“Benfica? Pelos vistos já assinei pelo Benfica”, ironizou Bruno Fernandes, médio do Sporting, à chegada da Seleção Nacional após a participação no Campeonato do Mundo na Rússia, no dia seguinte à derrota com o Uruguai por 2-1 nos oitavos de final. Nesse dia, a 1 de julho, curiosamente no 112.º aniversário do seu clube, as partes tinham desbloqueado a maioria das condições para que a rescisão de contrato fosse revogada; no entanto, a possível mudança para a Luz foi mesmo uma possibilidade.
Rebobinando o filme, o jogador contratado no Verão de 2017 pelos leões, naquela que foi a terceira contratação mais cara de sempre da SAD verde e branca, conseguiu ser um dos principais destaques da equipa, sendo mesmo nomeado na semana passada o melhor jogador do último Campeonato Nacional. Todavia, o ataque na Academia acabou por mudar por completo a perspetiva que tinha inicialmente de continuar no Sporting e o único vídeo partilhado no balneário da equipa após a invasão de cerca de 50 adeptos de cara tapada tinha mesmo o jogador a dizer “Foi um prazer estar com vocês”, naquela que foi interpretada por todos como uma despedida. Nesse dia, Bruno Fernandes esvaziou o cacifo e não pensava voltar.
Estávamos em maio. No primeiro dia de junho, Rui Patrício e Daniel Podence avançaram com as rescisões unilaterais de contrato, William Carvalho esteve perto de fazer o mesmo mas acabou por adiar essa intenção depois de um contacto dos dirigentes da SAD com o empresário, Pere Guardiola, para negociar o jogador. Os dias foram avançando e a maior preocupação no Sporting já nem era o médio campeão europeu de seleções em 2016 mas sim Bruno Fernandes e Gelson Martins. Até mais Bruno Fernandes, pelo interesse que os responsáveis leoninos sabiam existir do outro lado da Segunda Circular.
A Seleção Nacional fez particulares com a Tunísia, a Bélgica e a Argélia, seguiu para a localidade russa de Kratovo num sábado e os três internacionais portugueses do Sporting rescindiram na segunda-feira, dia 11. Ato contínuo, Luís Filipe Vieira, durante uma Assembleia Geral do Benfica na madrugada seguinte em que viu o orçamento aprovado com cerca de 80% num universo de quase mil votantes, admitiu a possibilidade de “atacar” os jogadores que tinham revogado o vínculo com o rival. “Vou fazer uma pequena loucura que se calhar não devia. Mas vou. Há 25 anos brincaram connosco, mas não brincam mais”, atirou, recordando o Verão Quente de 1993, quando os leões desviaram da Luz por salários em atraso Paulo Sousa e Pacheco.
Os números em cima da mesa eram tentadores. Até demasiado tentadores. Não só pelo prémio de assinatura altíssimo que foi apresentado mas também pelo salário que estaria a ser equacionado. Mas houve dois momentos que acabaram por congelar uma eventual troca: o peso que teria ao tomar uma iniciativa do género e uma conversa no Mundial que foi mantida por intermediários da nova SAD do Sporting, já depois da destituição de Bruno de Carvalho da presidência em Assembleia Geral. Para consumar a continuidade em Alvalade surgiram números igualmente tentadores. Até demasiado tentadores. E acabou por confirmar-se aquilo que há algum tempo já se percebia – Patrício já se tinha comprometido com o Wolverhampton, admitindo um acordo entre clubes para resolver o diferente da rescisão; William Carvalho admitia deixar cair a revogação do seu vínculo mas apenas se fosse vendido neste mercado; Gelson Martins colocava como única hipótese de ficar nos leões não receber nenhuma proposta de uma liga estrangeira que fosse do seu agrado; Bruno Fernandes revelou que, com as devidas condições indispensáveis cumpridas, gostaria de fazer mais um ano no Sporting e depois, se a oportunidade surgisse, ser vendido.
Ao saber de tudo o que estava em causa e como forma de recompensar o jogador pela temporada que tinha feito, os novos administradores da SAD “investiram” ao máximo na permanência de Bruno Fernandes e alcançaram mesmo esse objetivo de segurar o jogador, mediante uma proposta a rondar o dobro do que recebia: os cerca de 900 mil euros por época que terá recebido no primeiro ano em Alvalade deverão transformar-se em quase dois milhões de euros, num encargo global de quatro milhões para a sociedade verde e branca. E tudo deverá ser conhecido esta terça-feira, em Alvalade.
O rapaz que sonha muito antes dos jogos e reclama a dormir que lhe passem a bola
A SAD do Sporting marcou para as 12 horas um “evento da SAD que terá lugar no relvado do estádio José Alvalade”. Tudo aponta para que o médio seja alvo de uma espécie de reapresentação pelos leões, mas as novidades, amanhã ou durante a semana, não deverão ficar por aqui: como o Observador tinha escrito na semana passada, além de Nani e André Moreira, Vietto, avançado do Atl. Madrid, é uma das surpresas que está a ser tentada pelos responsáveis verde e brancos. Há ainda mais um avançado além de Paco Alcácer (que parece ser um objetivo mais complicado) que não caiu ainda da lista de possibilidades: Slimani.
Nani e André Moreira a chegar, William e Gelson a partir: Espanha é o mercado do Sporting
No polo contrário, e depois de Rui Patrício ter assinado pelo Wolverhampton e Daniel Podence ter sido confirmado nos gregos do Olympiacos, Gelson Martins (Atl. Madrid) e William Carvalho (Betis) estarão a caminho do Campeonato espanhol, ao passo que Rúben Ribeiro tem em mãos uma proposta do Nantes do português Miguel Cardoso. Bas Dost, Battaglia e Rafael Leão, que tem sido sondado por clubes ingleses, espanhóis e alemães, são os outros três jogadores que rescindiram.
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— Sporting CP ???? (@SportingCP) July 9, 2018