Maria João Sande Lemos, uma das fundadoras do braço português do movimento católico Nós Somos Igreja — que defende um maior papel das mulheres na Igreja Católica –, diz que “as mulheres, na Igreja, são tratadas como pessoal de segunda“.
No dia em que a revista Donne Chiesa Mondo, uma revista do jornal oficial do Vaticano, o Osservatore Romano, sobre as mulheres na Igreja, publicou um artigo em que denuncia a “servidão” e o trabalho gratuito de freiras ao serviço de bispos e cardeais, a responsável portuguesa confirma já ter assistido a várias situações do género, e sublinha: “Agora foi notícia, mas isto não é, de todo, uma situação nova”.
“Uma vez vi uma fotografia de um cardeal que ia para uma grande celebração e ao lado dele ia uma freirinha só para segurar o chapéu dele”, exemplifica, em declarações ao Observador. Segundo Maria João Sande Lemos, “o Vaticano não dá suficiente atenção às mulheres“, relegando-as para funções menores.
“Para o Vaticano, as mulheres são ótimas para os serviços de costura, para limpar a igreja, para as funções de secretariado. Mas para ajudar a preparar as homilias não são convidadas. Ou para fazer parte de conselhos diocesanos, ou para serem consultoras da Conferência Episcopal”, comenta.
Para Maria João Sande Lemos, “enquanto a Igreja Católica não reconhecer a igualdade entre homens e mulheres”, nomeadamente aceitando a ordenação sacerdotal das mulheres — uma das grandes reivindicações do movimento Nós Somos Igreja –, não haverá solução para este problema.
No artigo publicado esta quinta-feira pela revista Donne Chiesa Mondo, são expostas denúncias de três freiras, identificadas com nomes fictícios (Maria, Paula e Cecília). As religiosas descrevem como as freiras servem nas casas dos bispos e dos cardeais, trabalham em cozinhas de instituições da Igreja ou dão aulas. Sobretudo, são-lhes atribuídas tarefas domésticas nas casas dos homens que estão à frente da Igreja, no Vaticano.
“Algumas servem os homens da igreja, levantam-se de manhã para fazer o pequeno-almoço, e vão dormir depois de o jantar ser servido, a casa limpa e a roupa lavada e engomada”, lê-se.
A editora da revista, Lucetta Scaraffia, disse à Associated Press que a publicação pretende “dar voz àqueles que não têm coragem para dizer estas palavras”. “Até agora, ninguém tinha tido a coragem de denunciar estas coisas”, afirmou.
Considerada “a feminista do Vaticano” por vários media religiosos, Scaraffia diz que o papa Francisco lhe disse que lia frequentemente e apreciava a revista, que é publicada todos os meses em italiano, espanhol, francês e inglês juntamente com o jornal oficial do Vaticano.