O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, recusou esta quarta-feira felicitar Vladimir Putin pela sua reeleição nas eleições presidenciais russas no passado domingo, justificando a sua atitude com o caso do envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal em solo britânico.
“Depois do ataque de Salisbury [no sul de Inglaterra], não tenho disposição para felicitar Putin pela sua reeleição”, disse Donald Tusk, numa conferência de imprensa em Bruxelas, um dia depois do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ter enviado uma carta de felicitações a Putin.
Congratulations on your re-election, President #Putin. I have always argued that positive relations between the #EU and #Russia are crucial to the #security of our continent. Our objective should be to re-establish a cooperative pan-European security order. pic.twitter.com/PiEGg56DBN
— Jean-Claude Juncker (@JunckerEU) March 20, 2018
O político polaco referia-se ao caso do ex-espião duplo de origem russa Serguei Skripal, de 66 anos, e da sua filha Yulia, de 33 anos, que, segundo Londres, foram envenenados com um agente neurotóxico identificado como Novichok, cujo fabrico remonta à altura da União Soviética.
Os dois, que ainda permanecem hospitalizados em estado grave, foram encontrados inconscientes no passado dia 4 de março, num banco num centro comercial em Salisbury. O Reino Unido responsabiliza Moscovo por esta tentativa de homicídio.
A carta de Jean-Claude Juncker a Putin mereceu fortes críticas britânicas, porque a missiva não mencionou o clima de tensão verificado na sequência do caso Skripal. “Esta carta de Jean-Claude Juncker é vergonhosa”, disse a eurodeputada e líder dos conservadores britânicos no parlamento europeu, Ashley Fox, num comunicado.
Felicitar Vladimir Putin pela sua vitória eleitoral sem fazer referência à clara manipulação de boletins de voto que teve lugar já é suficientemente mau. Mas o facto de não mencionar a responsabilidade da Rússia no ataque com um agente neurotóxico militar contra inocentes no meu círculo eleitoral é ofensivo”, afirmou Ashley Fox, eurodeputada eleita pelo círculo eleitoral que integra a cidade de Salisbury.
O antigo primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt, presidente da Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE) no parlamento europeu, também fez declarações muito duras sobre este assunto. “Este não é o momento para felicitar”, referiu o político belga na rede social Twitter. “Iremos sempre precisar de um diálogo com a Rússia, mas os laços mais próximos deverão ser sempre condicionados pelo respeito pela ordem internacional fundada em regras e valores fundamentais”, frisou Verhofstadt.
This is no time for congratulations. We will always need dialogue with Russia, but closer ties must be conditional on respect for the rules based international order & fundamental values https://t.co/iVfhLB6TrL
— Guy Verhofstadt (@guyverhofstadt) March 20, 2018
O caso do ex-espião russo Serguei Skripal será um dos temas em debate na próxima cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE), agendada para Bruxelas para quinta e sexta-feira (dia 22 e 23 de março).
A atitude em relação a Moscovo está a dividir, no entanto, os Estados-membros da UE. A maioria está convencida da responsabilidade de Moscovo, mas muitos recusam inflamar as relações entre a Rússia e o bloco comunitário e incriminar diretamente o Kremlin (Presidência russa).
Este caso está a provocar um clima de forte tensão entre a Rússia e o Reino Unido. Londres anunciou a suspensão de contactos bilaterais de alto nível com Moscovo e a expulsão de 23 diplomatas russos do Reino Unido. Em resposta, Moscovo também anunciou a expulsão de 23 diplomatas britânicos e o fim das atividades do British Council na Rússia. Vladimir Putin foi reeleito Presidente da Rússia no domingo passado com 76,67% dos votos.