Primeiro, foi a preferência pelos violinos de Chopin. Em 1990, quando foi nomeado secretário de Estado da Cultura, perguntaram-lhe qual a sua peça de música erudita favorita. A gaffe tornou-se histórica. Chopin nunca escreveu uma peça para violino: toda a obra do compositor foi escrita para piano. Desta vez, para mostar alguma erudição como aluno de piano, disse que já tocava o “Wohltemperierte Preludium” de Bach. Não foi propriamente uma gaffe, ou um erro tão básico, mas uma imprecisão na forma como pronunciou o alemão (que diz dominar) e como se referiu à obra, que tem outra designação. Não se percebe qual dos prelúdios toca, mas pode presumir-se que seja o mais simples, diz o pianista Filipe Raposo ao Observador.
Na noite desta terça-feira, em entrevista à SIC Notícias, o candidato à liderança do PSD voltou a falar do assunto. Questionado pela jornalista Clara de Sousa, sobre se já se ria da sua própria gaffe, garantiu que sim, e que até já aprendeu piano. De Chopin é que diz não saber tocar nada. “Eu é mais música romântica, sempre”, afirmou.
E exemplificou os seus dotes atuais, com uma nova gaffe musical. Se não foi uma gaffe, pelo menos o candidato à liderança do PSD não foi preciso quanto à peça a que estava a referir-se. “Talvez o Wohltemperierte Preludium [sic], de Bach. Esse toco. Do Chopin, nunca aprendi, porque sabe… pronto, eu também vou aprendendo aquilo que o professor ensina”, comentou. Mas, afinal, que peça é esta que Santana sabe tocar?
O sotaque alemão não é o melhor, apesar de Santana afirmar frequentemente que domina a língua. “Sei falar e já falei, no tempo anterior de governo, com Gerhard Schroeder na sua língua natal ou com Vladimir Putin na mesma língua, porque viveu em Dresden muitos anos“, garantiu no discurso de apresentação da candidatura.
O pianista português Filipe Raposo ouviu a entrevista e explica ao Observador o nome da peça, além de “estar mal dito em alemão”, também “não existe”. Na verdade, a designação é: Das Wohltemperierte Klavier. Trata-se de um conjunto de 24 peças, “12 prelúdios e 12 fugas, escrito com um objetivo pedagógico”, diz o pianista ao Observador.
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“Cada uma dessas peças é escrita numa determinada tonalidade, perfazendo as doze tonalidades”, destaca Filipe Raposo. Profissionalmente, a coleção é interpretada por pianistas experientes, mas o primeiro prelúdio — em dó maior — é “excecionalmente mais fácil”, pelo que é utilizado no ensino do piano em fases iniciais.
[Veja aqui os vídeos antigos que perseguem Santana. E a reação dele]
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Segundo Filipe Raposo, é uma peça que se dá “nos primeiros anos de aprendizagem“, fazendo “parte do processo pedagógico”, podendo deduzir-se, portanto, que seja a este primeiro prelúdio da coleção que Santana Lopes se refere na entrevista.
“Qualquer pessoa, numa semana, consegue aprender a tocar aquilo para si. Agora para interpretar em público já é outro campeonato”, comenta o pianista.