Vários milhares de pessoas concentraram-se esta quarta-feira junto ao estádio de Orlando, no Soweto, para as cerimónias fúnebres da ativista anti-‘apartheid’ Winnie Madikizela-Mandela, falecida a 2 de abril, com 81 anos. A morte de Madikizela-Mandela, frequentemente tratada como ‘Mãe da Nação’, desencadeou uma onda de comoção na África do Sul sobre o legado de uma das mais importantes opositoras contra discriminação racional, mas que também foi marcada pelo escândalo.

Durante os 27 anos de prisão do seu marido, Nelson Mandela, Winnie Mandela ajudou a manter na ordem do dia a luta do líder político e as injustiças do sistema de ‘apartheid’, com a o seu rosto e a sua voz a tornarem-se um sinónimo com a luta contra a discriminação racial. Numa campanha nas redes sociais, muitas mulheres jovens colocaram fotografias a usar ‘doeks’, o lenço tradicional que Madikizela-Mandela usava frequentemente à volta da cabeça.

O Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla original), no poder, com o qual Winnie Mandela teve uma relação tumultuosa, realizou memoriais em todo o país, incluindo a cerimónia desta quarta-feira e o funeral oficial previsto para sábado. “Ela era um símbolo de esperança para muitos de nós”, disse o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, num memorial na cidade natal de Winnie Mandela, esta terça-feria.

A jovem Mandikizela-Mandela foi a primeira mulher negra a trabalhar como assistente social, em Joanesburgo, onde conheceu o ativista da ANC Nelson Mandela, com quem se casou em 1958. Depois da prisão de Mandela em Robben Island, Winnie Mandela assumiu a liderança da luta pela liberdade, com determinação e um grande sacrifício pessoal.

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Durante anos, foi perseguida pelas forças de segurança, presa e torturada. Foi frequentemente separada das duas filhas que teve com Mandela e, em 1977, foi banida para uma localidade remota no meio do país, para a afastar do movimento que liderava no Soweto. “Tens de decidir entre a nação e as tuas crianças pequenas e foi uma escolha muito difícil”, disse, em 2013, afirmando que continuava a sentir-se culpada como mãe.

Quando regressou do exílio, em Joanesburgo, envolveu-se com um grupo de jovens que era responsabilizado pela violência no Soweto, incluindo a morte de 18 jovens. O líder do grupo foi condenado pela morte de um rapaz de 14 anos, que era acusado de ser um informador da polícia. Em 1991, um tribunal condenou Madikizela-Mandela pelo rapto do rapaz e assalto, acabando por ser condenada a uma multa e a pena de prisão suspensa, após um recurso, mas a então mulher de Nelson Mandela sempre negou qualquer envolvimento.

Mandela divorciou-se de Winnie em 1996, alegando infidelidade e afirmando que após ter sido libertado, a sua mulher fez dele “o homem mais solitário”. Apesar da sua intensa luta pela democracia, a carreira política em que Madikizela-Mandela se envolveu a partir de 1994, sempre foi tumultuosa. Mandela despediu a sua mulher como vice-ministra no seu primeiro executivo, e o seu desempenho como deputada, cargo que desempenhou até ao final da vida, foi fraco.