Os 12 rapazes de uma equipa de futebol tailandesa e o seu treinador, que estavam desaparecidos há nove dias dentro de uma gruta na Tailândia, foram encontrados com vida na noite desta segunda-feira. O momento provocou reações de alívio e alegria entre as famílias e os que acompanhavam os esforços das equipas de resgate — mas o mais provável é que o adulto e as crianças, com idades entre os 11 e os 16 anos, tenham de esperar ainda alguns meses até poderem sair.

O momento em que os dois mergulhadores internacionais encontram a equipa com vida dentro da gruta de Tham Luang Nang Non foi captado em vídeo. “Quantos são vocês estão aqui? 13?”, pergunta um dos mergulhadores em inglês, recebendo uma resposta afirmativa. Um dos rapazes pergunta quando vão poder sair. “Hoje não. É preciso mergulhar”, explica o membro da equipa de resgate, assegurando depois que mais ajuda vem a caminho.

O mais provável, explicou depois o governador da região de Chiang Rai aos jornalistas, é que os rapazes e o treinador fiquem dentro da gruta durante algum tempo — possivelmente meses. “Acho que eles não virão para casa em breve”, resumiu o governador Narongsak Osottanakorn, de acordo com o The Guardian.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Corrida contra o tempo para resgatar com vida as 12 crianças desaparecidas numa gruta na Tailândia

O sistema de grutas de Tham Luang Nang Non estende-se por mais de 10 quilómetros, debaixo de uma montanha, e durante a época das chuvas (junho-outubro) grande parte das grutas e reentrâncias ficam inundadas. Foi assim, aliás, que o grupo ficou encurralado, depois de uma súbita subida do nível da água provocado por chuvas fortes.

As equipas de resgate continuam a retirar água das grutas, mas a chuva tem-se intensificado nos últimos dias, o que torna esse esforço quase inglório. Neste momento, há três hipóteses em cima da mesa: ensinar os rapazes a fazer mergulho (e a nadar, em primeiro lugar) para conseguirem sair, encontrar forma de criar uma nova entrada na gruta para os resgatar ou esperar que o nível da água desça — o que demorará meses. Os especialistas, contudo, alertam para as grandes dificuldades de executar uma das duas primeiras hipóteses.

Ensinar o grupo a fazer mergulho seria “extremamente perigoso”, explicou à BBC Edd Sorenson, coordenador regional da Organização Internacional de Resgate em Grutas Subterrâneas. “Numa zona de visibilidade zero, ter alguém que não está familiarizado com isto… Neste tipo de condições extremas, é muito fácil e até provável que entrassem em pânico e acabassem por provocar a sua própria morte e/ou a dos membros da equipa de resgate”, alertou o especialista.

[Veja no vídeo como os mergulhadores estão a enfrentar um dilema para salvar as crianças]

Recorde-se que os corredores inundados no sistema de grutas são lamacentos e a visibilidade dentro de água é quase nula. O almirante Naris Pratoomsuwan, da Marinha tailandesa, avisou também a Reuters de outro problema: “Desde o centro de operações [montado] na terceira câmara até ao local onde os encontraram demora-se cerca de três horas a chegar lá e depois são mais três horas para regressar” até à superfície.

A segunda opção seria conseguir encontrar ou até criar, escavando, uma outra entrada. Para isso, explicou Anmar Mirza, coordenador da Comissão Norte-Americana de Resgate em Grutas à BBC, é preciso estudar ao pormenor o sistema de grutas para que não haja erros: “É como encontrar agulha num palheiro”, resumiu. A isso junta-se o facto de terem de ser construídas estradas para levar o pesado equipamento de perfuração até aos novos locais.

A alternativa a estas duas opções é esperar. Para já, os mergulhadores levaram até ao grupo géis energéticos a fim de os alimentar. Sura Jeetwatee, médico que está a acompanhar o resgate, disse à Reuters que o grupo sobreviveu bebendo água que se acumulou nas rochas. “Felizmente o treinador teve a presença de espírito de os manter todos juntos, aninhados, para conservarem energia. Isso basicamente salvou-os”, resumiu à Agência France Press Ben Reymenants, mergulhador que está a auxiliar nas buscas. As equipas médicas que já chegaram ao local fizeram uma primeira avaliação e confirmaram que os rapazes estão bem.

Para além disso, as equipas no local estão a levar sistemas de iluminação para dentro da gruta e a tentar instalar uma linha telefónica para que as crianças possam falar com os pais. “Eles agora já têm luz e esperança, por isso penso que o melhor é esperar, desde que lhes levem mantimentos que os façam sentir-se confortáveis, aquecidos, alimentados e hidratados“, resumiu o especialista Sorenson à BBC.