As nuvens estão a formar-se” e em 2020 poderá surgir uma “tempestade perfeita” capaz de levar as grandes economias e os mercados financeiros para um cenário de instabilidade. A previsão pessimista é da consultora Gefira, que faz “análise global a partir de uma perspetiva europeia” e está especialmente preocupado com a mudança de “capitão” do Banco Central Europeu, com a saída de Mario Draghi em 2019.

O alemão Jens Weidmann, que neste momento encabeça o banco central nacional da Alemanha (o Bundesbank) está a perfilar-se cada vez mais como o mais provável sucessor do italiano Mario Draghi à frente do Banco Central Europeu (BCE). Esse será, na perspetiva da Gefira, um acontecimento decisivo na zona euro. “Como o típico alemão pós-Weimar, [Weidmann] acredita numa moeda forte e numa inflação baixa” e as entrevistas que têm sido publicadas nos últimos tempos mostram como “Weidmann é contrário a tudo que Draghi tem proposto nos últimos anos”, desde os juros baixos até à intervenção inédita nos mercados com a compra de dívida dos países.

Parece óbvio que é mais provável que os juros subam mais rapidamente com alguém, no BCE, com o perfil de Weidmann do que com o perfil de Draghi. “E se as taxas de juro subiram demasiado rapidamente, os mercados vão desabar”, diz a Gefira, que acrescenta que “quando Draghi sair, Weidmann não parece ter a mesma probabilidade de demonstrar a mesma convicção em fazer tudo o que for necessário para preservar a união monetária”.

Talvez, no final de contas, Jens Weidmann opte por preservar o status quo, mas se ele se mantiver fiel às suas crenças, as taxas de juro vão subir, os mercados vão afundar e será o fim da zona euro”.

Outra característica de Weidmann é que não será um grande fã — e não é o único — das propostas de criar um orçamento europeu, defendidas pelo presidente francês Emmanuel Macron. A propósito de Macron, a Gefira defende que, com os valores que se falam para o tal orçamento europeu, o impacto será “negligenciável”. “Mesmo que Macron possa escolher quem é o ministro das Finanças europeu, com o orçamento que está a pedir, não irá ajudar muito.

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Emmanuel Macron pode ter as ideias certas, como a imprensa mainstream adora dizer, mas não está a ter resultados concretos e existem dúvidas de que algum dia esses resultados irão aparecer”.

Ao mesmo tempo, elogia a Gefira, Trump está a conseguir “vitórias importantes”, incluindo contra Emmanuel Macron e designadamente no tema das taxas alfandegárias. Nesse caso, “a balança do poder ficou muito clara”, a favor de Trump e em detrimento de Macron, sobretudo depois de o presidente francês ter pedido a intervenção da Organização Mundial do Comércio (OMC) no caso das taxas alfandegárias, sem sucesso. “Esse desaire [de Macron] tem sido basicamente ignorado” pela imprensa, diz a Gefira.

Além disso, quando se culpa os excedentes comerciais da Alemanha por (parte) das razões que levaram à crise na zona euro, “Trump vai conseguir fazer aquilo que ninguém teve coragem para fazer: castigar a Alemanha”. “Vem aí uma guerra comercial contra a zona euro, e as taxas alfandegárias são só o primeiro ato”, avisa a consultora.

Por fim, a Gefira lembra que “depois das últimas eleições, Itália é oficialmente um país eurocético“, depois de os países críticos da continuidade na união monetária terem, no seu conjunto, conseguido uma maioria dos votos e os partidos europeístas terem tido um mau resultado. O impasse pós-eleitoral não parece ter solução fácil à vista, e com a saída de Mario Draghi do BCE, onde manteve as taxas de juro baixas beneficiando a Itália, “estão a esfumar-se os argumentos a favor da continuidade da Itália na zona euro”.