O Papa Francisco anunciou este domingo, em Roma, que o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, vai ser nomeado cardeal. O consistório (reunião de Cardeais que aconselham o Papa) para a criação de 14 novos cardeais vai ocorrer a 29 de junho, no Vaticano.
António Augusto dos Santos Marto tem 71 anos e é Bispo de Leiria-Fátima desde 2006. Em 2017, por ocasião da celebração do centenário de Fátima, recebeu o Papa Francisco na visita que fez ao país.
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Segundo comunicado de imprensa do Vaticano, o Papa afirma que a nomeação dos 14 novos Cardeais “expressa a universalidade da Igreja que continua a proclamar o amor misericordioso de Deus a todas as pessoas na terra.” O mesmo documento pede aos fiéis que rezem pelos novos cardeais.
Nomeação “reforça a ligação do Papa com Fátima”
O vigário-geral da diocese de Leiria-Fátima, padre Jorge Guarda, o braço direito de D. António Marto, considerou, em declarações ao Observador, que a nomeação “reforça a ligação do Papa com Fátima”.
“O que pesa nesta nomeação é, sem dúvida, a figura do D. António, pelo seu serviço à Igreja e pela sua dedicação, mas também o contexto em que ele se insere. O facto de ser bispo de Fátima contribuiu, sem dúvida“, sublinhou o padre Jorge Guarda.
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Segundo explica o sacerdote, a nomeação dos cardeais é uma forma de estabelecer uma relação mais profunda entre a sé de Roma — liderança universal da Igreja Católica — e as diferentes realidades da Igreja em todo o mundo.
“Os cardeais ficam inseridos na diocese de Roma, como colaboradores diretos do Papa, mas sem saírem da sua diocese local. Estabelece-se uma ligação maior entre a sé de Pedro e as diferentes dioceses do mundo inteiro”, detalhou o sacerdote.
Bispo foi surpreendido com anúncio
O bispo de Leiria-Fátima estava esta manhã a entrar para a celebração do Crisma na catedral de Leiria quando soube do anúncio, explicou ao Observador o padre Vítor Coutinho, vice-reitor do Santuário de Fátima e chefe do gabinete episcopal.
Foi uma “surpresa total”, até para o próprio D. António Marto, sublinhou. Até porque antes do Papa Francisco, os anúncios eram comunicados aos visados antes de serem tornados públicos, mas o Papa mudou os procedimentos, pelo que o bispo acabou por saber da nomeação ao mesmo tempo que o resto do mundo.
O cético de Fátima que se tornou bispo de Fátima
D. António Marto nasceu em Tronco, concelho de Chaves, a 5 de abril de 1947. Fez os seus estudos entre o Porto e Roma, onde concluiu o seu doutoramento sob a orientação do cardeal alemão Joseph Ratzinger, que viria a ser eleito Papa. Foi também em Roma que, em 1977, foi ordenado padre.
Depois de regressar a Portugal, foi ocupando posições académicas até ser nomeado, em 2000, bispo auxiliar de Braga. Da arquidiocese passou para bispo de Viseu em 2004 e dois anos depois para Leiria-Fátima, onde permanece desde então.
Numa longa entrevista de vida que deu ao Observador em maio de 2017, a propósito da visita do Papa Francisco ao Santuário de Fátima, D. António Marto recordou a sua infância e juventude e como foi um cético dos acontecimentos de Fátima até ler as memórias da Irmã Lúcia.
[Recorde aqui um excerto da entrevista de vida a D. António Marto]
O bispo lembra como olhava “com desprezo” para as “expressões de piedada popular”, criticando procissões, peregrinações e até a oração do terço em família, o que levou inclusivamente a conflitos com o seu pai, que não entendia como é que um padre podia criticar aquelas dimensões da fé.
A sua visão racionalista, recorda, punha em causa algumas expressões da fé, sobretudo a piedade popular, algo que era “típico de uma espécie de cultura de elites, que olha com desprezo para o que é do povo, para o que é popular”.
A conversão a Fátima aconteceu em 1997, quando, já considerado um especialista em teologia, foi convidado para um congresso sobre a Eucaristia na Mensagem de Fátima. Ficou perplexo com o convite, pois Fátima não lhe dizia grande coisa, mas acabou por aceitar o desafio.
“Por honestidade intelectual, comecei por ler as Memórias da Irmã Lúcia, pela primeira vez, e fiquei de facto impressionado. Impressionado pela seriedade do que tratava a mensagem”, recordava o bispo, na entrevista. Acabou por ficar convencido. “Pensei que estávamos ali diante de algo muito sério, muito mais sério do que eu imaginava.”
Atualmente, além de bispo de Leiria-Fátima, é também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
Quarto português no colégio cardinalício
A nomeação de D. António Marto vai colocar mais um português no colégio cardinalício, o órgão com responsabilidade para, entre outras coisas, elege o Papa. O bispo de Leiria-Fátima vai juntar-se a dois cardeais portugueses que residem em Roma — D. José Saraiva Martins (prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos) e D. Manuel Monteiro de Castro (penitenciário-mor emérito da Santa Sé) — e a D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa.
D. António Marto vai falar aos jornalistas às 16h30 a partir do Santuário de Fátima.