“Lamento, meu filho, o que se está a passar, dói-me na alma esta separação, mas quero que saibas que a mamã não te abandonou”, é assim que Levis começa uma carta para o filho de seis anos, de quem está separada há duas semanas, depois de a patrulha de agentes fronteiriços dos Estados Unidos o terem levado para um centro de detenção. O advogado desta mãe partilhou a carta no Twitter e explicou que as autoridades disseram que iam levar o filho “para tomar banho” e que o iam trazer de volta “imediatamente”.
Here is a letter my client Levis just wrote to her 6 yr old son Samir, whom she has not seen or comm with in over 2 weeks. They told her he was being taken for a “bath” & would be brought right back. He is a gentle boy and very attached to his mother. She is terrified. #Basta pic.twitter.com/EnyDCaloft
— Michael Avenatti (@MichaelAvenatti) June 19, 2018
A política de “tolerância zero” de Donald Trump relativa à imigração está a gerar uma onda de indignação a nível internacional. O presidente dos Estados Unidos tem sido amplamente criticado pelo facto de famílias de imigrantes sem documentação legal serem separadas assim que chegam à fronteira — os pais são detidos e os filhos (muitos com menos de cinco anos) são levados para centros de detenção e colocadas em celas que se assemelham a grandes gaiolas. As imagens de crianças a chorar e a gritar pelos pais estão a chocar o mundo.
As fotografias e os vídeos das crianças separadas dos pais na fronteira EUA-México
E foi exatamente isso que aconteceu com Levi e o filho Samir. O pequeno foi levado para um dos centros de detenção, depois de a mãe ter sido apanhada a tentar entrar no país sem documentos legais. O advogado de Levi, Michael Avenatti, escreveu no Twitter — juntamente com fotografias da carta que foi escrita numa folha A4, frente e verso — que Samir “é um rapaz gentil e muito ligado à mãe” e que ela está “aterrorizada” com a situação.
A mamã está aqui e penso muito em ti, quando acordo a primeira coisa que faço é pensar nos teus olhos, e sentir os teus abraços, aqueles que me dás de manhã, e sentir os teus beijos, meu filho”, escreve Levi para o filho, acrescentando: “quero que saibas que muito em breve estaremos juntos para que me dês os teus abraços”.
As palavras desta mãe demonstram os momentos de sofrimento e desespero por que está a passar e são exemplo daquilo que muitos estão a sentir. “Sinto que me arrancaram um pedaço do coração“, diz a mãe, explicando que aquilo que estão a viver é uma situação “temporária”. E diz que fala sobre ele a toda a hora: “Digo o quão especial és e que és o menino mais doce que conheço“.
Conta ainda que já conseguiu falar com o irmão de Samir, que “perguntou muito” por ele — “Disse-me que te quer ver, disse-me: ‘Mami, diz ao Samir que o quero muito” — e que “a Lola já teve três cãezinhos”. Depois, surgem as promessas de uma mãe que está longe dos seus: “Quando sairmos daqui vou levar-te ao oceanário, como te prometi, para veres os animais, os golfinhos, os peixes, os pinguins (…) ah, e vou dar-te os jogos do homem-aranha que te prometi”.
A carta, que é toda ela escrita com palavras de carinho, termina com: “És o meu príncipe, o meu guerreiro, o amor da minha vida, a minha razão de ser“. Ao lado, um desenho da família e a assinatura de Levi: “A tua mamã, a tua guerreira”. O advogado, escreve o El Español, diz que a cada dia que passa são cada vez mais as histórias que ouve de pais que ficaram sem os filhos e que estão desesperados por reencontrá-los.
Depois das críticas, as justificações de Trump
Depois de todas as críticas de que tem sido alvo — até mesmo por parte de Melania Trump, que lembrou que é preciso “governar com o coração” –, o presidente norte-americano justificou as medidas, dizendo que “alguns dos piores criminosos do mundo usam” crianças imigrantes para entrar no país. ”
“Os democratas são o problema. Não se importam com o crime e querem imigrantes ilegais, não importa o quão maus eles possam ser”, escreveu Trump no Twitter, dando o exemplo dos crimes cometidos por gangues como o MS-13, que entraram no país de forma ilegal.
Democrats are the problem. They don’t care about crime and want illegal immigrants, no matter how bad they may be, to pour into and infest our Country, like MS-13. They can’t win on their terrible policies, so they view them as potential voters!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 19, 2018
E como já é habitual, os tweets de Trump não se ficaram por aqui. O Presidente escreveu ainda: “Devemos sempre prender as pessoas que chegam ao nosso país ilegalmente. Das 12 mil crianças, dez mil estão a ser enviadas pelos seus pais numa viagem muito perigosa, e só duas mil estão com os pais, muitos dos quais tentaram entrar no nosso país ilegalmente em numerosas ocasiões”.
We must always arrest people coming into our Country illegally. Of the 12,000 children, 10,000 are being sent by their parents on a very dangerous trip, and only 2000 are with their parents, many of whom have tried to enter our Country illegally on numerous occasions.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 19, 2018
Já depois de dito que a criminalidade na Alemanha aumentou devido à imigração e que, se as estatísticas oficiais não o demonstram é porque os dirigentes não querem, lembrou que a imigração ilegal que acontece nos dias de hoje nos EUA é um problema de há já muitas décadas:
I want to take a moment to address the current illegal immigration crisis on the Southern Border…it has been going on for many, many decades… pic.twitter.com/1F7EK9Ef88
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 19, 2018
Na terça-feira, Trump decidiu abandonar o Conselho de Direitos Humanos da ONU, uma decisão que está a preocupar os ativistas dos direitos humanos. A saída deu-se precisamente num momento em que a política de “tolerância zero” está a causar polémica.