Sérgio Azevedo, deputado e ex-vice-presidente da bancada parlamentar, terá intermediado uma reunião em 2016 entre Os Belenenses e Fernando Medina que está na origem de um apoio de 200 mil euros por parte da Câmara de Lisboa e que serviu para financiar uma obra que foi adjudicada pelo clube de Belém à empresa de Carlos Eduardo Reis — um dos principais suspeitos da Operação Tutti Frutti. Este é mais um exemplo das relações entre antigos aliados na Juventude Social Democrata (JSD) que estão sob escrutínio judicial dos investigadores do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa e da Polícia Judiciária (PJ).

Sérgio Azevedo e Carlos Eduardo Reis, além de amigos e antigos aliados políticos da JSD, têm liderado com regularidade uma lista ao Conselho Nacional do PSD que tem tido algum sucesso nos congressos dos social-democratas. As relações entre os dois são uma das peças-chave da Operação da Tutti Frutti — pelo menos, no que ao concelho de Lisboa diz respeito. Recorde-se que os inspetores da PJ realizaram buscas judiciais aos concelhos de Esposende, Famalicão, Vila Nova de Gaia, Barcelos, Santa Maria da Feira, Póvoa do Lanhoso, Marinha Grande, Golegã, Cascais, Loures, Oeiras, Faro e Ponta Delgada.

Na ótica dos investigadores, um dos exemplos da proximidade entre Sérgio Azevedo e Carlos Eduardo Reis está relacionada com os contactos que foram feitos entre o deputado do PSD (e, na altura, igualmente deputado municipal) e Fernando Medina para que o edil de Lisboa recebesse as direções d’ Os Belenenses, liderada por Patrick Morais de Carvalho, e da XV – Associação Amigos do Rugby do Belém, a cargo de Miguel Freudenthal. O pedido de ajuda para a intermediação não terá partido de Carlos Eduardo Reis, mas sim da direção liderada por Freudenthal pelo facto de um dos filho de Sérgio Azevedo ter aulas de rugby n’ Os Belenenses. Na prática, o clube de Belém pretendia um apoio público de 200 mil euros da autarquia para ajudar a financiar a construção de Rugby Park em terrenos que já tinham sido cedidos pela Câmara de Lisboa. A obra veio a ser adjudicada pelo Belenenses à Ambigold, empresa de Carlos Eduardo Reis.

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A reunião realizou-se no final de 2016, tendo Sérgio Azevedo participado na mesma, na companhia dos líderes d’ Os Belenenses. A autarquia, por seu lado, esteve representada por Fernando Medina, o seu chefe de gabinete e pelo vereador do Desporto (Jorge Máximo). Participou ainda o presidente da Junta de Freguesia da Ajuda.

O problema, do ponto de vista da investigação da Operação Tutti Frutti, é que Os Belenenses já teriam feito um acordo com a Ambigold, empresa de Carlos Eduardo Reis, para que esta realizasse a obra. Isto é, a intermediação de Sérgio Azevedo pode ser vista como uma forma de influenciar a assinatura de um contrato-programa que ajudaria a financiar a adjudicação do Belenenses à empresa de Carlos Eduardo Reis.

Na sequência da reunião, Fernando Medina aceitou financiar a construção do Rugby Park, tendo o contrato-programa sido assinado a 25 de março de 2017, numa cerimónia em que o presidente da Câmara de Lisboa foi o grande protagonista. O mesmo veio a ser aprovado em reunião do Executivo liderado por Medina.

Nas buscas judiciais que foram realizadas à Câmara de Lisboa nesta quarta-feira, nomeadamente ao gabinete de Fernando Medina, a cópia do contrato-programa para a construção do Rugby Park foi um dos documentos que foi levado pelos investigadores, tal como a revista Sábado noticiou. Apesar de se tratar de uma busca judicial, a documentação foi disponibilizada de forma voluntária pelo gabinete de Medina.

Além de dois advogados que foram constituídos arguidos de forma para que os seus escritórios pudessem ser alvo de buscas judiciais, os investigadores da Operação Tutti Frutti optaram, para já, por não constituir mais arguidos.

Assessor do PSD emprestou dinheiro a Sérgio Azevedo

Além desta intermediação entre Os Belenenses e Fernando Medina, Sérgio Azevedo está igualmente a ser escrutinado pelos montantes financeiros que recebeu de Nuno Vitoriano, atual assessor de Luís Newton na Assembleia Municipal de Lisboa. Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela, é um dos principais visados pela Operação Tutti Frutti, tal como o Observador apurou, pois adjudicou um contrato de 132 mil euros (valor sem IVA) à Ambigold de Carlos Eduardo Reis em julho de 2017.

Ao que o Observador apurou, estará em causa, pelo menos, um montante de cerca de 5 mil euros que foi detetado nas movimentações entre as contas bancárias de Nuno Vitoriano e Sérgio Azevedo. Os dois são também velhos aliados políticos, tendo Vitoriano sido indicado por Azevedo para assessor da bancada do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa — cargo que terá mantido com Luís Newton por indicação de Sérgio Azevedo.

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Nas buscas judiciais realizadas às casas de Sérgio Azevedo e de Nuno Vitoriano terá sido apreendido um documento de confissão de dívida que vai ser escrutinado pelo DIAP de Lisboa e pela PJ e cruzado com outros indícios recolhidos pelas autoridades, nomeadamente as escutas telefónicas que foram realizadas nos últimos meses. Terão sido detetados igualmente pagamentos de Sérgio Azevedo para Nuno Vitoriano que poderão corresponder ao pagamento da alegada dívida.

A busca judicial realizada à casa de Sérgio Azevedo na manhã desta quarta-feira foi acompanhada por uma juíza de instrução criminal, pois estava em causa uma busca a um titular de órgão de soberania. Caso o DIAP de Lisboa queira ouvir Azevedo nos autos da Operação Tutti Frutti, terá de requerer o levantamento da imunidade parlamentar ao deputado do PSD.

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Tal como o Observador noticiou em julho de 2017, a Ambigold, uma empresa gerida por Carlos Eduardo Reis, conseguiu ganhar, entre 2014 e 2017, adjudicações em Lisboa de cerca de 458 mil euros (sem IVA) através das juntas de freguesia da Estrela e e de Santo António (ambas lideradas pelo PSD) e de Benfica e de São Domingos de Benfica (as duas últimas lideradas pelo PS).

No mesmo período, e no total, a empresa do filho do ex-presidente da Câmara de Barcelos (Fernando Reis) ganhou mais 342 mil euros (sem IVA) no resto do país em concelhos maioritariamente controlados pelo PSD. Em Santa Maria da Feira e em Vila Nova de Famalicão, a Ambigold ganhou dois contratos superiores a 300 mil euros. As duas autarquias foram visitadas pelos inspetores da Polícia Judiciária.

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O mesmo aconteceu com a autarquia de Esposende, liderada pelo social-democrata António Costa Pereira. Neste caso, está em causa um contrato com outra empresa de Carlos Eduardo Reis chamada Geo Future — sociedade que tem como objeto social não só a área informática mas também aplicações de georeferenciação e outras redes de comunicação.

Trata-se de um contrato assinado a 20 de fevereiro de 2017 para a “prestação de serviços de assessoria e de consultoria na execução de projetos”. Reis era sócio minoritário e gerente da Geo Future na data em que o contrato foi assinado mas a sua assinatura não consta do contrato publicado no portal dos contratos públicos base.gov. Dois meses após a assinatura do contrato, Carlos Eduardo Reis terá vendido a sua participação na empresa.

Artigo atualizado às 23h08m