Se Jorge Jesus tiver provas do alegado envolvimento de Bruno de Carvalho no plano que culminou nas agressões a jogadores e equipa técnica do Sporting, terá de as entregar ao Ministério Público. Essa é a firme e unânime convicção dos vários especialistas em Direito Penal ouvidos pelo Observador. Há, aliás, quem sugira que a apreensão do telemóvel e computador do treinador leonino são os passos óbvios a seguir pelos investigadores.

Em causa está a informação avançada esta sexta-feira pelo jornal Público, que, citando fonte próxima do treinador do Sporting, adianta que Jorge Jesus terá provas de contactos mantidos entre Bruno de Carvalho e líderes da Juve Leo, em que o presidente do clube de Alvalade autorizava os radicais desta claque a “apertarem” com jogadores e equipa técnica.

Ora, a determinada altura, a mesma fonte admite ao Público que Jorge Jesus pode estar disposto a usar essas provas contra o presidente do Sporting, se Bruno de Carvalho criar obstáculos à rescisão do contrato — algo que o treinador do Sporting admite se o dirigente continuar à frente do clube. Tratando-se de um crime público, no entanto, Jorge Jesus será muito provavelmente obrigado a entregar essas alegadas provas.

“Em tese, o Ministério Público, sabendo desta informação, mesmo que seja pela comunicação social, pode determinar, por exemplo, a apreensão do telemóvel de Jorge Jesus e depois a sua análise pericial. É um meio que é importante para a prova”, argumenta o penalista Pedro Melo Alves. É essa a mesma leitura de outros quatro especialistas em Direito Penal ouvidos pelo Observador — que, no entanto, preferiram manter o anonimato.

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O cenário mais provável é Jorge Jesus ser arrolado como testemunha no processo sobre as agressões decorridas na Academia de Alcochete. Nesse momento, será naturalmente desafiado a apresentar a sua versão dos acontecimentos, eventuais provas, indícios ou suspeitas sobre a identidade dos autores materiais das agressões, mas, também, dos alegados instigadores do crime. Tendo provas do suposto envolvimento de Bruno de Carvalho neste plano, terá de as entregar aos investigadores, sob o risco de ser acusado, pelo menos, do crime de desobediência.

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Há outro cenário tão ou mais provável: com base nas informações veiculadas pela comunicação social, os investigadores podem precipitar o processo e obrigar Jorge Jesus a entregar as provas que, alegadamente, tem na sua posse. “Se eu fosse do Ministério Público, depois da notícia de hoje [sexta-feira], já tinha investigadores no terreno a recolherem essas provas”, remata um dos juristas ouvidos pelo Observador.

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Jorge Jesus desmentiu entretanto a notícia avançada pelo Público. De acordo com a SIC, que falou com o técnico, o treinador diz não ter qualquer prova. “Não tenho nenhuma informação nem nunca tive do alegado envolvimento de Bruno de Carvalho como mandante do que aconteceu em Alcochete”, declarou à estação de Carnaxide. Jesus disse-se até “perturbado” pela notícia, razão pela qual ligou de imediato a Bruno de Carvalho e disse que “nada tinha a ver” com essas notícias.