O conhecido físico que ajudou a humanidade a compreender um pouco melhor o universo passou também por Portugal. Não, não foi apenas num vídeo pré-gravado na última Web Summit. Além de ter visitado o país nos anos de 60, esteve também em Portugal (em Lisboa e no Funchal) em 2014, 2015 e 2016.

Sónia Guerreiro foi a responsável pela primeira visita do Stephen Hawking à capital portuguesa. “Foram quase cinco horas em Lisboa, toda a gente quis falar com ele quando visitámos Belém”, recorda ao Observador a cuidadora que agora é assistente operacional no Instituto Português de Oncologia.

Sónia tinha a missão de tornar a visita do cientista o mais confortável possível, tendo em conta os cuidados especiais que inspirava, por sofrer de uma doença degenerativa (esclerose lateral amiotrófica). “Antes de visitar os locais tínhamos de ter a certeza de que estavam preparados para receber, por exemplo, cadeiras de rodas”.

Além dos cuidadores em Portugal, o físico viajava em cruzeiros com uma equipa adicional de oito pessoas, para garantir que tinha sempre o apoio necessário.

“Em cada viagem tinha de transportar tudo: as máquinas, as sondas e ainda era acompanhado por vários cuidadores próprios”, lembra Daniel Reis, motorista e assistente de viagens a pessoas de mobilidade reduzida na Tourismforall.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Daniel Reis acompanhou Stephen Hawking nas visitas em 2015 e 2016. A Tourismforall trata de “cuidados especializados” de visitas turísticas de pessoas com mobilidade reduzida. Graças à parceria que tem com a Cooperativa Milacessos, foi contratada por esta para garantir que tudo corria conforme o necessário nas visitas do físico a Portugal. A Cooperativa Milacessos organizou as viagens a  pedido das agências Ibercruises e Shore Tours.

https://www.facebook.com/tourismforallonline/photos/a.1502056790047439.1073741828.1457475454505573/1631668350419615/?type=3&theater

A partilha da TourismForAll, em 2015, aquando da segunda visita de Hawking a Lisboa.

Um dos momentos mais complicados na primeira curta visita de Hawking a Lisboa foi a chegada a Belém. “Imensa gente queria tirar fotografias com ele”, conta Sónia Guerreiro. “Não tinha ideia que tantas pessoas se fossem aperceber”.

Foram ter com os acompanhantes para pedir para tirar fotografias com ele [Stephen Hawking]. Quem não conseguia tentava tirar de longe”, recorda Sónia Guerreiro, cuidadora que acompanhou o físico, em 2014, numa visita a Lisboa.

Em nenhuma das três viagens Stephen Hawking ficou a dormir na capital. “Era impraticável: no barco é que tinham tudo preparado para poder descansar”, explica Daniel Silva.

Tanto Sónia Guerreiro, como Daniel Silva, assumem que ajudaram na visita de Hawking com “especial emoção”.

Um dos cuidados especiais nas três viagens passou por garantir que as visitas “eram feitas com a maior discrição possível”, razão pela qual Hawking não foi recebido por altas entidades nacionais. “Pediu-nos muita privacidade”, explica Daniel Silva.

A comunicação foi o que seria de esperar de um homem que falava através de uma máquina. “Ele apontava com os olhos para o computador e dizia o que precisava”. As pequenas conversas durante as horas que visitou Lisboa eram simples.

Um dos exemplos dado por Sónia foi a forma como o físico lhe pediu para tirar uma fotografia quando se reencontraram em 2015. “Das duas vezes deu autorização, até para lhe poder dar um beijinho”. Quando perguntou se a reconhecia da primeira viagem, “ele sorriu”, conta a cuidadora. “O que me fascinava no Stephen Hawking não era só o génio, era ter vivido tantos mais anos do que inicialmente lhe tinham dado… Era um exemplo”.

[Veja no vídeo algumas das intervenções mais bem humoradas de Stephen Hawking em sitcoms e talkshows]

[jwplatform Mra5kmUg]

O fascínio com o pastel de Belém

Mesmo com várias restrições alimentares, Stephen Hawking insistiu que queria experimentar o famoso pastel de Belém nas visitas a Lisboa. “Ele fez questão de comer o pastel de nata”, conta Sónia. Foi necessário esmigalhar um pequeno bocado do doce folhado, mas fez-se a vontade ao físico para poder provar a iguaria portuguesa.

Além de visitar o Mosteiro do Jerónimos, também conheceu o Centro Cultural de Belém, o Museu do Azulejo e o Terreiro do Paço. Quando Daniel Silva levou o académico à Praça do Comércio, a polícia deixou-o parar só depois de perceber que Stephen Hawking ia no carro.

Em 2014 e 2016, Stephen Hawking também visitou a Madeira, no mesmo cruzeiro que o trouxe a Lisboa. Em 2016, segundo o Diário de Notícias da Madeira, ao contemplar a paisagem no hotel Quinta do Furão, disse: “O universo é grande com locais como este”.

Artigo corrigido às 20h30, de dia 15 de março, com informação da agência de viagens que contratou a Tourismforall.