(texto atualizado pela última vez às 11h30 de segunda-feira)

Horst Seehofer, ministro do Interior alemão e líder da CSU, partido irmão da CDU de Angela Merkel na Baviera, anunciou numa reunião do seu partido que tenciona apresentar a demissão dos dois cargos. A decisão deixa o Governo alemão numa situação incerta já que, sem Seehofer à frente do partido bávaro, não é certo se a CSU tenciona ou não manter-se na coligação governamental que une CDU, CSU e SPD. Esta segunda-feira deverá ser o dia de todas as decisões, mas o primeiro-ministro da Baviera já garantiu que a estabilidade do governo não está em risco.

A notícia da proposta de demissão de Seehofer foi avançada por fontes que estiveram dentro da reunião da CSU em Munique, aos media alemães. À revista Der Spiegel, fontes da CSU avançaram que houve membros do partido a tentar demover Seehofer da decisão. “Esta é uma decisão que não posso aceitar”, disse Alexander Dobrindt, líder da bancada da CSU, numa declaração que terá sido amplamente aplaudida.

A CSU suspendeu a reunião quando era quase meia-noite (hora de Lisboa). A conferência de imprensa que estava marcada foi cancelada. Os media alemães garantiam à saída da reunião que o partido da Baviera pretende reunir-se com a CDU esta segunda-feira – uma informação depois confirmada oficialmente.

Fim da crise política na Alemanha. Angela Merkel e o ministro alemão do Interior chegam a acordo

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“Vamos ter mais conversações com a CDU em Berlim, na esperança de que se consiga alcançar um acordo”, disse Seehofer aos jornalistas, às primeiras horas desta segunda-feira, após uma reunião que durou quase oito horas. “Depois, vamos ver o que acontece”, acrescentou.

A CDU, que também esteve reunida durante esta noite, decidiu suspender os trabalhos e voltar a reunir-se na manhã desta segunda-feira.

A decisão de Seehofer, conhecida no domingo, surge depois da CSU e a CDU terem estado reunidas no sábado para avaliar o acordo para as migrações alcançado na cimeira europeia de 28 e 29 de junho. Seehofer e Merkel saíram desse encontro mantendo entendimentos diferentes sobre qual deve ser a política migratória alemã daqui para a frente.

Segundo a Deutsche Welle, o ministro do Interior disse que a reunião “não teve qualquer efeito” no diferendo entre os dois, enquanto a chanceler afirmou que “a soma de tudo o que foi decidido” na cimeira corresponde a medidas tomadas pelo Governo alemão. “Essa é a minha conclusão pessoal. É claro que a CSU terá de decidir se isso é assim para eles.”

No centro da discordância entre Seehofer e Merkel está a política para as migrações que a Alemanha deve adotar. Seehofer tem criticado a política de “portas abertas” instaurada pela chanceler na sequência da crise dos refugiados de 2015 e apresentou um novo projeto que prevê a proibição de entrada no país de requerentes de asilo que já tenham sido registados noutro país europeu. A CSU enfrenta este ano eleições na Baviera, onde o partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha está em crescimento.

O que pode acontecer a Angela Merkel e ao governo?

Se a CDU e a CSU não chegarem a um acordo que prolongue o acordo de coligação, estará em risco a maioria parlamentar que governa o país. Angela Merkel pode ficar reduzida a liderar um governo minoritário, contando apenas com o apoio dos sociais-democratas do SPD — e há eleições regionais a partir do outono.

Para já, e a julgar pela reação das bolsas, não parece existir um grande receio de que o governo de Angela Merkel possa cair — seja porque Seehofer volta atrás na sua intenção de se demitir ou porque se demite mas alguém toma o seu lugar e a coligação sobrevive. Essa é a garantia deixada por Markus Soeder, primeiro-ministro do estado da Baviera.

“Existem muitos compromissos possíveis, incluindo alguns dos que já propusemos, para chegar a uma solução — e isto é muito importante: acreditamos que ainda é possível. Seja como for, uma coisa é certa: a estabilidade do governo não é uma questão em cima da mesa”, afirmou o responsável, membro do partido CSU.

“Ainda que o resultado desta crise política continue muito incerto, Merkel parece gozar de uma posição negocial ligeiramente dominante em relação aos seus adversários”, comenta Holger Schmieding, economista do Berenberg Bank, em nota distribuída pelos clientes do banco de investimento. O facto de Seehofer ter sido criticado dentro do próprio partido pela decisão de (possivelmente) sair — e acabar com a aliança que dura há 70 anos — leva o economista a acreditar que “se Seehofer sair, outros ministros podem permanecer no governo”.

Continua a ser um risco “sério”, porém, que Merkel perca a maioria parlamentar de que dispõe. “É uma incógnita saber se outro líder da CSU estaria disponível para fazer cedências e manter a coligação governativa, mesmo com Merkel a não se afastar da posição inicial”, afirma Holger Schmieding, lamentando que toda esta instabilidade “esteja a enfraquecer a posição de Merkel não só dentro do país como fora de portas — tudo isto vem complicar os trabalhos de reforma da União Europeia e da zona euro”.

Também os analistas do Commerzbank consideram que “continua a ser o cenário mais provável, na nossa opinião, que a CDU e a CSU cheguem a um compromisso de última hora, com receio do que podem ser as consequências de um rompimento”. “Contudo, o risco de um colapso no grupo parlamentar e, portanto, do governo federal, aumentou desde ontem”, avisa o banco de investimento.