libertando o espaço possível para receber mais utentes”, explica a administração do hospital, na resposta ao Observador.
Relativamente às restantes denúncias, a administração do hospital nega “que exista falta de material de qualquer tipo para o adequado tratamento dos doentes” e que exista “deslocação de profissionais, nomeadamente enfermeiros do serviço de medicina intensivo, na medida em que este serviço está com lotação que não o permite, e só por isso”.
A terminar a resposta enviada ao Observador, a administração do hospital sublinha que os seus “profissionais, médicos, enfermeiros e auxiliares”, estão a fazer o melhor que podem. “Sabemos que estamos ao serviço da população que servimos. Aceitamos toda a ajuda que nos puder ser dada, porque essa ajuda reverterá a favor da população”.
Enfermeiros denunciam caos nas urgências de Faro. Veja as fotos polémicas
A polémica começou com a denúncia pública, por parte de enfermeiros do Hospital de Faro, da falta de condições do serviço de urgências hiperlotado naquele hospital. A Ordem dos Enfermeiros veio aplaudir a denúncia e apelar aos enfermeiros de todo o país que seguissem o exemplo.
Esta segunda-feira, o Observador publicou fotografias tiradas por enfermeiros do Hospital de Guimarães, que denunciam que até na receção do hospital estão a ser colocadas macas. O administrador do hospital, Delfim Rodrigues, negou as denúncias e acusou a bastonária da Ordem dos Enfermeiros de estar a incentivar a “violação do direito à privacidade dos doentes”, ao apelar às denúncias.