O inquérito ao incêndio na Grenfell Tower, em Londres, revelado esta segunda-feira, confirmou a existência de graves falhas de segurança. De acordo com o relatório da especialista em fogo Barbara Lane, havia uma “cultura da não-conformidade” na torre de habitação londrina que acabou por levar à morte de 71 pessoas em junho de 2017.

Entre as falhas detetadas pela engenheira Barabara Lane, conta-se o mau estado da canalização, que foi incapaz de transportar água até ao últimos andares da torre, deixando-os vulneráveis, refere o The Guardian. As portas corta-fogo, que deviam ter sido capazes de resistir às chamas durante 60 minutos, aguentaram apenas 20. A maioria, contudo, nem sequer fechava. O elevador de combate a incêndios estava avariado.

Foi, porém, o revestimento exterior inflamável, na fachada da Grenfell Tower, o principal culpado “pela tragédia”. Além de ter sido responsável pela rápida propagação das chamas — como foi desde logo apontado — a camada produziu fumos tóxicos que atrasaram os bombeiros, obrigando-os a usar máscaras de oxigénio. Classificando o revestimento como “não compativel com o requisito funcional dos regulamentos de construção”, Barbara Lane afirmou não ter encontrado “qualquer evidência” de que a equipa de construção tivesse tido em conta um possível cenário de incêndio.

“A consequência final foi a grande perda de vidas”, considerou a especialista, explicando que a maioria das vítimas mortais se encontravam nos pisos superiores do edifício. “Parece que as pessoas subiram por causa do fumo e do fogo.” Ninguém morreu nos primeiros dez pisos.

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Incêndio poderá ter começado num frigorífico do quarto andar

Um outro relatório, anexo ao inquérito, refere que o fogo poderá ter tido origem num frigorífico do apartamento número 16, do quarto andar. Da autoria do professor Niamh Nic Daéid, diretor do Liverhulme Research Centre for Forensic Science at Dundee University, o documento inclui pormenores sobre a primeira chamada, feita por Behailu Kebede, que vivia nessa mesma casa com outras duas pessoas.

Kebede telefonou para os serviços de emergência por volta da 1h depois de ter ouvido um alarme de incêndio a disparar na sua cozinha. “Entrou na cozinha e viu fogo junto ao frigorífico e à janela. Acordou os outros ocupantes do andar e telefonou para os bombeiros. Alertou os outros residentes do mesmo andar da Grenfell Tower”, refere o relatório, citado pelo The Guardian. Em resposta à chamada, os bombeiros enviaram cinco carros. Os primeiros dois operacionais a entrarem na casa encontraram uma “nuvem de fumo preta”. O frigorífico estava irreconhecível.

O incêndio na Grenfell Tower, em Londres, ocorreu na madrugada de 14 de junho de 2017 e provocou a morte de 71 pessoas. Viviam dez portuguesas no edifício de 24 andares.