Na véspera da inauguração, Tiago Talone abre as portas da muito antecipada Fábrica de Cervejas Portuense ao Observador, e confessa uma “descarga de adrenalina”. Da entrada vê-se a loja, onde, para além das garrafas de cerveja Nortada ali produzidas, se vendem camisolas, recordações e alguns produtos da região. Também se vê o amplo bar, que serve de antecâmara ao restaurante, com quatro mesas e um projetor para ver os grandes jogos de futebol. O que não está à vista são os seis anos que Tiago e o sócio Pedro Mota andaram até ali chegarem. Aos três pisos do número 210 da Rua de Sá da Bandeira, onde já laborou uma ótica.

“Dois miúdos quiseram sonhar. E agora estamos aqui”, solta Tiago Talone, enquanto guia o Observador pelo espaço, uma mistura harmoniosa entre fábrica e bar/restaurante. Em 2012, Tiago trabalhava na gigante cervejeira Unicer, mas o que queria mesmo era criar a sua marca de cerveja artesanal. Foram precisas muitas reuniões com investidores e estudos de viabilidade em vários edifícios até lançar a sua Nortada, no dia 7 de abril de 2017. O espaço onde funciona a fábrica deveria ter inaugurado na primavera, mas as obras foram atrasando. Até esta quinta-feira, dia em que abre em soft opening e assim ficará, até março.

Uma passagem em arco separa as diferentes áreas do restaurante, com mesas espalhadas por dois pisos e com cerca de 150 lugares sentados. No piso térreo, duas caldeiras em cobre roubam todas as atenções. “São a nossa peça central. É aqui que se faz o mosto”, explica Tiago. O que significa que, a meio de qualquer refeição, um funcionário ou a própria mestre cervejeira Diana Canas podem passar por ali para avaliarem a brassagem do mosto. É uma boa oportunidade para quem quiser saber mais sobre o processo de produção poder fazer as perguntas que quiser.

“Todas as nossas cervejas sabem muito a malte. O sabor é mais intenso porque, como é mais limpo, nota-se mais o malte”, explica Pedro Mota, sobre o que distingue a Nortada das cervejas industriais e das outras artesanais. O equipamento de qualidade que usam colocam a marca entre as industriais e as artesanais mais pequenas. “As industriais têm uma cerveja limpinha mas esse processo retira algumas das características da cerveja. O nosso preserva-as.”

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Atualmente há sete variedades de pressão no bar. A Porto Lager, 100% malte, é a mais fácil de encontrar nos restaurantes portuenses. A Vienna Lager, de corpo médio, tem uma tonalidade cobre e notas de malte tostado.

A Brown Porter, cremosa e aveludada, com notas subtis de caramelo, é a menos alcoólica de todas, com 4,8%. No extremo oposto está a Imperial Stout, com 8,5% de teor alcoólico. “É a rainha das stouts”, prometem os dois sócios. Não podia faltar a India Pale Ale, a mais amarga das sete, bastante lupulada.

A juntar às cinco variedades permanentes há ainda duas edições especiais limitadas, que só ali poderão ser degustadas. A Dark Lager, de cor preta, tem um sabor ligeiramente torrado, coroado por uma espuma cremosa. Por mim, a Weiss Bier, feita de malte de trigo, é mais turva e, aconselham os responsáveis, “ideal para refrescar uma tarde de calor”. A cerveja mais económica custa 1,50€ e há copos desde os 0,20 litros aos dois litros. Este último é, na verdade, uma garrafa que se pode pedir para levar para casa.

Em todos os cantos do edifício-se sente o aroma adocicado da produção do mosto. No primeiro piso fica o laboratório onde se fazem as provas de qualidade, bem como 10 tanques onde a bebida fica a fermentar durante alguns dias. Os vidros transparentes do laboratório permitem que as mesas à volta possam ver tudo o que ali se passa. No piso -1 está a fábrica, onde se vão produzir até dois milhões de litros de Nortada por ano. À vista de quem quiser, pois claro. No futuro, a ideia é terem visitas guiadas ao público.

“Não há na Europa outro espaço onde haja tanta proximidade dos clientes com a produção”, afirma Tiago Talone, adepto do fenómeno da cerveja artesanal que há muitos anos conquistou a Europa e que só recentemente começou a conquistar os portugueses.

Outra característica que distingue a FCP (não confundir com Futebol Clube do Porto): “Normalmente a bebida acompanha os pratos, mas aqui é ao contrário. Quero que as pessoas venham cá beber cerveja. A comida é que harmoniza”, sublinha Tiago. O chef Pedro Marques desenhou uma carta generosa, com pratos para partilhar. Os pratos indianos, como o caril de gambas (9€) ou o caril de legumes (6€), casam com a India Pale Ale, por exemplo. Para as tábuas de enchidos (6,50€ a 9,90€), os ovos rotos (6€) e o polvo laminado (5,50€), aconselha-se a Porto Lager.

A Brown Porter harmoniza com o hambúrguer cheesebacon (7,50€), os aros de cebola frita (3€) e o tiramissu (5€), por exemplo. A Dark Lager joga melhor com uns cogumelos salteados (3,50€), o costeletão (60€) ou o naco da vazia (14€). O menu dá estas e outras sugestões. E os funcionários estão disponíveis para explicar o porquê de cada conjugação.

Ao todo, a Fábrica de Cervejas Portuense emprega meia centena de pessoas. Tiago e Pedro acreditam que muitos outros postos de trabalho ainda estão por criar no Porto, relacionados com a cerveja artesanal. “A Gulden Draak, marca de cerveja belga, acabou de se instalar no Porto”, relata Pedro Mota, sem qualquer medo de concorrência. É o segundo espaço em todo o mundo que a Gulden Draak inaugura. “Acho que muitas marcas vão escolher o Porto e também Lisboa para se instalarem. E quantos mais melhor, porque ainda estamos atrasados em relação à Europa. No final deste movimento da microcervejaria muitas vão ficar pelo caminho, mas as mais bem preparadas continuarão”, completa Tiago Talone. E, para eles, não há dúvida: a Nortada veio para ficar.

Nome: Fábrica de Cervejas Portuense
Morada: Rua de Sá da Bandeira, 210, 4000-427 Porto
Contacto: geral@fcportuense.pt
Horário: Terça a quinta das 10h às 00h, sexta e sábado das 10h às 02h
Site: www.facebook.com/fcportuense