Sem Santana Lopes e sem Luís Montenegro, que tinham assento no Conselho Nacional mas optaram por não marcar presença, a primeira reunião magna do PSD de Rui Rio pós-Congresso teve poucos “críticos” na plateia. Num hotel do Porto, Rui Rio abriu os trabalhos com uma intervenção longa, de cerca de 45 minutos, mas descrita por vários dos presentes como “morna” e “sem novidades”, onde procurou explicar a estratégia do partido na oposição: distinguir-se pela “credibilidade”, atacar o Governo em três áreas fundamentais: Incêndios, saúde e negócio Montepio/Santa Casa, e rejeitar a ideia de que está em marcha um plano de bloco central com Costa. No final, já perto das 2h da manhã, o presidente da mesa, Paulo Mota Pinto, destacou a “clara manifestação de unidade”.

Sem revelar a composição do Conselho Estratégico Nacional, Rio delineou aos conselheiros nacionais três linhas de atuação direta para “fazer oposição no curto e médio prazo”: incêndios, saúde e Montepio/Santa Casa. É nesses três temas que Rio quer marcar a diferença face ao PS, enquanto na reforma da justiça, na reforma do sistema político e na reforma da Segurança Social espera entendimento com os socialistas. Em que termos concretos devem incidir essas reformas, é que não especificou. Mas o líder social-democrata procurou descansar os conselheiros, negando que a ideia de um bloco central fizesse parte da estratégia do partido. À semelhança do que tem feito em todas as suas intervenções, Rio até voltou a citar Sá Carneiro para explicar essa “aproximação” ao partido do Governo: “Primeiro o país, depois o partido e só depois a circunstância de cada um”. É que citar Sá Carneiro costuma desencadear aplausos, disse em jeito de piada. E resultou.

Sem surpresas, José Silvano foi eleito esta terça-feira à noite secretário-geral do partido com 78% dos votos: em 96 votos, 75 foram a favor, e 21 brancos ou nulos. Silvano sucede assim a Feliciano Barreiras Duarte, que acabou por se demitir do cargo na sequência dos casos sobre o seu currículo e sobre o facto de ter durante vários anos recebido subsídio de deslocação parlamentar por usar a morada fiscal no Bombarral enquanto vivia em Lisboa.

Na intervenção que fez aos conselheiros, Rui Rio esteve “em linha com o que tem dito sempre” e “fez um discurso básico”, resumiram ao Observador vários conselheiros e participantes na reunião. Explicando que a estratégia do PSD é a estratégia da “credibilidade”, e que a credibilidade só se consegue com “seriedade, coragem e competência”, Rio defendeu que “não se ganham eleições, perdem-se”, que é o mesmo que dizer que mais importante do que o PSD ganhar é o PS perder, e deu o mote para aquilo que devem ser os temas de bolso do PSD para fazer oposição ao Governo socialista nos próximos tempos:

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

  • a questão dos incêndios, e da forma de prevenir que a tragédia se repita este verão;
  • a questão das cativações e da falta de investimento na saúde;
  • e a questão do negócio da entrada da Santa Casa da Misericórdia no capital do Montepio, que foi o tema escolhido para abrir o primeiro debate quinzenal com Costa da era Rio/Negrão.

Sobre este tema, e na sequência da notícia desta terça-feira do jornal Público que dava conta de que a Misericórdia do Porto, presidida por António Tavares, ia entrar no capital do Montepio com dez mil euros, Rui Rio fez questão de explicar a diferença: é que a Misericórdia do Porto é dinheiro privado e a Santa Casa de Lisboa é a única Misericórdia do Estado. Tudo para explicar que não é por causa de notícias a envolver um dos nomes próximos de Rio (que vai ser um dos porta-vozes do Conselho Estratégico) que Rio vai largar o tema e vai deixar de criticar o negócio Montepio/Santa Casa. Segundo relatos feitos ao Observador, Rio apontou o dedo à comunicação social por ter “vasculhado” todos os membros da nova direção do PSD, e, não tendo “encontrado mais nada”, virou-se para os nomes apontados para o Conselho Estratégico, neste caso António Tavares.

A este propósito, Rio voltou a falar sobre a demissão de Feliciano Barreiras Duarte. “Perdeu uns 15 minutos a dizer tudo o que já tinha dito sobre a desproporção do caso do Feliciano”, diz ao Observador uma fonte presente na sala, sublinhando que o líder do partido voltou a sair em defesa do ex-secretário-geral e contra a comunicação social, no dia em que os conselheiros votaram o nome de José Silvano para o cargo.

José Silvano, de resto, discursou a seguir a Rui Rio e, segundo relatos feitos, foi “muito aplaudido”. A eleição decorreu em urna, por voto secreto e decorreu sem incidentes: em 96 votantes, 75 votaram a favor, e 21 votaram branco ou nulo, dando uma percentagem confortável de 78% dos votos — cenário muito diferente ao da eleição de Fernando Negrão para a liderança da bancada, que foi eleito com apenas 39% dos votos e muita contestação interna.

No final, foi o presidente da mesa, Paulo Mota Pinto, e não Rui Rio, quem falou aos jornalistas. Mota Pinto destacou a “clara manifestação de unidade demonstrada” por todos os intervenientes que usaram da palavra nas mais de quatro horas e meia de reunião — e sublinhou que até “pessoas que inicialmente não apoiaram Rui Rio” tiveram uma postura de “unidade em torno da estratégia do partido”.