O pediatra, cientista e perito norte-americano em desenvolvimento infantil T. Berry Brazelton morreu na quarta-feira, anunciou o Centro Internacional com o seu nome. Brazelton fazia 100 anos em maio.
“É com profunda tristeza que compartilhamos a notícia de que nosso estimado colega e amado amigo e mentor, T. Berry Brazelton, morreu nesta manhã, 13 de março de 2018. O mundo perdeu um verdadeiro herói para bebés, crianças e famílias”, refere o Centro Brazelton no seu ‘site’ na internet.
https://www.facebook.com/fundacaobgp/photos/a.572282306120692.145842.534151746600415/2093157690699805/?type=3&theater
Berry Brazelton, autor da obra “O Grande Livro da Criança”, traduzida em Portugal, era professor emérito de pediatria na Harvard Medical School e foi um dos clínicos e defensores mais influentes em pediatria e em desenvolvimento infantil da era moderna.
Brazelton foi criador do modelo Touchpoints — seguido e implementado em Portugal pelo pediatra Gomes-Pedro, que criou a Fundação Brazelton/Gomes-Pedro — que assenta num pressuposto aparentemente simples de conceber, mas difícil de praticar. A de que são os pais os maiores conhecedores dos seus bebés e que os especialistas devem estar presentes para dar aconselhamento técnico e para apoiar os progenitores, passando-lhes a ideia de que eles têm as ferramentas necessárias para criarem os seus filhos. Trata-se de abandonar o “modelo patológico”, em que o profissional de saúde apenas realiza exames físicos, para praticar um modelo “relacional”.
Defende ainda que o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes se faz através de momentos-chave, os tais touchpoints, que são patamares no crescimento e desenvolvimento aos quais se deve dar especial atenção. Por exemplo: quando um bebé está a comçear a andar, pode comprometer outras competências já adquiridas, como a regulação do sono, ou a alimentação. É percebendo quais são, quando acontecem e porque existem estes touchpoints que os pais, os educadores, a comunidade em geral pode apoiar melhor o bebé e a criança.
Em vida, Brazelton escreveu mais de 200 artigos científicos, escreveu 30 livros nas áreas da pediatria, desenvolvimento infantil e parentalidade. Algumas das suas obras estão traduzidas em mais de 20 línguas.
É uma “perda tremenda”, diz Gomes Pedro
O pediatra Gomes Pedro lamentou a morte do pedagogo Berry Brazelton, sublinhando o “extraordinário contributo” dos seus métodos para o fortalecimento dos laços de paixão entre a família e o bebé.
O médico, que preside à Fundação Brazelton/Gomes-Pedro em Portugal, classificou a morte de Berry Brazelton, ocorrida terça-feira, como uma “perda tremenda para todos aqueles que tiveram o privilégio de aprender e difundir o seu alvo de intervenção”, disse à Lusa.
Autor de inúmeras obras literárias, nomeadamente “O grande livro da criança”, Brazelton foi “um criador de qualquer coisa fundamental como a avaliação comportamental ‘touchpoints’ para fortalecer os primeiros laços de paixão da família pelo bebé”.
Gomes-Pedro: “A mãe não precisa de descansar e dormir, precisa é de namorar com o seu bebé”
Em Portugal, o modelo já é aplicado por vários pediatras e Gomes-Pedro acredita que existem “ótimos profissionais” com capacidade para o desenvolver.
Para o médico português, Brazelton “demonstrou que o desenvolvimento humano não é uma trajetória meramente linear, mas de patamares, socalcos, correspondentes a crises e respetiva reorganização, por parte do bebé e da família”.
Mário Cordeiro: “Sem se saber Brazelton, não se sabe pediatria”
Mário Cordeiro conhecia-o muito bem. Não era amigo próximo, mas ainda se recorda do “sorriso aberto” de Brazelton, de cada vez que o encontrava em ocasiões sociais. O pediatra português teve como tutor em Oxford um discípulo direto de Brazelton, pelo que assegura que o autor da obra “O Grande Livro da Criança” o influenciou “brutalmente”. “Sem se saber Brazelton, não se sabe pediatria”, assegura ao Observador.
“Recordo-me que ele era uma pessoa muito empática, simples e discreta. Nada exibicionista, embora tivesse clara noção de que tinha introduzido uma mudança significativa”, continua Mário Cordeiro. Uma das grandes inovações do pediatria norte-americano foi a humanização da criança, o reconhecimento de que esta tem competências e desempenhos a partir do momento em que nasce, e também o reconhecimento das competências parentais.
O melhor conselho que reteve da escola de Brazelton foi o “saber escutar as famílias e as crianças, respeitá-las e pensar que, por muito que saibamos, há sempre algo de razão no que as pessoas dizem”. Afinal, os pais não são “pedintes da saúde”, mas sim “parceiros”, sintetiza Cordeiro.